Gleen Greenwald esteve na cadeira central do programa Roda Viva (Foto: reprodução/Tv Cultura) |
O
jornalista e advogado Gleen Greenwald, fundador do site The Intercept Brasil,
afirmou que os jornalistas têm o dever de divulgar qualquer documento que seja
do interesse público, mesmo que ele tenha sido obtido pela fonte da notícia de
forma ilegal. Gleen, responsável pela divulgação de diálogos entre membros da
Lava Jato, travados no Telegram, foi o entrevistado na noite desta
segunda-feira (02/09) do programa Roda Viva, da TV Cultura.
“Eu
falaria que um jornalista não só pode usar informação assim, mas tem que usar.
Se você olha para o jornalismo no mundo democrático mais importante [Estados
Unidos], com mais benefícios, mais premiados, muitas vezes, talvez a maioria
das vezes, é baseado na informação que foi obtida por uma fonte de maneira
ilícita ou talvez ilegal”, disse Gleen, em resposta à editora do Correio
Braziliense.
“Um
caso muito famoso foram os papéis do Pentágono que mostraram que o governo dos
Estados Unidos, em 1971, estava mentindo durante muitos anos para a população
norte-americana sobre a guerra do vietnã. Esses documentos foram roubados por
Daniel Elisberg, que hoje é um herói nos Estados Unidos. Ele
passou para o The New York Times, que publicou”, disse o fundador do The
Intercept, que citou como outro exemplo a série de reportagens baseada em
material roubado por Edward Snowden, ex-analista de sistemas da Agência
Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês).
Essa
série de reportagens, que recebeu diversos prêmios internacionais, revelou como
o governo dos EUA violava a privacidade das comunicações de várias autoridades
e cidadãos ao redor do mundo.
Durante
o Roda Viva, Gleen passou a maior parte do tempo sendo alvo de perguntas que
questionavam a legalidade e o legado das reportagens que o The Intercept Brasil
vem publicando desde o dia 9 de junho.
Perguntado
se o resultado desse trabalho seria a libertação de vários réus poderosos
condenados por corrupção, como o ex-presidente Lula, o jornalista americano
disse que todas pessoas que cometem crimes devem ser condenadas, mas os juízes
e os procuradores devem atuar com equidistância e dentro da legalidade. “O
processo tem que ser justo para se colocar alguém na prisão”, afirmou o
fundador do The Intercept Brasil.
Durante
a entrevista, Gleen disse que a divulgação das mensagens que indicam
parcialidade na atuação de membros da Lava Jato, ao invés de beneficiar
criminosos, tem o objetivo de denunciar que a corrupção existe também entre as
autoridades do judiciário. “O ex-juiz Sérgio Moro [hoje ministro da Justiça]
cometeu métodos corruptos o tempo todo. Corrupção é corrupção”, disse o
jornalista.
Greenwald
admitiu ter cometido dois erros. Um deles foi quando, pelo Twitter, atribuiu um
diálogo do Telegram a uma pessoa errada. A outra, segundo ele, foi quando
confundiu, no texto de uma notícia, os anos de 2018 e 2019. Para ele, foram
erros pequenos que não abalam a credibilidade das reportagens.
Com
informações portal Correio Brasiliense
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