Após
identificação de erros na correção da prova de 5.974 participantes do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) afirmou que os testes de todos os
concorrentes foram verificados e os erros corrigidos. Conforme especialistas em
avaliação educacional, o problema levanta questionamentos acerca da gestão da
pasta e quanto à credibilidade do exame.
De
acordo com o Alexandre Lopes, presidente do Inep, "todas as
inconsistências eram de associação de gabarito", devido a uma associação
equivocada entre a cor do Caderno de Questões e o gabarito correspondente.
Segundo o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, 95% dos casos de notas
erradas confirmados foram registrados nas cidades de Viçosa, Ituiutaba,
Iturama, Minas Gerais, e Alagoinhas, na Bahia.
As
quase 6 mil notas corrigidas erroneamente representam 0,15% do total de
inscritos no certame. Foram verificados erros nos dois dias de aplicação da
prova. Lopes explicou, em coletiva transmitida em live na noite de ontem, que a
falha teria sido identificada na gráfica, a Valid, que imprime a prova desde a
edição passada. Com isso, os arquivos teriam chegado com
"inconsistências" ao instituto.
"O
erro aconteceu na fase de impressão de leitura, que gerou a informação
equivocada. A gente precisa passar essa informação para a nossa equipe e para
os aplicadores para fazer o casamento do cartão de prova e o gabarito para
produzir a correção. Esse foi o problema que nós identificamos", explicou
o presidente.
O
erro nas notas começou a ser investigado após relatos de incoerência nos
resultados de candidatos publicados em redes sociais. Com isso, o Inep criou um
email para receber pedidos de correção. Conforme o ministério, 172 mil pessoas
enviaram emails relatando erros. Segundo Lopes, 90% das notas erradas das
provas aplicadas no primeiro dia foram aumentadas após a revisão. Já no segundo
dia, 80% das notas com a primeira correção errada foram aumentadas após a
verificação.
A
falta de acompanhamento e verificação dos processos de realização do exame,
como a atuação da gráfica, é uma das críticas de especialistas.
Para
Maria Helena de Aguiar Bravo, doutoranda da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (FE-USP) e assistente de pesquisa da Fundação Carlos
Chagas, o maior desafio que o Enem traz para a gestão pública é logístico, em
razão da sua escala. "O exame já tem uma consolidação técnica como
instrumento de medição de proficiência, considerando a elaboração dos itens e a
utilização da escala de Teoria de Resposta ao Item (TRI)", pontua.
A
especialista em políticas públicas de educação relaciona os erros a cortes na
pasta. "A nova gestão federal fez muitos cortes no Inep, houve um
enxugamento e reestruturação do órgão, como em todos os setores da Educação do
Governo Federal. Não podemos achar que isso não causa consequências. Licitações
deixadas para última hora. Pode não ter havido tempo de se certificar com
relação às gráficas", frisa.
Maria
Helena avalia que os impactos mais graves serão políticos e sociais. "Há
um impacto político no sentido de o governo não ter competência técnica ou
política para fazer a avaliação. Com a proporção e relevância do Enem em termos
de seleção para as universidades, acredito que não perde a credibilidade. Os
estudantes acreditarem ou não, não muda o fato de que o exame seleciona. Nesse
sentido, não tem grande impacto na credibilidade", diz.
Por
outro lado, Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP e
coordenador do Grupo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional (Gepave),
considera que o episódio alimenta desconfiança com relação ao exame, que já
possui histórico de fraudes.
"Nunca
tinha acontecido nessas proporções. Não sei se é o erro mais grave da história
do exame, mas questiona a credibilidade no resultado", defende.
Segundo
Ocimar, o exame assumiu o lugar de "grande vestibular nacional" junto
a uma série de procedimentos que fazem parte de sua construção.
"O
que é o Enem sem os resultados? Isso, de alguma maneira, está associado a
própria gestão do Ministério da Educação. Os eventos desse ano violam alguns desses
procedimentos. Como a comissão de vistoria com pessoas que não são da área da
avaliação educacional e o questionamento dos resultados."
Com
informações portal O Povo Online
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