Os
políticos costumam dizer, até com alguma razão em casos determinados, que os
jornalistas é que são os maiores interessados na história de antecipação de
processo eleitoral, de movimentação de bastidores sobre uma campanha que ainda
não existe oficialmente etc.
Em resumo, alega-se que há muito factoide no que
se informa ao público acerca de conversas que acontecem a essa altura, por
exemplo, que miram acordos a serem validados apenas em meados do próximo ano.
Pode ser, mas, na real, o que tem acontecido no caso de Fortaleza e do Ceará,
mais recentemente, deixa muito evidentes as marcas de 2020, apesar dos
desmentidos e mesmo que se tivesse a maior boa vontade para concluir que uma
coisa não tem nada a ver com a outra.
Olhemos
o movimento expressivo do senador Cid Gomes (PDT), peça decisiva em todo o jogo
de disputas anunciado para o ano que vem. Poucos movimentos relacionados ao
próximo processo eleitoral terão chances de ir adiante, ou o contrário, sem que
passem por algum crivo dele, ainda a voz principal de uma ala importante da
política cearense contemporânea e, inclusive, com influências que vão além dos
limites do próprio partido ao qual pertence.
Essa é a razão principal de sua
decisão de dar um tempo de Brasília, entregar o mandato ao empresário Prisco
Bezerra, não por coincidência irmão do prefeito Roberto Cláudio, e
disponibilizar 24 horas do seu dia, até fins de abril, pelo menos, às conversas
e articulações que têm como alvo as eleições. Sim, é 2020 sendo antecipado.
Claro
que Fortaleza é uma das preocupações mais urgentes, inclusive pelo aspecto em
que continua inexistindo o nome natural do grupo para ser lançado à disputa.
Sem ele, as especulações transitam com desenvoltura e a opção Cid permanece
frequentando as conversas, por mais que suas negativas sejam enfáticas e que
nos sintamos obrigados a dar a elas uma dose maior de credibilidade do que
aquela que daríamos, por exemplo, ao irmão Ciro Gomes.
Um movimento que arranha
a ideia que se tenta passar de que tudo está dentro dos conformes e que não
haveria razão para qualquer mudança de ritmo no processo que levará ao nome do
grupo na disputa, que se anuncia intensa, pela sucessão fortalezense.
Até
pelo fato de em outros segmentos a coisa estar avançando a passos largos. Em
relação ao Capitão Wagner (Pros) é chover no molhado apontar sua decisão, a
cada dia mais clara, de não esperar as datas que o cronograma oficial oferece
e, desde já, precipitar o ânimo da população quanto à próxima escolha de
prefeito que terá que fazer.
É evidente que isso precisa ser feito de maneira
cuidadosa, sob pena de caracterizar campanha antecipada e, nesse aspecto, abrir
brechas legais a questionamentos que poderiam mais atrasar os passos do que
apressá-los, como seria intenção inicial.
Dos
eventos políticos mais recentes, em dias ou horas, até, vale inserir na análise
de um cenário de clima eleitoral antecipado a posse na sexta-feira à noite do
vereador Guilherme Sampaio como presidente do PT de Fortaleza e, mais ainda, o
seu discurso. A escolha dos alvos - Capitão Wagner, Roberto Cláudio e Cid Gomes
- parece atender um roteiro preciso, foca em quem precisará estar na mira de um
candidato de oposição à gestão municipal pedetista, colocado à esquerda dela.
O
tom é outro ponto que chama atenção, escalando-se para responder a Cid, expondo
Wagner na sua relação mal resolvida com o governo Bolsonaro e atacando o
prefeito por aspectos relacionados ao olhar que lança à periferia, que ele
considera preterida em relação ao Aldeota e seus entornos.
Bom,
com tudo isso acontecendo, só espero que os políticos não venham acusar os
jornalistas de artificializarem o debate para lhe dar um tom eleitoral. É
intrínseco a ele, pela forma como acontece nesse momento.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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