Maia discutirá com lideres as pautas que devem ser tocadas no início de 2020 (Foto: Cleia Viana) |
Após
um mês e meio de recesso, os líderes partidários da Câmara vão se reunir pela
primeira vez no ano, nesta terça-feira, para discutir as pautas que devem ser
tocadas no início de 2020. Nem tudo o que tem sido defendido pelo governo, no
entanto, deve ser levado adiante por agora. Os principais motivos são a
proximidade das eleições municipais, que afeta a disposição dos parlamentares
em tocar em temas sensíveis, e o fato de que algumas propostas ainda não estão
nem prontas.
Embora,
em geral, os deputados acreditem que a contribuição do governo à reforma
tributária e o texto da administrativa serão enviados no início do semestre,
muitos duvidam da viabilidade da primeira e questionam a influência do governo
na segunda. Há um entendimento, na Casa, de que a simplificação de tributos
será um assunto de destaque, mesmo que não seja votado no primeiro semestre, mas
é igualmente consenso que a discussão vai avançar com ou sem a colaboração da
equipe econômica.
Parlamentares
alegam que o único papel do governo, até agora, foi defender a criação de um
novo imposto sobre transações financeiras, nos moldes da extinta Contribuição
Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) — possibilidade que o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já descartou dezenas de vezes.
“Não tem nada de concreto. E, até agora, nenhuma das propostas em estudo
combate a regressividade do sistema”, critica o líder da oposição na Câmara,
Alessandro Molon (PSB-RJ).
Ou
seja, nenhuma das Propostas de Emenda à Constituição (PECs) priorizadas pelos
deputados de centro e de direita muda a dinâmica atual, pela qual os mais
pobres pagam, proporcionalmente, mais impostos do que os mais ricos. Como há
duas principais propostas tramitando, uma no Senado e uma na Câmara, o foco,
agora, será unificá-las, para depois discuti-las. “Estou muito cético quanto à
tributária, mas acredito que o Rodrigo (Maia) vai fazer muita força para que
ela ande. Ele tem sido muito assertivo nesse sentido”, observa o deputado
Marcelo Ramos, vice-líder do PL na Câmara.
Ainda
que defenda uma proposta diferente das que têm avançado, a oposição também
entende a importância do tema. “Será o assunto principal no semestre,
certamente. Mas a gente vai lutar para emplacar a nossa, apresentada no ano
passado”, diz Molon. Ele se refere a um projeto, assinado por partidos de
esquerda, que propõe, entre outras iniciativas, tributar grandes fortunas e
heranças e retirar subsídios.
Já
a reforma administrativa não conta com tanto engajamento de nenhum dos lados.
“Se avançar, será depois da tributária”, acredita Molon. O problema, nesse
caso, é mais político do que técnico. Em ano de eleição municipal, dificilmente
os deputados vão se dispor a defender corte de direitos do funcionalismo
público, como redução de salários de entrada dos servidores, ideia defendida
pelo governo. Nem esquerda nem direita consideram que o momento é o melhor para
tratar do assunto.
Para
Ramos, a proposta, mesmo que seja enviada no início do semestre, como promete o
governo, não passa da fase de comissões. “Fica pra depois da eleição”,
acredita. O deputado Ivan Valente, líder do PSol na Câmara, diz que, além de o
governo já ter causado “muito desgaste” com a reforma da Previdência, os
deputados estarão mais voltados para os municípios. “Será um ano mais parado”,
diz.
Articulação
A
reforma administrativa não é o único tema que pode ser prejudicado pelas
eleições de 2020. “As campanhas para prefeitos e vereadores têm chance de
atrapalhar votações, por diminuir o quórum”, observou o líder do PP na Câmara,
deputado Arthur Lira (AL), um dos principais articuladores do chamado Centrão (grupo informal que reúne partidos como DEM, Republicanos, MDB, PL, PP e
Solidariedade), que tem grande influência na definição da agenda do Congresso.
Mas,
segundo Lira, “há vários temas, além das reformas, que a gente pode tratar
agora, no começo do ano”. O estoque de projetos prontos para votação,
considerados igualmente importantes pelo Centrão, não deve ser esquecido no
primeiro semestre. O fim dos supersalários é um deles, aponta Lira. Os líderes
dos principais partidos esperam que o projeto que trata do assunto seja votado
em regime de urgência. A ideia é acabar com as remunerações acima do teto
constitucional do serviço público, hoje fixado em R$ 39,2 mil. A proposta conta
com apoio de partidos de esquerda, centro e direita.
O
Centrão também aposta em um projeto de lei complementar que busca aumentar de
seis meses para seis anos a quarentena para que juízes e procuradores deixem o
Judiciário e possam concorrer a cargos eletivos na política, como de deputados,
senadores, governadores e presidente da República. Maia tem avaliado a
possibilidade de votar a urgência do texto, que, se for aprovado, impedirá o
atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, de se candidatar à
Presidência em 2022.
Economia
Maia
também aponta como prioridade para o início do ano o projeto de lei
complementar (PLP) 112/2019, que estabelece mandato fixo para dirigentes do
Banco Central. A matéria está em estágio avançado, pronto para ser votado no
plenário. Segundo o relator, Celso Maldaner (MDB-SC), o presidente da Câmara se
comprometeu a pautá-la logo que o recesso acabar. “Não é nem no primeiro
semestre, é já em fevereiro. Ele garantiu que será prioridade”, diz o deputado,
que espera que os líderes batam o martelo sobre o assunto na reunião de
terça-feira.
Como
a proposta foi feita “com diálogo entre governo, Banco Central e
parlamentares”, o relator não acredita que algum ponto mude durante a votação
no plenário. “O relatório está à altura do que todos esperam”, reforça
Maldaner. Após se encontrar com o presidente do BC, Roberto Campos Neto, Maia
anunciou, em 22 de fevereiro, que vai buscar construir maioria para votar a
proposta de autonomia e a da criação de um novo marco legal para o mercado de
câmbio no Brasil — projeto de lei 5.387/2019 — no início do ano.
Do
ponto de vista econômico, a PEC da regra de ouro, do deputado Pedro Paulo
(DEM-RJ), também é vista como importante pelo Centrão. Alguns deputados
argumentam que ela pode entrar como substituta da reforma administrativa, por
também tratar de corte de gastos e mirar no serviço público. “Minha leitura é
que, como (o governo) não vai conseguir fazer andar a administrativa e ela só
vai ser para servidores que entrarem a partir dela, faz essa, que cria travas
para não ter aumento nos gastos”, avalia Ramos, do PL.
Para
depois
A
eleição municipal foi um dos motivos alegados por Maia para afastar a
possibilidade de votação do projeto que privatiza a Eletrobras no primeiro
semestre. Segundo ele, as eleições municipais e a possível indisposição do
Senado em votar o assunto podem prejudicar a discussão. Na última quinta-feira,
Maia afirmou que, “se os dois problemas não tiverem resolução rapidamente,
vamos montar o cronograma no fim do ano”.
Ainda
assim, o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), acredita que
será possível emplacar, ainda neste ano, a privatização da companhia — que,
segundo, ele, é “uma na esteira de muitas que virão pela frente”. Na visão
dele, esse é o momento de focar em pautas liberais. “O Parlamento desta
legislatura já provou estar inclinado a essa agenda, com a aprovação da reforma
da Previdência”, lembra.
Com
informações portal Correio Braziliense
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