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| Delegados e delegadas no Congresso do PT em Fortaleza (Foto: Tainá Duete) |
Em
etapa estadual do Congresso do Partido dos Trabalhadores realizada neste fim de
semana, imperou no Ceará tese que mantém linha "pacífica" da sigla
com relação ao governador Camilo Santana (PT) e aos irmãos Cid e Ciro Gomes
(PDT). A corrente da "autocrítica", representada por Luizianne Lins e
que cobra reavaliação da aliança com pedetistas, acabou esmagada com menos de
5% dos votos. Ou seja, pelo menos, por enquanto, petistas preferem seguir
estratégia "pragmática", sem qualquer intenção de responder à altura
as muitas críticas que Ciro Gomes vem fazendo ao partido e o seu principal
líder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Hoje,
as duas lideranças partidárias com o controle do partido em mãos, o presidente
eleito do PT Fortaleza, vereador Guilherme Sampaio, e o líder da corrente
majoritária no Ceará, deputado José Guimarães, negam que isso signifique uma
submissão ao primogênito Ferreira Gomes. Em entrevista à coluna, Guimarães
prometeu resposta nas urnas: Tem formulação mais forte do que a que a gente tem
hoje, de ter uma candidatura própria do PT em Fortaleza? Essa coisa de ficar
polemizando, não vamos perder tempo com isso. A gente não diz, faz".
Guilherme
seguiu linha parecida: "A maior resposta que a gente pode dar a críticas
do Ciro é tocar uma tática que coloque o PT em 1º lugar. Aqui, em Fortaleza,
isso é apresentar candidatura própria que se contraponha ao governo Roberto
Cláudio". Ou seja, a linha parece evitar o confronto direto "a la
Ciro" - por declarações à imprensa - e deixar para travar o debate nas
urnas. Reeleito presidente do PT cearense neste fim de semana, Antônio Filho
segue neste mesmo modelo.
O
discurso "altivo" do PT cearense contrasta bastante com as posições
do partido, que tem evitado a todo custo qualquer tipo de desentendimento com
Camilo ou os Ferreira Gomes - mesmo quando, especialmente no último caso, a
recíproca não é verdadeira. Durante a discussão de outras decisões no evento
deste fim de semana, por exemplo, nem mesmo uma moção simples, condenando a
adesão de Camilo Santana ao programa do governo Jair Bolsonaro de escolas
cívico-militares, conseguiu ser aprovada.
Texto
mais longo e crítico ao governador, apresentado inicialmente pela ala do
presidente do PT Fortaleza, Deodato Ramalho, acabou se tornando centro dos
maiores embates do evento. Depois de muito debate e alguns humores até mais
exaltados, acabou prevalecendo uma versão "soft" da moção, muito mais
curta e limpando a barra do governador no caso. Nela, o programa em si é criticado,
mas não a adesão do Ceará. Curiosamente, todos os petistas presentes eram
unânimes em classificar o programa como danoso ou até "fascista", mas
nada que valesse abrir um possível desentendimento com o governador. Veja como
são as coisas.
Resta
saber, neste contexto, se a tal candidatura petista de 2020 vai ser "de
fato" um contraponto a Roberto Cláudio, além de qual será o tamanho da
posição de Camilo Santana nesse debate interno do partido. Atualmente, parece
pouco provável que o governador opte por defender abertamente uma candidatura
petista em face de uma outra lançada pelo bloco do PDT liderado por Cid e Ciro
Gomes e pelo prefeito.
Deve
ser levada em conta, por exemplo, a gratidão do governador por Cid e Ciro
Gomes, principais padrinhos de sua eleição, assim como a necessidade do apoio
dos pedetistas na esfera estadual - sozinho, o partido tem 14 dos 46 deputados
estaduais. Dentro do partido, há quem defenda abertamente uma candidatura que
vá "poupar" Roberto Cláudio e focar ataques contra Capitão Wagner
(Pros) e outros candidatos mais à direita. A preço de hoje, a tese parece de
execução muito mais provável.
Deodato
Ramalho, no entanto, afirma que a postura é um erro e que vai acabar
prejudicando a sigla a longo prazo: "Aliança pressupõe um mínimo de
respeito das partes que se aliam. Não é possível que a gente continue fingindo
que não tá acontecendo uma coisa grave, que é a tentativa dos Ferreira Gomes de
destruir o PT". O tempo dirá quem está certo no debate.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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