A cada
quatro anos, um dia é acrescentado ao final do mês de fevereiro. Ao invés de
terminar no 28º, então, ele chega ao dia 29 nos chamados anos bissextos. Mais
do que uma simples mudança no calendário, a medida evita que, em algumas
décadas no futuro, a data registrada fique distinta da realidade da natureza a
ponto de haver impactos na produção agrícola e na própria percepção de tempo
para o ser humano.
Isso
tudo porque não se chega a um número inteiro quando se tenta calcular a
quantidade de dias — quantas vezes o sol retorna à mesma posição no céu — no
período de um ano — período que leva para o retorno da mesma estação climática
em determinado local. Afinal, um ano tem aproximadamente 365 dias e seis horas.
"Quando você tenta colocar um (fenômeno) dentro do outro; ou sobra, ou
falta (tempo)", afirma o tenente Romário Fernandes, professor de
Astronomia do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros.
"Ou
vão sobrar seis horas — fecha os 365 dias, mas ainda vai faltar um pouquinho de
tempo para chegar à sincronia da mesma estação — ou vai passar, e você vai
colocar um retorno do sol a mais, sendo que a estação já reiniciou muitas horas
antes", complementa. Para compensar as horas, os minutos e os segundos de
diferença, foram instituídos os anos bissextos a cada quatro anos.
A
constatação de que o calendário desatualizava-se levou ao aumento de um dia no
ano, explica o coordenador do grupo de Astronomia da Seara da Ciência
(GAS-Interestelar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ednardo Rodrigues.
"As estações, com o tempo, não correspondiam ao que o calendário previa, e
os astrônomos de antigamente observaram que deveria ter uma correção",
continua.
Ignorar
as horas que "sobram" ao final de um ano talvez não causasse
problemas perceptíveis ao longo de uma década, aponta Fernandes. Mas, com o
passar do tempo, o que se prevê no calendário poderia não corresponder ao que
de fato acontece. "Ao longo das décadas, esse tempinho que você está
ignorando vai, gradualmente, jogando a data mais para trás, em relação ao dia
em que, de fato, as estações começam", aponta o tenente.
"Tudo
ia acabar com o tempo sofrendo um baque, porque as referências reais da
natureza estariam em descompasso com a nossa forma de contar o tempo",
complementa. Na prática, um aspecto que seria afetado pela falta de sincronia é
a produção agrícola. "Não adiantaria marcar uma época para fazer colheita,
por exemplo", afirma Rodrigues.
Mesmo
sem as quatro estações do ano bem definidas, o calendário climático do Ceará
também iria sofrer os impactos causados pelas horas ignoradas no calendário. A
quadra chuvosa, que vai de fevereiro a maio, poderia acontecer em meses
distintos. "No caso do Nordeste, temos a estação chuvosa mais intensa no
primeiro bimestre do ano. Se não fosse essa correção, ia ter ano que ia ser
mais intensa no segundo bimestre. Ia ser algo bem mais irregular do que já
é", afirma Rodrigues.
Com
informações portal O Povo Online
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