O registro
de chuvas dentro da média no Ceará, ainda que reacenda esperança de melhora nas
regiões com abastecimento hídrico mais crítico, não se reflete,
necessariamente, em recarga nos grandes reservatórios do Estado.
Além da
ocorrência de chuvas, a equação envolve outros fatores determinantes. Intensidade
e continuidade das precipitações devem ocorrer nos locais certos para que haja
escoamento da água em direção aos reservatórios estratégicos. Mas onde são
esses locais? Nos principais afluentes, os rios e riachos que formam a bacia de
contribuição dos grandes açudes: Castanhão, na bacia do Médio Jaguaribe, Orós,
no alto Jaguaribe, e Banabuiú, na bacia de mesmo nome.
Atualmente,
o sistema hídrico do Estado soma 14,68% da capacidade de armazenamento. Nos
primeiros dias de fevereiro, foram registradas precipitações que correspondem a
61,3% da média para o mês de fevereiro. A configuração do abastecimento do
sistema hídrico no Estado segue como nos anos anteriores. Litoral norte em
situação mais "confortável" e centro-Sul em criticidade. As bacias do
Coreaú (76,07%), Litoral (69,10%), Acaraú (52,60%) e Serra da Ibiapaba (61,94%)
estão em melhor situação. Diferente das bacias do Banabuiú (6,27%), Sertões de
Crateús (5,63%), Médio Jaguaribe (2,55%) e Alto Jaguaribe (5,44%), que
enfrentam situação crítica de reserva hídrica.
As
regiões de contribuição para os maiores reservatórios são localizadas,
principalmente, nas bacias do Alto e Médio Jaguaribe e do Salgado. Funciona
como um efeito cascata. Centenas de rios convergem até açudes de diversos portes,
de onde as águas continuam o caminho até escoarem nos rios principais, como os
rios Salgado, Jaguaribe e Banabuiú. Estes, por sua vez, contribuem para os
açudes de grande porte.
"Para
chegar no Castanhão, a água tem que encher centenas de açudes de diversos
portes. Seja o Orós, sejam pequenos espelhos d'água", explica, Elano Joca,
diretor de planejamento da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
Ele
frisa o impacto da variabilidade de chuvas característica do semiárido.
"Apesar de chuvas dentro da média, a variabilidade espacial e temporal é
muito alta. Chove mais no norte do que no sul. Chove de fevereiro a maio com
picos em março e abril, mas se eles ficam abaixo da média, compromete a quadra
chuvosa", explica.
A
importância determinante de todos esses fatores justifica porque os
reservatórios ainda não apresentam recarga, apesar de as precipitações da
primeira metade de fevereiro serem consideradas distribuídas entre as regiões
do Estado. Conforme Raul Fritz, meteorologista da Fundação Cearense de
Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em fevereiro, até, agora, choveu
56% do esperado para o mês no Alto Jaguaribe, 60,5% no Médio Jaguaribe e 54,3%
no Salgado.
"As
chuvas dos primeiros dias podem ser consideradas razoavelmente bem
distribuídas. Claro que temos regiões menos favorecidas por uma característica
do semiárido. Médias diferentes com relação ao litoral e regiões
serranas", explica. "O prognóstico de clima da Funceme de fevereiro,
março e abril indicou maior probabilidade (45%) chuvas acima da média no Estado
todo. Com maior concentração das chuvas entre o centro e o norte em relação ao
centro e o sul", destaca Fritz.
"A
chuva na média não é garantia de aporte aos reservatórios. Tem que chover na
bacia com intensidade e continuidade. Havendo isso, vai gerar escoamento e vai
enchendo os açudes. Às vezes, há chuvas intensas que geram escoamento, mas sem
continuidade", acrescenta Elano Joca.
Com
informações portal O Povo Online
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