É surpreendente:
a cada entrevista, o presidenciável Ciro Gomes (PDT) parece subir mais e mais o
tom das críticas contra o Partido dos Trabalhadores e seus governos no caminho
para se viabilizar para a disputa de 2022. Na mais recente coletânea de
declarações do pedetista, realizada em longa entrevista divulgada pelo UOL e
Folha de S.Paulo neste domingo, Ciro atua como uma verdadeira metralhadora
giratória contra o petismo. Em 57 minutos, ataca a defesa do ex-presidente
Lula, a opção do petista em não passar para o regime semiaberto, o governo de
Dilma Rousseff e acusa a direção do PT de, "além de se corromper
dramaticamente", "perder a noção e apostar na ignorância do povo e no
culto à personalidade".
Em
alguns momentos, o líder do clã Ferreira Gomes se dava a atacar o PT mesmo
quando os entrevistadores o questionavam sobre outros assuntos. Perguntado
sobre a existência de clima para um impeachment de Jair Bolsonaro (PSL), por
exemplo, Ciro fez longo preâmbulo sobre a experiência vivida na gestão Dilma
Rousseff, aproveitando para classificar o governo da petista como
"trágico" e "um dos piores da história do Brasil", entre
várias outras críticas. Questionado sobre a decisão de Lula de não aceitar a
progressão de regime no caso do triplex, foi duro: "O Lula só faz
política, 24 horas por dia, e está desmoralizando a Justiça que resta no
Brasil".
Ciro
joga com o que tem
A
linha adotada por Ciro não surpreende tanto. Depois da experiência do ano
passado, o ex-ministro deve saber que dificilmente conseguirá tirar votos de
Lula ou do segmento mais "fiel" ao petismo, lhe restando como espaço
para crescer, portanto, só a parcela de eleitores de Jair Bolsonaro que se
arrependeram do voto. Nesse contexto, manter uma rotina de ataques ao PT é
essencial, visto que boa parte desse eleitorado era mais antipetista do que
"bolsonarista" propriamente dito. Ou seja, Ciro joga com o que tem
para jogar.
O
que surpreende é o silêncio de petistas cearenses sobre as constantes e cada
vez mais graves investidas do primogênito Ferreira Gomes contra o partido. Vale
lembrar que, no Ceará, é o PT que tem o mais alto cargo eletivo do Estado, com
o governador Camilo Santana. Até agora, retaliações da sigla a Ciro tem ficado
restritas a uma ou outra fala de seus lideranças menores, mas não há qualquer
repercussão direta dos ataques do aliado em atos. No mês passado, a deputada
Luizianne Lins (PT) chegou a se levantar contra isso, cobrando postura mais
enérgica do partido. "Ninguém merece ficar sendo detonado dia após dia
pelo clã Ferreira Gomes", disse. Ela segue, no entanto, voz minoritária no
partido.
Em
2020, a postura do PT na eleição de Fortaleza será relevante para o candidato
que o grupo Ferreira Gomes certamente lançará para a sucessão de Roberto
Cláudio (PDT). Atualmente, há uma disputa interna no partido entre aqueles que
defendem uma candidatura mais "amena", que mire ataques mais em nomes
de direita, como Capitão Wagner (Pros), e poupe o candidato do pedetismo. A
cada novo ataque de Ciro contra petistas, mais constrangedora parece essa
opção.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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