14 de novembro de 2019

Os rumos do bolsonarismo no Ceará por Érico Firmo


O bolsonarismo não é força política hegemônica no Ceará, mas tem força considerável principalmente em Fortaleza. No Interior também, vale frisar. Embora a força de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja preponderante, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem muito eleitor no Interior. Na Capital, muito mais.

A força de Bolsonaro no Ceará é maior do que a de seus interlocutores no Estado. Verdade que o presidente teve 28,9% dos votos no Estado, contra 71,1% de Fernando Haddad (PT). Mas a força política do grupo que estava até agora no PSL era muito menor que esses 28%. Em Fortaleza, Bolsonaro ficou na frente de Haddad no primeiro turno e, no segundo turno, teve 44,4% dos votos válidos. A força política dos aliados fica muito abaixo disso.

Isso era assim até agora e o quadro fica ainda mais confuso com saída do presidente do PSL. O partido no Ceará vinha em pé de guerra há meses, com guerra aberta entre os parlamentares da legenda.

Na crise entre Bolsonaro e o PSL, o Estado teve protagonismo em um importante episódio, quando foi divulgada um áudio do presidente, cujo vazamento foi atribuído ao deputado federal Heitor Freire.

Trata-se do presidente do partido no Ceará, cujo comando tem sido exercido de forma dura. Destituiu direções municipais, afastou adversários internos e colocou aliados. Ele foi o organizador do palanque de Bolsonaro no Estado, o articulador. Após a eleição, buscou se colocar como porta-voz e negociador das posições do governo.

O caso do áudio implodiu suas relações com o bolsonarismo. Heitor Freire fez campanha colado a Bolsonaro e se vinculou a ele absolutamente. Depois do episódio, negou veementemente ter sido responsável e jurou fidelidade a Bolsonaro. Seu destino político se torna uma grande interrogação.

A nova configuração da base de Bolsonaro no Ceará
André Fernandes foi o deputado estadual mais votado do Estado e já era o membro do PSL com mais força eleitoral. Para a Assembleia Legislativa, teve 12,5 mil votos a mais do que Freire teve para a Câmara dos Deputados. Fernandes concorreu contra muito mais adversários, numa eleição cujas votações são sempre mais pulverizadas.

Fernandes rompeu com Freire. Perdeu o comando do PSL em Fortaleza, mas hoje se credencia como nome principal do bolsonarismo no Ceará.

Capitão Wagner e o bolsonarismo
Capitão Wagner (Pros) acompanha de longe os rumos do bolsonarismo cearense. Ele mantinha conversas com o PSL. Freire pretendia apoiá-lo, mas queria indicar o candidato a vice. Wagner não se comprometia. Parece ter feito bem.

André Fernandes, por sua vez, não era a voz mais simpática do PSL à aliança com o Capitão. Preferia candidatura própria.

Bolsonaro contra o relógio
Para ter condição de lançar candidatos nas eleições 2020, o novo partido, Aliança pelo Brasil, precisará estar formado até o começo de abril. O prazo é curto e improvável. Precisa colher meio milhão de assinaturas, o que não será difícil. Depois disso, há rito lento na Justiça Eleitoral. Inclui conferência de assinaturas, designação de relator, está sujeito a pedido de vistas.

O partido de Bolsonaro só disputará as eleições municipais de 2020 se for criado em tempo recorde, coisa sem precedente. Se não, Bolsonaro terá de negociar com partidos para abrigarem seus filiados. Método bem velha política.

Com informações portal O Povo Online

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