Com
quase 100 anos de história, o PCdoB adotará uma nova marca em 2020. Encobrindo
as palavras “partido” e “comunista” de sua sigla, a legenda passará a adotar a
expressão “Movimento 65”, enfatizando o número do partido que pretende lançar
em 2022 a candidatura à Presidência da República do governador do Maranhão,
Flávio Dino.
A
ideia inicial era mudar o nome do partido, suprimindo os dois termos. Houve
resistência de filiados e a adoção do “nome fantasia” representa um recuo na
intenção de alguns membros da sigla de se livrar das palavras para formar um
movimento mais amplo contra o atual presidente da República, Jair Bolsonaro.
De
acordo com integrantes do PCdoB, a marca a ser usada na publicidade
institucional trará, em vez do vermelho, as cores verde e amarelo como
predominantes. Saem também a “foice e o martelo”, símbolo da luta das classes
trabalhadoras urbana (martelo) e rural (foice) e que representa tanto o
movimento socialista quanto o comunista.
A
nova marca já foi encomendada e faz parte dos planos da legenda de lançá-la em
janeiro de 2020. A data, no entanto, ainda não foi marcada.
A
ideia tem semelhança com a concertação feita pelo Partido Comunista Português
(PCP) que ampliou seu leque de atuação, agregando o Partido Ecologista – “Os
Verdes” – e formando a Coligação Democrática Unitária (CDU), em 1987.
Na
época, símbolos comunistas foram evitados na logomarca da CDU, que concorreu a
várias eleições entre 1987 e 1989. Em 2009, a sigla voltou a incorporar as
marcas dos dois partidos que formaram o grupo e adotou PCP-PEV.
Trabalhistas
O
objetivo do partido é atrair a filiação de lideranças trabalhistas presentes em
outros partidos, principalmente os ligados à chamada ala brizolista do PDT, que
resistem ao termo comunista.
A
nova sigla também é mais palatável aos integrantes do antigo PPL, legenda
incorporada pelo PCdoB em maio deste ano que tem entre seus nomes o filósofo
João Vicente Fontella Goulart, filho do ex-presidente João Goulart, que foi
deposto pelo regime militar, no golpe de 1964. Goulart Filho é o atual
vice-presidente da legenda no Distrito Federal.
Outro
atraído pela perspectiva de adoção do “nome fantasia” foi o deputado federal
Brizola Neto, neto de Leonel Brizola, que foi Governador do Rio de Janeiro e do
Rio Grande do Sul. Brizola Neto será o nome da legenda para o cargo de prefeito
do Rio de Janeiro, nas eleições que ocorrem em outubro.
O
documento do partido que informa sobre a criação do novo nome deixa claro o
interesse em ampliar o leque de candidaturas em todo país para as eleições
municipais. “Dispõe-se a construir um movimento eleitoral e cívico amplo, de
caráter frentista — Movimento 65 —, um lugar para os lutadores e lutadoras das
causas da classe trabalhadora e do povo, intelectuais e agentes culturais
progressistas, líderes da sociedade civil. Todos(as) terão lugar no Movimento
65 para se candidatar nas eleições municipais de 2020”, diz a nota pública
endereçada aos filiados.
A
ideia é a mesma que foi defendida nas eleições de 2018 pela então candidata a
vice, na chapa do petista Fernando Haddad, Manuela D’Ávila: a criação de uma
frente ampla de esquerda, contra o bolsonarismo.
“Ameaça
artificial”
A
ex-deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), que integra a executiva nacional do partido e
foi candidata a vice-governadora de Minas Gerais na chapa encabeçada pelo
petista Fernando Pimentel, explica que a intenção da legenda é driblar o
cenário artificial propagado principalmente pelo governo de Jair Bolsonaro, que
insiste na ideia de uma “ameaça comunista” sobre o país.
“A
gente vive um momento em que o diálogo com a sociedade tem que se renovar na
dimensão das exigências que a sociedade apresenta. Vivemos dias em que há
necessidade de reafirmação para alcançar a cláusula de barreira em 2022 e, para
isso, é preciso fazer uma discussão amplificada com pessoas do campo democrático,
com sentimento progressista”, enfatizou.
“Eu
não chamaria nem de ‘nome fantasia’, mas de uma nova expressão para melhor
dialogar com a sociedade e deixar mais claro o sentido do nosso partido, que
vai completar 100 anos e que tem a cara do Brasil”, explicou.
A
ex-parlamentar defende a mudança e acredita se tratar apenas de uma forma de se
desvencilhar dos “inimigos” inventados por parte dos detratores do partido e
das esquerdas.
“Parte
da elite deste país faz a sua política criar inimigos, criar adversários, e
parte dessa mesma elite de tendências fascistas tem o hábito de criar uma
fantasia de que há uma ameaça comunista, criando um cenário artificial. Isso
aconteceu durante a ditadura militar. Não é de hoje que isso acontece. Hoje se
intensificou com o Bolsonaro. Com essa nova marca, nós queremos afirmar a visão
democrática, nacionalista e libertária que PCdoB sempre representou.”
Com
informações portal Metropoles
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