Uma
das primeiras orientações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PT
assim que deixou Curitiba, há três semanas, foi para que o partido lance o
maior número possível de candidatos a prefeito em 2020, principalmente nas
cidades onde há horário eleitoral na TV.
Lula quer aproveitar a eleição
municipal para fazer a defesa dos governos petistas e dele mesmo. No entanto, a
falta de candidatos competitivos, negativas por parte de velhos quadros da
legenda e interesses políticos dos caciques regionais dificultam o cumprimento
da orientação.
Em
São Paulo, maior cidade do país, o PT ainda procura candidato. Uma ala
importante da sigla, liderada por Lula, investe na volta da ex-prefeita Marta
Suplicy. Eles sabem que a manobra é arriscada, mas acreditam que, com o aval de
Lula, a articulação pode vingar. Do contrário, deve voltar a pressão para que
Fernando Haddad assuma a tarefa. O ex-prefeito já disse várias vezes que não
quer ser candidato. Ele argumenta que precisa organizar sua vida pessoal e que
três eleições em um prazo de seis anos é muita coisa — ele concorreu, em 2015,
à reeleição à Prefeitura e, em 2018, à Presidência.
O
cenário se repete em Belo Horizonte, onde o deputado Patrus Ananias, citado
explicitamente por Lula, está reticente. Patrus diz que prefere se concentrar
em temas nacionais em vez de disputar a prefeitura da capital mineira, cargo
que já ocupou. Parte do PT mineiro defende que o partido apoie a deputada
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Áurea
Carolina (PSOL).
No
Rio, a deputada Benedita da Silva, também citada por Lula, é outra que resiste
em disputar. Segundo o presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, o
partido vai seguir a orientação de Lula e encomendar pesquisas. Enquanto isso,
continua negociando com Marcelo Freixo (PSOL). "Benedita é mais forte na
periferia. Freixo, na zona sul. Podemos ir tocando duas candidaturas próprias e
lá na frente chegarmos a uma candidatura única e forte", disse Quaquá.
Em
Porto Alegre, nenhum dos três ex-prefeitos petistas citados por Lula como alternativas
a uma aliança com Manuela D'Avila (PC do B) se animou. Dirigentes nacionais
apostam no apoio à ex-vice de Haddad. Em Curitiba, por falta de nomes, o PT
deve apoiar Roberto Requião (MDB).
Já
em Salvador, o PT trabalha para filiar o presidente do Esporte Clube Bahia,
Guilherme Bellintani, mas o governador Rui Costa pretende usar a eleição do ano
que vem para fortalecer sua base na Assembleia Legislativa. Costa pode ter até
três candidatos. Um deles é o deputado Pastor Sargento Isidório (Avante).
"É possível que seja um candidato da aliança. O PT já tem o candidato na
maior cidade do interior, que é Feira de Santana", disse o senador Jaques
Wagner (PT-BA).
Segundo
o deputado José Guimarães (PT-CE), coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral
(GTE) do partido, o PT "dificilmente deixará de ter candidato" em
pelo menos dez capitais, a maior parte no Nordeste. Guimarães inclui São Paulo,
Belo Horizonte e Salvador na lista, ao lado de Recife, Fortaleza, Manaus,
Goiânia, Natal, Aracaju e Teresina. "Queremos candidaturas competitivas,
para ganhar. Os principais quadros, aqueles que têm compromisso com o PT, não
podem se esconder."
A
ideia, afirma Guimarães, é nacionalizar a disputa nas principais cidades,
transformando a eleição municipal de 2020 em uma ponte para derrotar Jair
Bolsonaro em 2022.
A
ordem de Lula para lançar o maior número possível de candidatos não inviabiliza
alianças com outros partidos de esquerda e serve para cacifar a legenda no
momento das definições. "Você acha que alguém vai querer negociar conosco
se não colocarmos nossos nomes? Primeiro coloca os nomes. A segunda etapa é
negociar", disse ele.
Jaques
Wagner concorda. "Lula está falando para ter candidatos no maior número de
cidades possível, não em todas. Essa conclusão de que é uma política de
alianças estreita, na minha opinião, está equivocada."
Com
informações portal Correio Braziliense e foto de Nelson Almeida
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