O presidente dá sinais de incômodo com a popularidade de Moro (Foto: Marcelo Camargo) |
Jair
Bolsonaro testou a força do ex-juiz e ministro Sergio Moro dentro do governo.
Testou e perdeu. Ele ensaiou limitar os poderes do ministro. Sentiu o impacto
nas redes sociais. O presidente dá sinais de incômodo com a popularidade de
Moro, bem maior que a de Bolsonaro. Indica que gostaria de um Moro menos
"super".
Quando
entrou no governo, Moro foi um respaldo político e tanto ao presidente. Uma
baita vitória política. Chegou com status de superministro. Estava sob sua
gestão o antigo Ministério da Segurança Pública, da era Michel Temer (MDB), aí
incluída a Polícia Federal. E também vinha, do Ministério da Fazenda, o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O Coaf foi retirado de
Moro pelo Congresso e remanejado para o Ministério da Economia. Se perde também
a Segurança Pública, e a Polícia Federal junto, o em princípio superministro
vira pouco mais que subministro.
Bolsonaro
soltou o que se chama no jornalismo de balão de ensaio. Jogou a informação como
possibilidade para ver como seriam as reações. Ficou assustado.
As
palavras do presidente
Não
adianta culpar a imprensa de intriga. O intrigueiro foi o presidente mesmo.
Primeiro,
Bolsonaro disse: "Os secretários estaduais da Segurança Pública pediram
para mim a possibilidade de recriar o Ministério da Segurança. Isso é estudado.
É estudado com o Moro... Lógico que o Moro deve ser contra, mas é estudado com
os demais ministros". Ele falou isso na quinta-feira, ao sair do Palácio
da Alvorada para embarcar rumo à Índia.
As
coisas mudaram durante o voo. Ao chegar a Nova Delhi, Bolsonaro disse: "A
chance no momento é zero, não sei amanhã. Mas não há essa intenção de
dividir". O que mudou no percurso Brasíl-Índia?
A
mudança veio de fora e de dentro do governo. Fora, nas redes sociais, o
presidente viu parte de sua base se rebelar. O bolsonarismo, afinal, é menor
que o lavajatismo. Bolsonaro constatou isso de forma dolorosa. O lavajatismo
viabilizou o bolsonarismo.
E
dentro, bem, o presidente soube que o ministro não gostou. Com Bolsonaro na
Índia, Moro se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo o
Estadão, o encontro teria sido pedido do presidente para tranquilizar o
ex-juiz. E para negar aquilo que Bolsonaro mesmo disse que cogitava fazer um
dia antes.
Bolsonaro
se faz de desentendido
O
presidente ainda disse não entender a controvérsia. "Parece que toda
viagem que eu faço tem uma polêmica". Ora, ele sabia bem o que estava
dizendo na véspera. Ela já antecipava que Moro não iria gostar. Ele sabia a
reação contrária que haveria. Talvez não soubesse o tamanho. O fato é que
admitiu uma coisa no dia e, no dia seguinte, afirmou que a possibilidade não
existia mais. Embora diga que possa ainda mudar de ideia adiante. Vá entender.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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