Carlos Bolsonaro disse que transformação desejada não será por via democrática (Foto: Divulgação/redes sociais) |
O que
Carlos Bolsonaro (PSL) escreveu no Twitter foi: "Por vias democráticas a
transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e
se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e
os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos
diferentes!".
Carlos
se irritou porque a frase foi interpretada como sinalização autoritária.
Explicou-se: "O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam
rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças
urgentes".
Não,
não era isso que ele tinha escrito antes. O vereador do Rio de Janeiro não
expressa seu pensamento de forma muito clara e isso pode ser um atenuante. A
forma como havia escrito dava toda margem à interpretação de que, para a
transformação ser rápida, o caminho não é a democracia. Que talvez seja
inviável na democracia a transformação que eles lá desejam. Que quem não quer
ver "os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos
diferentes", o melhor não é a democracia. É muito diferente de
justifica-se para quem cobra mudanças urgentes. Diferente demais.
A
fala do vereador não mereceria o pedaço de papel em que os parágrafos acima
foram impressos, não fosse ele o filho do presidente. Mais que isso, a voz do
presidente nas redes sociais. Não fosse uma das cabeças que mais influenciam o
presidente.
A
fala não seria tão grave não fosse o contexto. Bolsonaro fez carreira política
defendendo uma ditadura. Defendendo ditadores e torturadores. "Foi um novo
7 de setembro", disse ele sobre 31 de março de 1964. "O Brasil merece
os valores dos militares de 1964 a 1985", afirmou em vídeo publicado nas
redes sociais em 31 de março de 2016. Também disse, em entrevista em 8 de julho
de 2016: "O erro da ditadura foi torturar e não matar". Entre
centenas de discursos. Não é precipitado desconfiar dos princípios democráticos
do presidente.
Aliás,
ele defende autoritarismo não só no Brasil. Em 4 de setembro de 1999, O Estado
de S. Paulo publicou entrevista na qual Bolsonaro disse o seguinte sobre Hugo
Chávez: "É uma esperança para a América Latina. Gostaria muito que esta
filosofia chegasse ao Brasil". E mais: "Acho que ele vai fazer o que
os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força". Ah, mas
Chávez tem apoio de comunistas? Bolsonaro respondeu: "Ele não é
anticomunista e eu também não sou. Na verdade, não tem nada mais próximo do
comunismo do que o meio militar".
Para
além das frases, atos de Bolsonaro se mostram autocráticos. Tenta governar por
decretos - um foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal, outro pelo Senado.
Trabalha para fazer do filho embaixador, faz mudança na Polícia Federal e deixa
de cumprir tradição no Ministério Público em momento que um dos filhos, Flávio,
é alvo de investigações. Nesses últimos pontos, agiu dentro do que a lei
permite a ele. Leva essas prerrogativas ao limite da legalidade, talvez ao
arrepio da moralidade.
A
frase do vereador, isolada, poderia ser apenas uma entre tantas bobagens no
Twitter. No contexto, indica um perigo, talvez uma ambição, de tamanho ainda
ignorado.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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