Páginas

21 de janeiro de 2020

Falhas no Enem colocam à prova cortes e nova gestão


Após identificação de erros na correção da prova de 5.974 participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que os testes de todos os concorrentes foram verificados e os erros corrigidos. Conforme especialistas em avaliação educacional, o problema levanta questionamentos acerca da gestão da pasta e quanto à credibilidade do exame.

De acordo com o Alexandre Lopes, presidente do Inep, "todas as inconsistências eram de associação de gabarito", devido a uma associação equivocada entre a cor do Caderno de Questões e o gabarito correspondente. 

Segundo o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, 95% dos casos de notas erradas confirmados foram registrados nas cidades de Viçosa, Ituiutaba, Iturama, Minas Gerais, e Alagoinhas, na Bahia.

As quase 6 mil notas corrigidas erroneamente representam 0,15% do total de inscritos no certame. Foram verificados erros nos dois dias de aplicação da prova. Lopes explicou, em coletiva transmitida em live na noite de ontem, que a falha teria sido identificada na gráfica, a Valid, que imprime a prova desde a edição passada. Com isso, os arquivos teriam chegado com "inconsistências" ao instituto.

"O erro aconteceu na fase de impressão de leitura, que gerou a informação equivocada. A gente precisa passar essa informação para a nossa equipe e para os aplicadores para fazer o casamento do cartão de prova e o gabarito para produzir a correção. Esse foi o problema que nós identificamos", explicou o presidente.

O erro nas notas começou a ser investigado após relatos de incoerência nos resultados de candidatos publicados em redes sociais. Com isso, o Inep criou um email para receber pedidos de correção. Conforme o ministério, 172 mil pessoas enviaram emails relatando erros. Segundo Lopes, 90% das notas erradas das provas aplicadas no primeiro dia foram aumentadas após a revisão. Já no segundo dia, 80% das notas com a primeira correção errada foram aumentadas após a verificação.

A falta de acompanhamento e verificação dos processos de realização do exame, como a atuação da gráfica, é uma das críticas de especialistas.

Para Maria Helena de Aguiar Bravo, doutoranda da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) e assistente de pesquisa da Fundação Carlos Chagas, o maior desafio que o Enem traz para a gestão pública é logístico, em razão da sua escala. "O exame já tem uma consolidação técnica como instrumento de medição de proficiência, considerando a elaboração dos itens e a utilização da escala de Teoria de Resposta ao Item (TRI)", pontua.

A especialista em políticas públicas de educação relaciona os erros a cortes na pasta. "A nova gestão federal fez muitos cortes no Inep, houve um enxugamento e reestruturação do órgão, como em todos os setores da Educação do Governo Federal. Não podemos achar que isso não causa consequências. Licitações deixadas para última hora. Pode não ter havido tempo de se certificar com relação às gráficas", frisa.

Maria Helena avalia que os impactos mais graves serão políticos e sociais. "Há um impacto político no sentido de o governo não ter competência técnica ou política para fazer a avaliação. Com a proporção e relevância do Enem em termos de seleção para as universidades, acredito que não perde a credibilidade. Os estudantes acreditarem ou não, não muda o fato de que o exame seleciona. Nesse sentido, não tem grande impacto na credibilidade", diz.

Por outro lado, Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP e coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave), considera que o episódio alimenta desconfiança com relação ao exame, que já possui histórico de fraudes.

"Nunca tinha acontecido nessas proporções. Não sei se é o erro mais grave da história do exame, mas questiona a credibilidade no resultado", defende.

Segundo Ocimar, o exame assumiu o lugar de "grande vestibular nacional" junto a uma série de procedimentos que fazem parte de sua construção.

"O que é o Enem sem os resultados? Isso, de alguma maneira, está associado a própria gestão do Ministério da Educação. Os eventos desse ano violam alguns desses procedimentos. Como a comissão de vistoria com pessoas que não são da área da avaliação educacional e o questionamento dos resultados."

Com informações portal O Povo Online

Leia também:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.