O
vídeo compartilhado por apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro
(sem partido), convidando a atos pelo País deu origem a mais recente crise entre
o capitão da reserva do Exército, o Poder Legislativo e o Supremo Tribunal
Federal (STF), a mais alta corte do Poder Judiciário. Atacados no conteúdo, os
dois Poderes serão alvos de protestos no dia 15 de março em todo o País.
A
tensão escalou até o estopim não pela programação do ato, mas principalmente
por Bolsonaro ter sido um dos que propagou a convocação via WhatsApp.
"Vamos
mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos, sim,
capazes e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota,
capaz, justo e incorruptível", narra voz ao fundo, em vídeo repleto de
imagens do presidente.
A
revelação do compartilhamento foi assinada pela jornalista Vera Magalhães e
veiculada no BR Político, do Estadão. Tão logo publicada, a matéria não tardou
a render xingamentos a profissional pela militância bolsonarista nas redes
sociais. E também pelo próprio chefe do Executivo Federal, que endureceu o tom
durante live semanal - numa rotina que tem se estendido a jornalistas.
Mas,
por que protestar em favor de Bolsonaro? E por que o Congresso entrará na mira
dos atos? O vídeo e, posteriormente, a manifestação são resultado de um
comentário do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
General Heleno, que qualificou parlamentares de chantagistas durante
transmissão ao vivo. O dispositivo confere ao Congresso mais poderes sobre o
gasto público federal.
À
época da votação que aprovou o texto na Câmara, 26 de março, o roteiro do
episódio do compartilhamento ainda seria composto pela justificativa de
Bolsonaro, instantes depois revelada mentirosa. Ele afirmou que, diferente do
que Vera Magalhães noticiou, o compartilhamento do vídeo aconteceu em 2015.
Período em que manifestantes foram às ruas pela deposição da então presidente
Dilma Rousseff (PT).
Porém,
grande parte das imagens do vídeo mostra Bolsonaro convalescendo na Santa Casa
de Misericórdia em Juiz de Fora, Minas Gerais. Lá, onde iniciou recuperação
após a facada sofrido durante a corrida presidencial. Se foi vítima do atentado
em 2018, o vídeo não teria como ser de cinco anos atrás.
A
soma do mais recente movimento do presidente às atitudes de confrontação
adotadas desde que assumiu o posto fazem, até mesmo, jornais citarem
abertamente o impedimento de Bolsonaro. Foi o que fez a Folha de S. Paulo.
"Talvez só o temor de um processo de impeachment possa deter a perigosa
aventura", se posicionou no último dia 26.
Juristas
se dividiram sobre ter havido ou não crime de responsabilidade no
compartilhamento do vídeo. A discussão é se o presidente atentou contra outros
poderes, já que estava usando WhatsApp, um aplicativo particular de troca de
mensagens. Outro ponto de interrogação é se o presidente caminha para ruptura
com a institucionalidade democrática, isto é, se acena com o desejo de fechar o
Congresso e a Suprema Corte.
Para
o docente e cientista político pela Universidade de Mackenzie, Rodrigo Prando,
não é para tanto. Ele explica que as condições que resultam no rompimento, na
maioria das vezes, são de natureza objetiva e subjetiva.
"Deve
se ter crise econômica muito forte, uma crise institucional em que os poderes
da República não estejam funcionando, né? Enfim, pode ter uma escalada da
violência na sociedade. Neste momento não assistimos estas condições
objetivas", ele elenca.
E
diz: "Nem há uma crise econômica severa nem há uma escalada da violência.
E os poderes da República, Executivo, Legislativo e Judiciário, com todos os
problemas ainda estão funcionando. Eles têm servido de contrapeso e de freios,
especialmente, em relação ao Poder Executivo".
Sobre
as condições subjetivas, o professor diz não serem suficientes para um avanço
autoritário. Mesmo com a ineficácia, Prando acredita haver no atual governo
"indivíduos e grupos que desejariam, sim, uma ruptura institucional."
Magno
Karl, cientista político, entende que por mais fora da normalidade que seja o
movimento presidencial, Bolsonaro apela às ruas por estar ciente da própria
fragilidade nas casas legislativas. Ele remonta o início do desgaste, o
orçamento impositivo, para dizer que a própria base de Bolsonaro na Câmara não
sabia no que estava voltando.
"São
movimentos de natureza autoritária, fora da normalidade do que é desejável num
ambiente democrático. Mas não chamaria de ambiente golpista, mas sim de
tentativa autoritária e fora da normalidade", define Karl.
Prando
interpreta que até aqui as instituições, sobretudo as lideradas por Rodrigo
Maia (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado), ainda não deram resposta à altura dos
arroubos do presidente. Sem citar Bolsonaro, Maia escreveu em rede social que
"criar tensão institucional não ajuda o País a evoluir. Somos nós,
autoridades, que temos de dar o exemplo de respeito às instituições e à ordem
constitucional".
"A
grande questão é que por enquanto ninguém conseguiu passar do discurso, para
uma ação mais concreta que venha a colocar limites no presidente da
República", pontua Prando.
Com
informações portal O Povo Online
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