O
ano de 2019 foi atípico para o meio ambiente no Brasil. Enquanto uma série de
tragédias dizimaram a vida de pessoas e animais, depredaram biomas e
ecossistemas, as polêmicas posições e decisões do governo federal na área
ambiental mancharam a imagem do país, principalmente, no exterior. Ataques a
organizações não governamentais e a personalidades estrangeiras, desmonte de
instituições responsáveis pela preservação ambiental e enfraquecimento de
fontes de financiamento para iniciativas de proteção à floresta foram algumas
das atitudes que minaram o prestígio do Brasil.
Para
ambientalistas, pesquisadores, ex-ministros do Meio Ambiente e parlamentares, o
ano se resume a uma palavra: desastroso. Os primeiros 12 meses do governo
Bolsonaro terminam com a contestada participação do país na 25ª Conferência do
Clima das Nações Unidas (COP 25) — evento que o Brasil desistiu de sediar —, em
Madri. Sem grandes contribuições ao debate, a comitiva oficial brasileira saiu
do encontro com imagem negativa.
O
deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), presidente da Comissão do Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, que esteve na conferência,
acredita que a imagem ruim deixada pelo país pode prejudicar os negócios em
futuro próximo. “Acho que 2020 vai ser extremamente desafiante. Há grande
pressão externa para que o Brasil assuma uma posição diferente. Isso ficou
evidente ao final da COP 25. O país ganhou o prêmio de Fóssil do Ano. Isso é
muito ruim para quem quer fazer negócio lá fora e se destacar no mercado
internacional”, observa o parlamentar.
O
coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace, Márcio Astrini, se preocupou
com o que viu em Madri. “A imagem do Brasil é muito ruim, e o governo faz um
esforço incansável para piorar”, avalia. De acordo com Astrini, o clima nos
bastidores foi de espanto, já que o país sempre foi uma potência ambiental e
diplomática nessa área. “Muitos perguntaram o que estava acontecendo com o
Brasil. Viramos um nanico na agenda climática”, afirma.
Após
a conferência, o ministro do Meio ambiente, Ricardo Salles, criticou a
resistência das potências mundiais a discutir a mudança da base energética de
combustíveis fósseis e o protecionismo de países ricos em não regulamentar a
comercialização de créditos de carbono no mercado internacional. “A COP 25 não
deu em nada. Países ricos não querem abrir seus mercados de créditos de
carbono. Exigem medidas e apontam o dedo para o resto do mundo, sem cerimônia,
mas, na hora de colocar a mão no bolso, eles não querem. Protecionismo e
hipocrisia andaram de mãos dadas o tempo todo”, justifica o ministro.
Dessa
forma, há quem projete um futuro conturbado para a política ambiental do país.
Doutor em política, organização e administração florestal, Eleazar Volpato lamenta
que o Brasil tenha “entrado pequeno e saído menor da COP 25”, visto que o país
“sempre exerceu protagonismo na área ambiental”. “Foi desastroso. O ministro
parece não ter sensibilidade, e inverteu uma tendência de respeito que o país
vinha obtendo. Tudo aquilo que se conquistou com muito custo, com o país
avançando em credibilidade, está retrocedendo. Nunca vimos nada parecido”,
comenta.
Além
disso, Volpato diz que a maneira como Salles e o presidente Jair Bolsonaro
tentam achar culpados para as tragédias que aconteceram neste ano, e como
enfrentam personalidades internacionais — a exemplo do ator Leonardo DiCaprio e
da ativista Greta Thunberg —, deixam o horizonte ambiental do país recheado de
dúvidas. “É uma situação bastante esquisita e preocupante, pois as pessoas não
mudam facilmente. Se a sociedade reagir, talvez faça o governo mudar. Mas,
enquanto isso, eles continuarão a aplicar essa política”, afirma.
Astrini,
do Greenpeace, não vê sinais de que o governo mudará os rumos da política
ambiental. “A gente não pode se dar ao luxo de esperar o fim do mandato de
Bolsonaro para minimizar as perdas. Isso pode significar uma sentença de morte
para a Amazônia”, afirma.
O
ministro Ricardo Salles, em conversa com o Correio, diz que prefere olhar para
a frente, mas reconhece que aprendeu com os desastres ambientais que marcaram
2019, os quais define como “desafios importantes e complexos”. “Você vai
aprendendo como os processos podem ser melhorados e como se pode dar uma
resposta mais eficiente para a sociedade”, frisa.
“Claro
que a gente espera que não tenha mais nenhum problema, mas, se houver algum, nós
estaremos aí, como estávamos em todos os que experimentamos neste ano.
Estaremos prontos para responder. O governo Bolsonaro não foge de nenhuma
responsabilidade”, afirma. Apesar disso, entre os integrantes do alto escalão
do governo, Salles foi um que mais colecionou episódios controversos.
O
ministro reduziu o número de cadeiras da sociedade civil no Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama); bloqueou 95% do orçamento destinado à implantação de
medidas e políticas para combate às mudanças climáticas; criticou a atuação de
órgãos como o Inpe, o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) — e promoveu mudanças em todos eles.
Para
2020, Salles afirma esperar que uma reorganização financeira traga mais
recursos para municípios e estados. Além disso, destaca a agenda para as
cidades. “Nós temos a expectativa de que a agenda urbana — saneamento, gestão
do lixo e qualidade do ar — possa avançar muito rapidamente a partir do ano que
vem”, completa.
Com
informações portal Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.