“Quer
acabar com a resistência e o poder de organização e criticidade de um
povo"?, "destrua a educação e a cultura". A frase que escolhi
para falar sobre a prática de destruição de tudo o que é ligado à cultura no
país foi dita pelo filósofo e professor do departamento de Ciências Sociais da
Universidade Regional do Cariri (URCA), Carlos Alberto Tolovi, durante um
bate-papo político comigo no programa Esperança do Sertão da Rádio Comunitária
Altaneira FM (2016).
O
desmonte da cultura, a bem verdade, não começou com Bolsonaro (sem partido),
mas está sendo aprofundada com ele. A extinção da Secretaria de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial (Seppir) não foi no (des)governo Bolsonaro, mas as
consequências danosas a população negra estão sendo ampliadas com ele. Basta
ver o que ocorre com a Fundação Palmares, onde o novo presidente nega a
existência do racismo no Brasil, contrariando a História.
De
Michel Temer que assumiu a presidência a partir de um golpe
jurídico-parlamentar-midiático a Jair Bolsonaro a escalada de perca de
direitos, principalmente da população mais vulnerável desse pais - negros,
mulheres (negras sobretudo), lgbts, indígenas -, só tem crescido. A violência
física e psicológica tem aparecido com mais frequência e aqueles/as que as
praticam fazem questão de demonstrá-la. O Brasil dos últimos três anos piorou
consideravelmente pois quem mais deveria ser e dar exemplo de criação de
políticas públicas para a construção da equidade, faz justamente o contrário.
Se viram representado/a nele. E, portanto, se o representante do executivo
federal e seus ministros praticam, eles também podem. Essa é a música que vem
sendo tocada no Brasil.
A
intenção do governo federal é acabar com a participação social e com o poder de
organização e mobilização social e para isso tenta destruir tudo que contribui
para a análise crítica da sociedade, para o fortalecimento da identidade e da
liberdade. Foi assim com a extinção do Ministério da Cultura (MinC) em 2016 e
agora rebaixado a condição de secretaria. Mas só rebaixar não é o suficiente, é
preciso também proibir filmes e demais formas de manifestação artísticas que
promovam discussões sobre homofobia e machismo, por exemplo.
Não
se pode esquecer que a cultura é símbolo do processo de redemocratização do
pais, pois ganhou status de ministério em 1985.
A
aversão desse governo a população negra salta aos olhos. Nenhum negro ou negra
para os ministérios. Mas só a falta de representatividade não basta, é preciso
de igual modo, alimentar ainda mais o preconceito, a discriminação e o racismo.
Quem não se lembra quando em 2017 durante uma palestra no Clube Hebraica no Rio
de Janeiro, Bolsonaro proferiu a frase “fui num quilombo. O afrodescendente
mais leve lá pesava sete arrobas. Nem para procriador ele serve mais”, ou “que
seus filhos não ’correm risco’ de namorar negras ou virar gays porque foram
’muito bem educados’’”, ainda em 2011 e já no cargo de presidente quando disse
que um deputado negro por demorar a nascer “deu uma queimadinha”?
O
que elenquei aqui é apenas uma parte da política da segregação, mas o pouco
citado só vem a reforçar a política elitista, racista e machista desse
governo. Em um outro momento falarei da
educação.
Mas
volto a frase em que comecei esse texto. “Quer acabar com a resistência e o
poder de organização e criticidade de um povo"?, "destrua a educação
e a cultura”. Certamente está sendo válida para algumas entidades culturais.
Não fiz um levantamento de quantas temos na região do cariri cearense, mas é
possível perceber a omissão de grande parte dela que em nenhum momento teceu
crítica a essa barbárie que o pais está vivendo. O fato de ter votado em alguém
não impede de se posicionar contra ações danosas a sociedade. Muito pelo
contrário. É salutar para a democracia. Mas o que estou testemunhando é um
silêncio estarrecedor. Algumas ações individuais e pontuais vem acontecendo,
mas não o suficiente.
Que
os movimentos negro, indígena, LGBT e de mulheres não se deixem contaminar por
esse doentio silêncio. E que a residência continue sendo aflorada.
Publicado
originalmente no Blog Negro Nicolau
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