17 de janeiro de 2020

O jornalismo está vivo, senhor presidente por Cid Benjamin


Ao longo de sua vida política, Jair Bolsonaro já deu repetidas demonstrações de que não aprecia o jornalismo independente. Agora na Presidência, volta e meia acena com represálias a veículos que publicaram matérias que não foram de seu agrado. E, recentemente, foi mais longe ao caracterizar os jornalistas como uma espécie em extinção, que, como tal, deveriam ficar aos cuidados do Ibama.

Foi uma tentativa canhestra de fazer graça, mas a afirmação de mau gosto revela a forma de pensar do presidente.

Bolsonaro já demonstrou ojeriza ao jornalismo independente. Mas, queira ou não, está num país democrático. E a democracia pressupõe a liberdade de expressão.

A imprensa tem assegurada pela Constituição o direito de publicar reportagens, que informam seus leitores, e artigos, que os ajudam a formar opinião. Gostem ou não os governantes do que é escrito. No caso de ser veiculada alguma acusação que fira a honra de alguém ou uma informação inverídica, existe a possibilidade de recurso à Justiça.

Assim funcionam as coisas.

Numa sociedade moderna as informações serão sempre essenciais, não importa o veículo pelo qual sejam divulgadas.

Quando do advento da TV, alguns vaticinaram o fim do rádio.

Quando surgiu a internet, houve a previsão de que os impressos morreriam.

Já houve até quem dissesse que os livros "cheios de letras" desapareceriam.

Nada disso aconteceu.

E o que nos mostra a História? Que os meios pelos quais são veiculadas as notícias e as opiniões são múltiplos, variam no tempo, e que, ao longo da História, somam-se outros, mais modernos, aos já existentes. Mas, independentemente dos meios pelas quais são veiculadas, as informações continuam a ser um produto indispensável numa sociedade moderna. E, para levá-las aos cidadãos, os jornalistas são fundamentais.

Pode ser que, ao prever a extinção do jornalismo, Bolsonaro tenha expressado muito mais um desejo oculto do que feito uma previsão. O fato é que se equivocou redondamente.

E algo é seguro: está mais perto o desaparecimento de políticos inimigos da democracia do que a extinção da imprensa ou dos jornalistas.

Independentemente dos desejos - ocultos ou abertos - de quem quer que seja.

Publicado originalmente no portal O Povo Online


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