O excesso de polêmicas provocadas e a cobrança por mais resultados na pasta jogam contra o ministro Weintraub (Foto: Cleia Viana) |
A
Secretaria Especial de Cultura e o Ministério da Educação estão envoltos em
intenso fogo cruzado que, admitem interlocutores no próprio governo, pode
resultar na queda dos ministros da Educação, Abraham Weintraub, e do Turismo,
Marcelo Álvaro Antônio. A palavra final será do presidente Jair Bolsonaro, que,
no momento, nega qualquer intenção de executar trocas nos comandos das duas
pastas. Mas a tendência, segundo fontes ouvidas pelo Correio, é que as quedas
de braço continuem acirradas.
O
cabo de guerra na Secretaria Especial de Cultura, que está sob o guarda-chuva
do Ministério do Turismo, é o motivo pelo qual assessores especulam uma
possível queda de Álvaro Antônio. Nomeada para a Presidência do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a arquiteta Luciana Rocha
Féres teve a nomeação suspensa em menos de 24h. Indicada pelo ministro, ela
entrou no lugar de Kátia Bogéa, que, dizem na pasta, não deve voltar ao posto.
A
suspensão da nomeação é atribuída ao secretário especial de Cultura, Roberto
Alvim, que tentou emplacar o arquiteto Olav Schrader, ligado ao grupo do escritor
Olavo de Carvalho, “guru” de Bolsonaro. O nome, no entanto, foi barrado,
creditado a vetos da Casa Civil. A mudança no Iphan mostra, para técnicos na
Cultura, a força do secretário. Mesmo tendo sido voto vencido na nomeação do
jornalista Sérgio Camargo para a Fundação Palmares, a aposta é que ele continua
prestigiado. Camargo, que definiu a escravidão como “benéfica para os
descendentes”, teve, nesta quinta-feira (12/12), a nomeação suspensa por
Bolsonaro.
Outra
recente demonstração de vigor político de Alvim foi na exoneração da agora
ex-titular da Secretaria do Audiovisual (SAv), Katiane de Fátima Gouvêa.
Indicada por ele, os dois deram as cartas e comandaram o processo de
reestruturação na pasta. Durante a transição da secretaria do Ministério da
Cidadania para o Ministério do Turismo, eram sempre vistos próximos,
conversando.
“Foi dela o relatório de ações para extinguir a Ancine (Agência
Nacional do Cinema)”, disse um técnico. A decisão de Alvim foi tomada com base
em um parecer do Ministério Público Eleitoral (MPE), que reprovou as contas de
Katiane Gouvêa quando ela foi candidata a deputada federal, em 2018, pelo PSD.
O
secretário de Cultura suspeitou de Katiane Gouvêa e quis evitar riscos. No
lugar dela, assume André Sturm, ex-secretário de Cultura da cidade de São
Paulo. Na pasta, a decisão foi associada à declaração desta quinta-feira
(12/12) de Bolsonaro sobre corrupção no governo.
“Se aparecer (corrupção), boto
no pau de arara o ministro. Se ele tiver responsabilidade, obviamente, porque,
às vezes, lá na ponta da linha, está um assessor fazendo besteira sem a gente
saber. Não é isso? É obrigação nossa, é dever”, avisou.
A
ala ideológica do governo que protege Alvim, ligada a Olavo de Carvalho, é a
mesma que o fortalece em relação a Álvaro Antônio e que coloca uma pulga atrás
da orelha de Weintraub. O secretário de Alfabetização do Ministério da
Educação, Carlos Francisco Nadalim, é sócio do dono do site Brasil sem Medo,
Arno Alcântara Junior, conforme informou o Estadão. O portal foi lançado por
Olavo de Carvalho, que, por sua vez, ganhou espaço no horário nobre da TV
Escola, canal ligado ao ministério.
O
espaço dedicado ao sociólogo e as suspeitas envolvendo a influência de Nadalim
no governo — sendo sócio da empresa Alcântara e Nadalim Cursos On-Line Ltda. —
deixaram Bolsonaro desconfortável. Um interlocutor diz que o presidente vem
sendo cobrado por líderes evangélicos e por partidos influentes, como o DEM,
que tenta emplacar o ex-ministro Mendonça Filho na pasta. Detentora de R$ 117
bilhões, o segundo maior orçamento da Esplanada dos Ministérios — só perde para
a Saúde, com R$ 123 bilhões —, a pasta é uma das mais cobiçadas.
O
combate ao que o governo atribui como “marxismo cultural” é elogiado pelo
governo, mas o excesso de polêmicas provocadas por Weintraub e a cobrança por
mais resultados na pasta jogam contra o ministro. “O ministério está com
contratos parados, e o ministro tem polemizado mais do que apresentado soluções
para a política educacional”, ponderou um assessor.
Não
é de agora que o Ministério da Educação e a Secretaria Especial de Cultura são
dores de cabeça para o governo. Na condução da política educacional, não apenas
Weintraub é o segundo a comandar a pasta, depois do educador Ricardo Vélez
Rodríguez, como a Presidência do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) já teve quatro gestores. Ao longo do ano, assessores foram
exonerados e continuam sendo — inclusive nomes de confiança do próprio
Weintraub. Já a política cultural está, com Alvim, em sua terceira gestão.
Há,
contudo, quem faça ressalvas em relação a Weintraub e lembre que ele lidou com
um período de descontingenciamento de parte de seus recursos. O deputado
federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), por exemplo, saiu em defesa e classificou
como boato a possibilidade de demissão do gestor. “Como demitir um ministro que
(é) contra ideologia de gênero, entregou centenas de ônibus escolares com
acessibilidade, deu liberdade para estudantes fazerem sua carteirinha, fez
escolas cívico-militares e (executou o) Enem 100%”, comentou nesta quinta-feira
(12/12), no Twitter.
Com
informações portal Correio Braziliense
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