Fernando Collor, em campanha, foi o primeiro presidente eleito após a Ditadura Militar (Foto: Valério Ayres) |
O
Brasil comemora na próxima sexta-feira (15/10) 30 anos da retomada do voto direto para
presidente da República. O direito de livre escolha da população foi
restabelecido depois de 21 anos de ditadura militar (1964-1985) e de um governo
civil eleito indiretamente, o que impulsionou a redemocratização. O retorno às
urnas foi sob a égide de uma nova Constituição, promulgada no ano anterior.
Mas, após três décadas, essa jovem democracia enfrenta o desafio de se manter
viva.
Todos
queriam participar da corrida presidencial de 1989, de políticos a eleitores,
que assistiam aos debates como “se fosse novela das oito”, diz Guilherme Afif
Domingos, um dos 22 candidatos à Presidência da República em 1989, pelo PL. Na
avaliação dele, uma das principais semelhanças em relação a 2019 foi a fraca
participação das grandes legendas.
“Isso
se mostrou um retumbante fracasso. A máquina não funcionou, o que funcionou foi
o produto”, lembra Afif. Em 15 de novembro de 1989, o então governador de
Alagoas, Fernando Collor de Mello, filiado ao PRN, foi eleito diretamente pelos
brasileiros para governar o país. Em um corrida com 22 candidatos, venceu, no
segundo turno, Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT, em extrema polarização política.
Em
2003, Lula aproveitou o receituário liberal de FHC, mas acrescentou a
preocupação social, até então inédita no país. Fora do poder, viu imagem e
legado comprometidos com denúncias de corrupção e a condução à prisão
Para
o cientista político Lúcio Rennó, da Universidade de Brasília (UnB), tanto em
1989 quanto em 2018 o cenário era propício para a ascensão de alguém de fora do
sistema, que representasse o novo, tolerável para o sistema produtivo e com
agenda voltada para a modernização econômica.
Collor
encarnava a renovação. Mas, três anos depois, renunciou ao mandato e um
processo de impeachment no Senado suspendeu seus direitos políticos. O hoje
senador Collor (PROS-AL) também vê semelhanças entre seu governo e o de
Bolsonaro.
“Certos
episódios e eventos me deixam muito preocupado. Talvez não cheguemos a um bom
termo sobre o mandato mal exercido pelo presidente da República — a começar por
essa falta de interesse em construir uma base sólida de sustentação no
parlamento”.
Bolsonaro
conquistou a Presidência empunhando bandeiras semelhantes às de Collor, em
1989. O capitão reformado se apresentou com as promessas de combate à corrupção
e de renovação política. Foi eleito da mesma forma que o hoje senador, em meio
a uma forte polarização política, crise econômica e vencendo, também, em
segundo turno, um petista, Fernando Haddad. Em mais uma semelhança com 30 anos
atrás, enfileira desafetos políticos.
O
cientista político Jairo Nicolau, da Fundação Getulio Vargas (FGV), não vê
tantas semelhanças entre os pleitos de 2018 e 1989, embora reconheça que a
campanha do ano passado também mudou as estruturas da política por não ter sido
disputada entre PT e PSDB. “Por isso, se fez analogia com 1989. Os partidos
tradicionais também enfrentaram dificuldades e não tinham candidato governista
competitivo”.
Segundo
ele, em 1989 eram fortes os componentes de empolgação e de envolvimento; em
2018, o cenário foi de “dramas, atentados e prisões”. “As crises dos últimos
anos resultaram em raiva e de polarização”.
O
cientista político Ricardo Ismael, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do
Rio de Janeiro, concorda com Jairo, mas aponta uma semelhança: a falta de
importância que Bolsonaro dá a uma base estável. “Collor também tinha um
discurso de ‘faz e acontece’, como se não precisasse das instituições”.
Nos
últimos 30 anos, o cenário econômico mudou mais do que o político, avaliam
especialistas. Mas os problemas que levam às dificuldades de a economia
deslanchar, agora, são outros: se em 1989 a hiperinflação assustava, em 2019 há
a necessidade de um ajuste fiscal.
A
situação de hoje, para o economista José Ronaldo Souza Júnior, diretor de
Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), é completamente diferente daquela de 1989. O problema mais óbvio,
lembra, era a inflação, que chegou a quatro dígitos. Já a Previdência não era
considerada descontrolada em 1989. Havia mais jovens do que idosos e a
expectativa de vida era de 66 anos, pelos dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (chegou a 66,93 anos em 1990). Ainda assim,
especialistas começavam a alertar para um futuro colapso. “Como ainda não
causava efeito, nada foi feito”, diz José Ronaldo.
A
partir da eleição de Collor, foi iniciado um processo de abertura,
complementado pelos governos seguintes, lembra Igor Rocha, diretor Econômico da
Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib). Ele
considera que, apesar da agenda liberal, o governo Bolsonaro ainda não mostrou
a que veio: o programa de privatizações apresentou poucos resultados em 2019,
e, apesar do discurso, algumas interferências do presidente na economia
"assustam os investidores".
Eleições
presidenciais:
1989
Candidatos:
22
Eleitores
aptos: 82 milhões
Votos
válidos:
66,2
milhões (97,17%)
Votos
em branco:
986,4
mil (1,4%)
Votos
nulos:
3,1
milhões (4,42%)
Resultado
final:
Fernando
Collor (PRN) - 53,03%
Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) - 46,97%
2018:
Candidatos:
13
Eleitores
aptos: 147,3 milhões
Votos
válidos: 104,8
milhões (90,43%)
Votos
em branco: 2,5
milhões (2,14%)
Votos
nulos: 8,6
milhões (7,43%)
Resultado
final:
Jair
Bolsonaro (PSL) - 55,13%
Fernando
Haddad (PT) - 44,87%
Com
informações portal Correio Braziliense
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