Ninguém,
dos órgãos de imprensa, pode se declarar surpreendido pela manifestação do
deputado Eduardo Bolsonaro a favor do AI-5. Na verdade, ninguém pode se surpreender
porque já houve seguidas manifestações contra a democracia por parte da família
Bolsonaro. Defenderam a ditadura militar e, portanto, o AI-5; reverenciaram
regimes totalitários e ditadores; homenagearam o torturador e a tortura;
confraternizaram com milicianos.
Desde sempre pensaram e agiram a favor do
retrocesso. Antes das eleições não havia duvidas a respeito. Durante as
eleições e depois dela, muito menos, pois têm se expressado contra a democracia
e os princípios civilizatórios em todas as oportunidades que tiveram.
O
grave é que nunca receberam da imprensa a oposição enérgica que mereciam. Ao
contrário, acredito que a imprensa fez vista grossa ao crescimento do
neofascismo bolsonarista, porque este adotara a agenda neoliberal.
É que, além
das pautas neofascistas, a extrema direita defende a retirada de direitos e de
garantias ao trabalho e à aposentadoria; as privatizações desnacionalizantes
das empresas públicas e da educação universitária e a suspensão da fiscalização
e da proteção ambiental à Amazônia e às populações indígenas.
Não é possível
alegar surpresa ou se estarrecer diante da defesa do AI-5. Na verdade, em prol
da realização da agenda neoliberal, na melhor hipótese se auto iludiram,
acreditando que poderiam cooptar ou moderar Bolsonaro.
Mas
a defesa do AI-5 e da ditadura sempre esteve lá.
Vamos
novamente lembrar, o chamado filho 03, que agora diz que considera o AI-5
necessário, é o mesmo que, há algum tempo, disse que “um soldado e um cabo”
bastavam para fechar o STF. Óbvio que sem o poder coercitivo de um AI-5, isto
nunca seria possível.
O
presidente, então ainda deputado, proferiu no plenário da Câmara um voto em que
homenageou um dos mais notórios e sanguinários torturadores do regime militar.
Aquele coronel só agiu com tal brutalidade contra os opositores do regime
militar porque estava protegido pelo AI-5.
Jair
Bolsonaro afirmou em entrevista que a ditadura militar cometeu poucos
assassinatos de opositores políticos. E que os militares deviam ter matado
“pelo menos uns 30 mil”. Também afirmou, na campanha do ano passado, que, se
vencesse a eleição, só restariam dois caminhos aos petistas – o exílio ou a
prisão – e de que maneira isto seria possível sem a força brutal de um ato
institucional como o AI-5?
É
estranho que me perguntem o que eu acho da última declaração sobre o AI-5, pois
a minha vida toda lutei, e continuo lutando, contra o AI-5, seus assemelhados e
seus defensores. O Estadão, que me faz esta pergunta, também deve e precisa
responder, pois sua posição editorial tem sido, diga-se com muita gentileza, no
mínimo ambígua diante da ascensão da extrema direita no País.
Quem
nunca questionou as ameaças da família Bolsonaro com a firmeza necessária e
que, em nome de uma oposição cega, covarde e irracional ao PT, se omitiu diante
do crescimento do ódio e da extrema-direita, tornou-se cúmplice da defesa
canhestra do autoritarismo neofascista.
Publicado
originalmente no portal do PT com foto de Leonardo Contursi
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