Camilo
Santana falou, enfim, sobre o imbroglio entre seu partido e Ciro Gomes. Foi à
imprensa sudestina, ao jornal O Estado de S. Paulo, e, considerando seu estio
pessoal, pode-se dizer que ele puxou as orelhas do aliado pedetista ao avaliar
como "erro estratégico" sua decisão de mirar o PT. E, de fato, o é.
No
detalhamento de sua avaliação, porém, Camilo vale-se de pelo menos um
pressuposto, dentre outros, que demandará algum tempo mais para se ter como
incontestável. Para ele, Ciro erra ao atacar Lula porque o líder petista
"não será mais candidato" e, por isso, não representaria ameaça ao
projeto do pedetista de ser o nome das esquerdas em 2022, na sucessão de Jair
Bolsonaro.
Lula
tem dito que, de fato, ser candidato mais uma vez à presidência não é do seu
interesse. Pode ser verdade, sem que isso signifique que de fato ele não queira
e muito menos que a militância esteja disposta a lhe oferecer descanso na
pressão que certamente fará para que aceite a missão. Especialmente no caso de
permanecer sendo o nome mais forte quando a opinião pública for consultada e, é
evidente, imaginando-se que dê resultado a luta do ex-presidente para ter seus
direitos políticos restabelecidos.
De
qualquer maneira, ajuda àqueles que o defendem dentro do PT que Camilo expresse
sua opinião e o faça contrariando o mais velho dos irmãos Ferreira Gomes. Dos
três com atuação política, Cid e Ivo são os outros, é exatamente aquele de quem
parece mais distante, deixando-o mais à vontade para uma postura crítica em
relação à opção estratégica dele nos últimos dias de focar seu partido e o Lula
diretamente nos ataques em pronunciamentos públicos, nas entrevistas e debates
de que participa.
Quanto
aos erros de Ciro na estratégia, são flagrantes, ao meu ver, e apenas
dificultam mais sua caminhada, que já começou, rumo ao Palácio do Planalto. Uma
outra possibilidade está posta e indicaria o experiente político dentro de um
movimento de mudança de pólo (mais uma vez), saindo da centro-esquerda no rumo
da volta à centro-direita, o que exigiria mesmo o distanciamento do PT, do
petismo, de Lula e do lulismo.
Duvida-se,
se assim o for, que uma nova demonstração de flexibilidade ideológica da parte
dele ajude a construir uma história que, dessa vez, tenha final feliz.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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