7 de janeiro de 2020

Quem tem medo de jornalistas e de informação? por Demitri Túlio


Os "inimigos da democracia" passarão e o jornalismo "passarinho". Brinco com a inspiração de Mário Quintana e as palavras de Paulo Jerônimo de Sousa, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), para tentar ser amoroso nesse tempo tão indelicado e desleal contra a liberdade de imprensa.

E não é novidade o jornalismo e jornalista entrarem na "linha de tiro" dos que temem a perenidade da informação. Mas a história já destroçou ditadores, já desmascarou torturadores e, como escreveu Paulo Jerônimo, "engoliu" personagens passageiros.

Qualquer pessoa, do presidente da República ao mais anônimo cidadão, tem o direito de questionar uma informação, de duvidar da linha dessa ou daquela empresa de comunicação, mas desejar a "extinção de jornalistas" é atestar a vontade de reinar pelo autoritarismo.

Imagine Fortaleza sem os 92 anos do O POVO e o espírito de muitos de seus jornalistas? Sim, nem sempre fomos tão livres e há também pedidos de desculpas. Mas nunca deixamos de insistir com a liberdade e a pauta dos interesses coletivos.

E aqui poderia relacionar uma penca de coberturas que não teria havido se não existissem jornalistas do O POVO a fim de entrar no bom combate pelo interesse público da aldeia.

O agente da Polícia Civil João Alves de França, em 1997, falou primeiro a um jornalista e a um delegado sobre a existência de uma quadrilha de policiais - de alto e baixo escalão - cometendo crimes em Fortaleza.

E o que seria da história do piloto da Força Aérea Brasileira, Alexandro Bosco Prado - morto em um acidente com um avião Xavante, em 2000, se três repórteres do O POVO tivessem se conformado com informações "oficiais" da Base Aérea de Fortaleza?

Talvez os relatórios de acidentes de voos, até hoje, apontassem para erro humano. E a insistência dos jornalistas deu na descoberta que a asa esquerda do Xavante sacou em pleno voo no mar do Pecém.

Não imagino, em 2011, produtores de conteúdos falsos desconfiados com o mal cheiro que vinha do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Só jornalistas escavariam até aprofundar no que ficou conhecido como Escândalo dos Banheiros. Mais de R$ 2 milhões desviados do Fundo Estadual de Combate à Pobreza (Fecop) e o envolvimento de um presidente do TCE e de um deputado estadual.

Há um rosário de narrativas jornalísticas contadas ou reveladas pelo O POVO que minha memória, de 24 anos de batente, não dá conta... Da construção do Orós aos campos de concentração de "flagelados da seca". Dos desmatamentos insustentáveis ao protagonismo mortal do Aedes Aegypti... Da tortura e morte do confeiteiro Ivanildo na Superintendência da Polícia Federal ao tempo das facções criminosas... Do Caso Campelo que revelou um torturador no governo FHC...       

"Enquanto a informação for uma necessidade vital", diz Paulo Jerônimo, jornalistas nunca serão uma "espécie em extinção". Podem até desejar o desaparecimento ou quererem calar feito Herzog, mas a história engolirá quem tem medo de uma imprensa livre.

Publicado originalmente no portal O Povo Online


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