A direita
brasileira está no poder e, além disso, constrói alternativas a Jair Bolsonaro
(PSL). João Doria (PSDB) se movimenta intensamente para 2022. O Novo, de João
Amoêdo, é das legendas brasileiras com programa e propósitos mais claros. Para
além da Presidência, Doria governa o maior estado do País. O Novo governa o
segundo. O terceiro tem Wilson Witzel (PSC-RJ). Enquanto isso, a esquerda está
um tanto atrapalhada e sem rumo definido.
O
PT tomou a opção programática de priorizar a campanha pela libertação de Luiz
Inácio Lula da Silva, sem abrir espaço para qualquer delineamento de projeto
eleitoral. Ciro Gomes (PDT) se mexe do jeito dele. Marina Silva (Rede) saiu da
eleição bem menor do que entrou. De modo que, a três anos da eleição, parece
hoje mais provável o próximo presidente ser um conservador que um progressista,
a considerar os patamares de organização.
Mas,
esse campo da direita tem um problema no médio ou, pelo menos, longo prazo. Com
Bolsonaro no poder, o campo político se atrela a concepções heterodoxas,
digamos assim. Com Witzel também. São ideias estranhas em qualquer momento do
último quarto de século, no mínimo. Hoje, encontram eco e defensores. Porém, é
um grande risco para o pensamento conservador ficar vinculado a esse tipo de
concepção numa perspectiva histórica.
O
que representa Bolsonaro
Bolsonaro
representa uma direita radical. Não tem ninguém mais extremo que ele nesse
espectro ideológico. Mal comparando, seria para a esquerda como se Lula tivesse
sido eleito em 1989, antes da transição moderada que o levou a 2002. E digo mal
comparando porque Lula nunca foi radical à esquerda como Bolsonaro é à direita.
O petista, por exemplo, nunca foi marxista. (Em 19 de abril de 1975, ao tomar
posse no Sindicato dos Metalúrgicos, Lula disse: "Vemos o homem esmagado
pelo Estado, escravizado pela ideologia marxista, tolhido nos seus mais
comezinhos ideais de liberdade, limitado em sua capacidade de pensar e se
manifestar", conforme registrou Delfim Netto em artigo).
Bolsonaro
não se tornou mais moderado. Até atenuou o discurso pró-ditadura e abandonou a
defesa da pena de morte, bandeiras da primeira década parlamentar. Mas, na
chamada pauta dos costumes, ele, pelo contrário, radicalizou-se em relação ao
que era na virada dos anos 1990 para os 2000. O velho Bolsonaro não tinha uma
pauta contra direitos LGBTs, nem contra comunistas.
Embora
tenha adquirido recentes feições liberais, Bolsonaro é muito mais radical à
direita do que seria Lula à esquerda em 89.
Perspectivas
para a direita
A
direita brasileira passou décadas esvaziada, envergonhada, devido
principalmente ao desgaste dos anos de ditadura. Na última década, o
conservadorismo brasileiro se reorganizou a partir da rejeição ao PT e à
esquerda.
Haver
polos políticos claros e bem organizados é bom para a democracia. É ótimo para
o eleitor, que tem alternativas. Porém, a pretexto de negar tudo que a esquerda
é, a direita bolsonarista avança contra alguns marcos civilizatórios. Isso, no
longo prazo, poderá ter um custo alto para os conservadores.
Afinal,
daqui a uma década ou duas, será que as pessoas irão aplaudir as restrições de
verba para pesquisa científica? Será que verão como razoável o questionamento a
dados de satélite sobre desmatamento? Nomear o próprio filho para embaixada
será visto como algo correto? Fazer diplomacia chamando de feia a primeira-dama
do país alheio será visto como uma estratégia bacana? Será que o massacre de
presos será tratado com naturalidade num país civilizado? O fim da demarcação
de terras indígenas vai ser visto como uma política bacana? No espectro
conservador mais amplo, para além de Bolsonaro, será que apreender livros será
visto como positivo? Uma positiva herança da Idade Média?
A
direita brasileira se atrela no presente a esse tipo de postura. Ao olhar da história
sobre elas amarra seu futuro.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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