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14 de outubro de 2019

Até quando o PT Ceará silenciará diante de Ciro? por Carlos Mazza


É surpreendente: a cada entrevista, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) parece subir mais e mais o tom das críticas contra o Partido dos Trabalhadores e seus governos no caminho para se viabilizar para a disputa de 2022. Na mais recente coletânea de declarações do pedetista, realizada em longa entrevista divulgada pelo UOL e Folha de S.Paulo neste domingo, Ciro atua como uma verdadeira metralhadora giratória contra o petismo. Em 57 minutos, ataca a defesa do ex-presidente Lula, a opção do petista em não passar para o regime semiaberto, o governo de Dilma Rousseff e acusa a direção do PT de, "além de se corromper dramaticamente", "perder a noção e apostar na ignorância do povo e no culto à personalidade".

Em alguns momentos, o líder do clã Ferreira Gomes se dava a atacar o PT mesmo quando os entrevistadores o questionavam sobre outros assuntos. Perguntado sobre a existência de clima para um impeachment de Jair Bolsonaro (PSL), por exemplo, Ciro fez longo preâmbulo sobre a experiência vivida na gestão Dilma Rousseff, aproveitando para classificar o governo da petista como "trágico" e "um dos piores da história do Brasil", entre várias outras críticas. Questionado sobre a decisão de Lula de não aceitar a progressão de regime no caso do triplex, foi duro: "O Lula só faz política, 24 horas por dia, e está desmoralizando a Justiça que resta no Brasil".

Ciro joga com o que tem
A linha adotada por Ciro não surpreende tanto. Depois da experiência do ano passado, o ex-ministro deve saber que dificilmente conseguirá tirar votos de Lula ou do segmento mais "fiel" ao petismo, lhe restando como espaço para crescer, portanto, só a parcela de eleitores de Jair Bolsonaro que se arrependeram do voto. Nesse contexto, manter uma rotina de ataques ao PT é essencial, visto que boa parte desse eleitorado era mais antipetista do que "bolsonarista" propriamente dito. Ou seja, Ciro joga com o que tem para jogar.

O que surpreende é o silêncio de petistas cearenses sobre as constantes e cada vez mais graves investidas do primogênito Ferreira Gomes contra o partido. Vale lembrar que, no Ceará, é o PT que tem o mais alto cargo eletivo do Estado, com o governador Camilo Santana. Até agora, retaliações da sigla a Ciro tem ficado restritas a uma ou outra fala de seus lideranças menores, mas não há qualquer repercussão direta dos ataques do aliado em atos. No mês passado, a deputada Luizianne Lins (PT) chegou a se levantar contra isso, cobrando postura mais enérgica do partido. "Ninguém merece ficar sendo detonado dia após dia pelo clã Ferreira Gomes", disse. Ela segue, no entanto, voz minoritária no partido.

Em 2020, a postura do PT na eleição de Fortaleza será relevante para o candidato que o grupo Ferreira Gomes certamente lançará para a sucessão de Roberto Cláudio (PDT). Atualmente, há uma disputa interna no partido entre aqueles que defendem uma candidatura mais "amena", que mire ataques mais em nomes de direita, como Capitão Wagner (Pros), e poupe o candidato do pedetismo. A cada novo ataque de Ciro contra petistas, mais constrangedora parece essa opção.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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