22 de outubro de 2019

Uma análise da reação de Camilo aos ataques de Ciro contra o PT por Guálter George


Camilo Santana falou, enfim, sobre o imbroglio entre seu partido e Ciro Gomes. Foi à imprensa sudestina, ao jornal O Estado de S. Paulo, e, considerando seu estio pessoal, pode-se dizer que ele puxou as orelhas do aliado pedetista ao avaliar como "erro estratégico" sua decisão de mirar o PT. E, de fato, o é.

No detalhamento de sua avaliação, porém, Camilo vale-se de pelo menos um pressuposto, dentre outros, que demandará algum tempo mais para se ter como incontestável. Para ele, Ciro erra ao atacar Lula porque o líder petista "não será mais candidato" e, por isso, não representaria ameaça ao projeto do pedetista de ser o nome das esquerdas em 2022, na sucessão de Jair Bolsonaro.

Lula tem dito que, de fato, ser candidato mais uma vez à presidência não é do seu interesse. Pode ser verdade, sem que isso signifique que de fato ele não queira e muito menos que a militância esteja disposta a lhe oferecer descanso na pressão que certamente fará para que aceite a missão. Especialmente no caso de permanecer sendo o nome mais forte quando a opinião pública for consultada e, é evidente, imaginando-se que dê resultado a luta do ex-presidente para ter seus direitos políticos restabelecidos.

De qualquer maneira, ajuda àqueles que o defendem dentro do PT que Camilo expresse sua opinião e o faça contrariando o mais velho dos irmãos Ferreira Gomes. Dos três com atuação política, Cid e Ivo são os outros, é exatamente aquele de quem parece mais distante, deixando-o mais à vontade para uma postura crítica em relação à opção estratégica dele nos últimos dias de focar seu partido e o Lula diretamente nos ataques em pronunciamentos públicos, nas entrevistas e debates de que participa.

Quanto aos erros de Ciro na estratégia, são flagrantes, ao meu ver, e apenas dificultam mais sua caminhada, que já começou, rumo ao Palácio do Planalto. Uma outra possibilidade está posta e indicaria o experiente político dentro de um movimento de mudança de pólo (mais uma vez), saindo da centro-esquerda no rumo da volta à centro-direita, o que exigiria mesmo o distanciamento do PT, do petismo, de Lula e do lulismo.

Duvida-se, se assim o for, que uma nova demonstração de flexibilidade ideológica da parte dele ajude a construir uma história que, dessa vez, tenha final feliz.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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