25 de janeiro de 2020

Bolsonaro testou força de Moro e perdeu

O presidente dá sinais de incômodo com a popularidade de Moro (Foto: Marcelo Camargo)
Jair Bolsonaro testou a força do ex-juiz e ministro Sergio Moro dentro do governo. Testou e perdeu. Ele ensaiou limitar os poderes do ministro. Sentiu o impacto nas redes sociais. O presidente dá sinais de incômodo com a popularidade de Moro, bem maior que a de Bolsonaro. Indica que gostaria de um Moro menos "super".

Quando entrou no governo, Moro foi um respaldo político e tanto ao presidente. Uma baita vitória política. Chegou com status de superministro. Estava sob sua gestão o antigo Ministério da Segurança Pública, da era Michel Temer (MDB), aí incluída a Polícia Federal. E também vinha, do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O Coaf foi retirado de Moro pelo Congresso e remanejado para o Ministério da Economia. Se perde também a Segurança Pública, e a Polícia Federal junto, o em princípio superministro vira pouco mais que subministro.

Bolsonaro soltou o que se chama no jornalismo de balão de ensaio. Jogou a informação como possibilidade para ver como seriam as reações. Ficou assustado.

As palavras do presidente
Não adianta culpar a imprensa de intriga. O intrigueiro foi o presidente mesmo.

Primeiro, Bolsonaro disse: "Os secretários estaduais da Segurança Pública pediram para mim a possibilidade de recriar o Ministério da Segurança. Isso é estudado. É estudado com o Moro... Lógico que o Moro deve ser contra, mas é estudado com os demais ministros". Ele falou isso na quinta-feira, ao sair do Palácio da Alvorada para embarcar rumo à Índia.

As coisas mudaram durante o voo. Ao chegar a Nova Delhi, Bolsonaro disse: "A chance no momento é zero, não sei amanhã. Mas não há essa intenção de dividir". O que mudou no percurso Brasíl-Índia?

A mudança veio de fora e de dentro do governo. Fora, nas redes sociais, o presidente viu parte de sua base se rebelar. O bolsonarismo, afinal, é menor que o lavajatismo. Bolsonaro constatou isso de forma dolorosa. O lavajatismo viabilizou o bolsonarismo.

E dentro, bem, o presidente soube que o ministro não gostou. Com Bolsonaro na Índia, Moro se encontrou com o vice-presidente Hamilton Mourão. Segundo o Estadão, o encontro teria sido pedido do presidente para tranquilizar o ex-juiz. E para negar aquilo que Bolsonaro mesmo disse que cogitava fazer um dia antes.

Bolsonaro se faz de desentendido
O presidente ainda disse não entender a controvérsia. "Parece que toda viagem que eu faço tem uma polêmica". Ora, ele sabia bem o que estava dizendo na véspera. Ela já antecipava que Moro não iria gostar. Ele sabia a reação contrária que haveria. Talvez não soubesse o tamanho. O fato é que admitiu uma coisa no dia e, no dia seguinte, afirmou que a possibilidade não existia mais. Embora diga que possa ainda mudar de ideia adiante. Vá entender.

Publicado originalmente no portal O Povo Online


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