Parlamentares de primeira viagem que não se abriram ao diálogo e à negociação ficaram à margem (Foto: Sérgio Amaral) |
Grande
parte dos deputados e senadores que estrearam na vida pública após as eleições
de 2018 rechaçou a chamada “velha política”. Mas encontrou no Congresso um
cenário diferente do que imaginava. Quem carregou o discurso, na tentativa de
polarizar o debate, acabou fora do jogo, sem cargos e influência. Os
interessados em participar das discussões mudaram o tom e abriram caminho para
diálogos e negociações. Segundo especialistas, a mudança de comportamento foi
eficaz para alguns novatos, mas matou a “nova política”.
Embora
o Legislativo tenha se empenhado na agenda reformista e na análise de assuntos
polêmicos, como a aprovação do projeto de lei de abuso de autoridade para
juízes e promotores, a maioria das atividades teve participação muito baixa dos
novatos. Das 205 proposições com tramitação concluída em 2019, apenas sete
foram de iniciativa dos parlamentares em primeiro mandato, segundo levantamento
elaborado pela Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais.
“Pouco
mais de 3% das questões analisadas pela Câmara e pelo Senado foram discutidas
por iniciativa dos parlamentares de primeira viagem”, aponta o cientista
político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz. Ele afirma que a
renovação, tratada como prioridade pelos eleitores, transpôs a qualidade e a
qualificação dos parlamentares. Muitos deles, aponta o especialista, nunca
haviam ocupado cargos públicos e, por isso, ficaram perdidos nos primeiros 12
meses de mandato. O desafio da nova legislatura, pondera, é fortalecer o
entendimento de que o Legislativo é composto por duas “casas de diálogo”.
A
inexperiência sobre as atividades legislativas, lembra Enrico, levou o deputado
Kim Kataguiri (DEM-SP), por exemplo, a criticar reuniões entre a direita e a
esquerda para discutir um tema comum (como a agenda de reformas proposta pelo
Palácio do Planalto). “Mas foi importante ele entender, lá dentro, que isso é
natural. Ao abrir o diálogo, o parlamentar teve um crescimento na
produtividade, e mesmo como figura pública. Isso não é velha política, é
política. Não tem novidade”, afirma.
Para
o cientista político Creomar de Souza, da Dharma Consultoria, deputados e
senadores estreantes se depararam com situações para as quais não estavam
preparados. “Mudanças na estrutura de alguns partidos, fogo amigo na própria
bancada, tentativa de articulações por cargos, barganha... Isso faz parte do
cenário”, afirma. Muitos dos estreantes, diz Souza, demoraram a entender que um
tema publicado nas redes sociais com anuência de milhares de seguidores não
significa apoio garantido no plenário.
O
especialista destaca a atuação de Tábata Amaral (PDT-SP), Felipe Rigoni
(PSB-ES) e Vinícius Poit (Novo-SP), que, nas palavras dele, têm visibilidade na
internet e conquistaram espaço no parlamento. “Isso não é demérito aos demais.
O fato é que muitos ainda não conseguiram entender como se consolidar nesse
cargo”, opina.
O
cientista político Ivan Ervolino, criador da startup de monitoramento
legislativo SigaLei, comenta que, apesar de a reformulação nas cadeiras do
Congresso ter sido uma das maiores desde a redemocratização — com 46 novos
nomes no Senado e 243, na Câmara —, os parlamentares de primeiro mandato não
conseguiram implementar uma política diferente, pois “a lógica de funcionamento
das Casa e dos próprios grupos que lá estão, organizados há décadas, não é algo
simples de se alterar”.
“O
primeiro ano foi um momento para os novos deputados e senadores entenderem a
dinâmica interna do Parlamento, conhecer as regras e identificar aliados. É
cedo para dizer se, de fato, houve mudança na forma de fazer política. Afinal,
muitos desses nomes já orbitam grupos bem consolidados. Portanto, de certa
forma, eles vão carregar o histórico de agendas desses partidos”, explica.
Em
2020, analisa Ervolino, os indícios de mudança serão mais perceptíveis. Segundo
ele, as eleições municipais podem ser importantes para que deputados e
senadores coloquem em prática uma maneira nova de fazer política. “Mais
familiarizados com a dinâmica do Congresso, os novatos vão correr o Brasil e
falar com o eleitorado. Assim, podem conseguir mais legitimidade para as
agendas que pretendem colocar em debate”, comenta.
Com
informações portal Correio Braziliense
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