Residências
históricas, fachadas e outros patrimônios públicos são destruídos como se
nenhuma importância para coletividade ou não tivesse nenhum vínculo afetivo
individual ou para a coletividade. Assim é Altaneira, município do cariri oeste
cearense, distante 509 Km da capital Fortaleza.
Pouquíssimos
são os lugares de memórias que ainda estão de pé. A grande maioria sucumbiu ao
tempo em virtude da falta de zelo, e de apego pela História daqueles e daquelas
que, junto com a comunidade, são os principais responsáveis pela salvaguarda
dos patrimônios públicos (imateriais e materiais) do município.
São
60 anos de emancipação política de um município que, por ser de pequeno porte,
julga-se que seja mais fácil a preservação da memória e da história, pois
comparados a outros de grande porte, a lista do que se tem para salvaguardar é
pequena. Porém, ao longo dessas seis décadas as pouquíssimas referências
históricas, inclusive o humano, se foram sem que fossem, de fato,
valorizados/as. Não falo aqui de nomear prédio.
Um
povo se memória é um povo desencorajado. Um povo sem memória é um povo sem
história e, portanto, sem consciência histórica. E uma sociedade sem memória
histórica não possui elementos definidores de sua identidade cultural. Mas,
como tivemos a oportunidade de mencionar no “I Seminário Público Municipal Que
patrimônio Queremos Preservar” no dia 27 de setembro do ano em curso, um dos
principais fatores de dano ao patrimônio histórico e cultural é sua
desqualificação como fonte de referência para a identidade local, na maioria
das vezes derivada do desconhecimento de sua importância e consolidada pela
invasão de culturas estranhas.
Na
grande maioria das vezes a comunidade não entende essa importância que os
lugares de memória possuem para a história. E gestores públicos também não. É
preciso dizer que apropriar-se de seu patrimônio é identificar-se nele, é
fortalecer o senso de pertencimento ao grupo do qual ele representa
simbolicamente a identidade. Significa, outrossim, construir uma identidade a
partir de traços de um passado comum. Preservar é, portanto, uma atualização
constante da memória e dos valores que definiram aquele objeto ou expressão
cultural como representativos e, portanto, patrimônio da coletividade. Isso
precisa ser uma regra nas gestões públicas, não exceção.
Faz-se
necessário, portanto, refletir sobre o argumento “só se ama o que se conhece”.
Conhecendo, passamos, a identificar, no patrimônio, valores que nos permitam
reconhecê-lo com um bem. Mas a ausência de protagonismo, de vanguarda cultural
e educacional no município fez com que se definisse por si mesmo (sem consulta
a profissionais da área) o que deve e o que é importante ser preservado. E
nesse contexto, uma residência antiga localizada a Rua Dep. Furtado Leite desse
lugar a “modernidade”; que a fachada do Poder Legislativo Municipal fosse
totalmente destruída por uma fachada “moderna”. O mesmo prédio que foi sede do
outro poder nos anos 80 século passado; Dentre outras construções históricas
que sucumbiram. Outras prestes a desparecerem sem deixar rastros como a casa de
Dona Fausta, figura que representa parte da História do Município.
Agora
estamos prestes a perder mais um portador de referência à identidade, à ação, e
à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade altaneirense – a caixa
d’água. Ela que é uma construção do Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas - DNOCS na década de 1960 e foi responsável pelo abastecimento de
Altaneira até os primeiros anos da década de 1970.
É
preciso dizermos ainda que conservar elementos de memória de uma sociedade não
é um atestado para prendê-la sem crítica ao passado e não permitir o seu
desenvolvimento, mas sim preservar seus alicerces constituintes para que não
fiquemos despossuídos de conhecimentos e identidades.
Publicado
originalmente no Blog Negro Nicolau
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