Para o senador Weverton Rocha o grande desafio é convencer o PT a abdicar da hegemonia e discutir a união (Foto: Roque de Sá) |
O
primeiro ano de gestão de Jair Bolsonaro foi marcado pelo contínuo processo de
adaptação no relacionamento com os Poderes, em especial o Congresso, mas,
também, por momentos de ataques à oposição. Uma coerência característica do
presidente da República em apostar no tensionamento com a esquerda e de marcar
seu território político. Ao
longo de 2019, sobraram críticas ao PT, a Cuba, à Venezuela e até à vitória nas
urnas do presidente da Argentina, Alberto Fernández, depois, adotou um tom
pragmático nessa relação.
Com
a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da prisão, Bolsonaro tentou
disfarçar e não dar importância, porém, mesmo governistas admitem que, desde
então, se deflagrou a volta do clima de polarização observado na corrida
eleitoral de 2018. Um cabo de guerra que deságua nas eleições municipais, em 2020,
e que tem todos os elementos para se estender até 2022.
A
intensificação da polarização para 2020 é uma questão de tempo. A própria
esquerda, que passou o ano amadurecendo a narrativa de uma união progressista,
a fim de pavimentar os rumos para 2022, volta a se deparar com a sombra do PT.
Nesse
processo de autorreflexão, as legendas não conseguiram fazer valer suas
posições no Congresso e, embora tenham trazido as militâncias para o campo da
formulação, se afastaram da massa de rua, ideológica e combativa.
Assim,
a soltura de Lula muda o panorama. Da boca para fora, os petistas defendem a
construção de alianças com candidatos progressistas com chances de sucesso nos
municípios, com o objetivo de evitar o avanço de nomes do centro e da direita.
Na prática, a postura é outra. Os
movimentos do PT ainda são analisados com tons de incredulidade e incerteza na
esquerda. Há uma avaliação de que o partido tenta manter a hegemonia no
espectro político.
A presidente nacional da legenda, Gleisi Hoffmann (SP),
defende, por exemplo, a candidatura de Lula para 2022, ainda que não possa
tomar posse devido à Lei da Ficha Limpa. Todos os atuais elementos sugerem a
volta da polarização, defendida pelo próprio ex-presidente.
“Temos
de ter a coragem de dizer: nós somos, sim, o oposto de Bolsonaro. Não dá para
ficar em cima do muro ou no meio do caminho”, disse o petista, na abertura do
7º Congresso Nacional, em novembro.
O
governo, por sua vez, comemora a reação da economia. O Produto Interno Bruto
(PIB), que deve subir 1,2% em 2019 e crescer até 3% em 2020, é um pilar que
fortalece Bolsonaro na disputa pela direita. À medida que mais empregos sejam
gerados ao longo dos anos, mais consolidadas ficam as chances de reeleição,
analisa o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.
“A
economia está dando sinais e, realmente, havendo a melhora esperada, o
presidente é favorito para 2022. Apesar de todas as dificuldades e em que pese,
às vezes, dizerem que ele é impopular, é um candidato fortíssimo.
Independentemente de polarização e de nomes de centro, tem grandes chances de
ser reeleito”, sustenta.
O
líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), concorda que a saída de
Lula da prisão aumenta a polarização. “E, em alguma medida, apaga um pouco as
perspectivas de o centro aparecer como uma possível solução”, frisa.
A despeito
de pesquisas, que sugerem uma reprovação de 36% de Bolsonaro, ele acredita que o
chefe do Executivo mantém a popularidade. “Você vê aí o quanto é aplaudido, é
comemorado e festejado em suas andanças pelo Brasil. E isso é muito bom. Eu
acho que o caminho está muito aberto para uma consolidação do plano do Brasil
para uma direita construída nos valores da família”, destaca.
Na
esquerda, o grande desafio é convencer o PT a abdicar da hegemonia e discutir a
união, avalia o senador Weverton Rocha (PDT-MA), líder do partido na Casa. “Desde
o início do ano, com PSB, Rede e PV, discutimos a edição de uma frente.
Deixamos claro que não tem um chefe. Pode ser o líder que estiver na melhor
posição, não há imposição”, diz.
“Mas
o PT vai ter de dizer se quer contribuir com a democracia ou apostar em sua
hegemonia. Sem dúvidas, é um dos maiores partidos, com uma das maiores
militâncias, mas não pode cometer o mesmo erro de bancar uma candidatura
isolada e, mais uma vez, entregar as eleições para a direita.” O pleito de 2020
vai ser esclarecedor sobre os rumos a serem adotados pela esquerda em 2022,
avalia Rocha.
O
senador Humberto Costa (PT-PE), líder do partido na Casa, discorda em relação à
desunião. “Quando
começou o ano, o discurso era de que a esquerda ia se dividir, mas conseguimos
uma unidade dentro e fora do Congresso. Participamos de defesas importantes,
como educação e Previdência”, ressalta, embora reconheça as dificuldades de
mobilização e de conseguir um protagonismo maior.
Líder
do PSol na Câmara, Ivan Valente (SP) critica a polarização e a classifica como
resultado de mudanças muito drásticas na política federal. “Você tinha
governantes mais amenos que, mesmo discordando de alguns, ouvia todas as
frentes. Hoje, não há mais diálogo. É complexo perceber esse isolamento do
presidente da República”, afirma.
Na opinião dele, mudanças estruturais na
gestão Bolsonaro poderiam ter bons reflexos. “Enfrentamos
questões complicadas no governo, que não dá suporte aos negros e gays nem abre
diálogo com a oposição. E não dá para escolher um ou outro partido. Se não
falar com todo mundo, os líderes não se interessarão pela aproximação com o
Planalto.”
Com
informações portal Correio Braziliense
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