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23 de agosto de 2019

O mundo preocupado com o fogo na Amazônia


Não são apenas as queimadas. Não é só a seca. Não se trata apenas do 2019. A degradação da Amazônia se estrutura num contexto histórico e hoje se escancara para o mundo. Pela falta de recursos, de fiscalização e de prioridade.

"E vai atingir todos os processos econômicos do Brasil", afirma a pesquisadora Sandra Bentrán Pedreros. Ela trabalhou por 23 anos em Manaus e sabe o peso da falta de conhecimento e cuidado sobre a floresta tropical de cinco milhões de quilômetros quadrados.

A especialista desenha um cenário de abandono. Sem verbas para pesquisas científicas, com menos água, mais estradas e pessoas, afetando o modo de vida e sustento das comunidades. 

"Fica uma Amazônia desamparada e aí todo mundo se aproveita. Para cortar mais árvores, para fazer mais grilagens. Não tem nem gente para combater os incêndios", expõe Sandra.

A situação descrita chegou a discursos políticos e entidades encarregadas de proteger o ecossistema. A postura do Governo Federal sobre o problema também ganhou espaço. Mas no lugar de contribuir para soluções, apenas acentuou a insegurança e vulnerabilidade brasileira frente a outros países.

Quando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) culpa Organizações Não Governamentais (ONGs) pelas queimadas, ele não apenas desconsidera o trabalho realizado. Mas faz com que o Brasil perca parte do seu protagonismo dos debates climáticos mundiais. Países como Alemanha, Noruega, Reino Unido e até os Estados Unidos investem na proteção ambiental brasileira.

"As ONGs que atuam na região têm acesso aos recursos do Fundo Amazônia. Que tem como maior parte doações desses países", explica o diretor executivo da Associação Brasileira de ONGs, Mauri Cruz. As doações não são feitas apenas por solidariedade. Há interesse econômico e consciência de que a Amazônia é, de fato, o pulmão do mundo. A divisão territorial dos continentes, de acordo com Mauri, é apenas política.

"Investir na preservação ambiental em qualquer lugar do planeta é investir na preservação deles. Esses países conseguem enxergar o nexo casual entre a Amazônia e a vida deles", complementa.

Em agosto, a Alemanha suspendeu o envio de R$ 155 milhões para o Fundo. Em seguida, a Noruega congelou R$ 133 milhões. Os cortes vieram junto ao não reconhecimento, por parte do presidente da República, de dados científicos produzidos pela Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

"Esses dados embasam diretrizes e prioridades de atuação. Tanto em definição territorial quanto em relação aos temas. A boa gestão pública precisa dos dados", analisa Mauri.

Negar as informações científicas produzidas no Brasil significa também desestabilizar o País internacionalmente. "Há uma perplexidade internacional com o que está acontecendo. O fato de o presidente francês (Emmanuel Macron) levar o debate da Amazônia para o G7, do qual o Brasil não faz parte, nos coloca numa posição incômoda", analisa o professor de Ciência Política e Relações Internacionais do Ibmec, Oswaldo Dehon.

A desarticulação da política externa brasileira está demonstrada na questão ambiental, conforme o professor. Principalmente porque o Governo culpa terceiros por uma responsabilidade que lhe cabe. "Isso não faz nenhum sentido. É preciso observar as causas, mas o Governo recua. Existem centenas de instituições técnicas que fazem o controle da Amazônia", ressalta o especialista.

É o Governo quem controla as fronteiras, quem estimula o agronegócio, quem mantém as Forças Armadas em regiões de conflito. É o Governo quem monitora o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). "Ele tem condições de entender o que está acontecendo", frisa o professor.

Com informações portal O Povo Online e imagem de Dida Sampaio AE

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