Sessão plenária do STF (Foto: Nelson Jr.) |
Municípios
e estados que não instituam arrecadação tributária própria poderão ficar sem
repasses voluntários da União. A decisão é do Supremo Tribunal Federal (STF) e
exibe a crise fiscal pela qual passa o Brasil. O
bloqueio abrange recursos direcionados, em sua maior parte, a projetos sociais e
não inclui repasse obrigatórios. A decisão foi proferida ontem, quando a Corte
começou a julgar vários dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
"O que se quer evitar é que aqueles municípios e estados que ignoram a
responsabilidade fiscal recebam um bônus, que seriam as transferências
voluntárias. É evitar que se faça cortesia com o chapéu alheio", afirmou o
ministro Alexandre de Moraes. Seu voto foi acompanhado por todos os ministros.
Hoje,
a maior parte das verbas, principalmente dos municípios, vem da União. A
justificativa é de que apenas dois tributos são originalmente municipais: IPTU
e ISS. "Agora as prefeituras precisarão comprovar que possuem um Código
Tributário e que estão cobrando seus tributos. É como se a LRF dissesse: não
posso deixar que você me veja como uma tábua de salvação, é preciso cumprir sua
competência de instituir e cobrar", avalia o especialista em Direito
Tributário Alexandre Goiana.
Relatório
recente do Tribunal de Contas do Estado (TCE) revelou que apenas dez dos 184
municípios cearenses concentram 84,6% da receita própria arrecadada. "A
maioria dos mais de cinco mil municípios brasileiros é dependente. E não
consegue executar o que a Constituição obriga", analisou Alexandre.
Aplicar uma regularização fundiária que impacte na cobrança de IPTU e ter
conhecimento sobre quem são os contribuintes de ISS são algumas das obrigações
das gestões municipais.
Com
a decisão do STF, as obrigações aumentarão. "Não só será preciso criar a
arrecadação, mas também fomentá-la. Além de gerar a dívida ativa. Criei o
tributo, o contribuinte não pagou, é preciso cobrar", pondera o
especialista.
Para o professor do
Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Pablo Holmes,
o esforço para que se consiga o controle fiscal é importante. Porém, injusto.
"Essa decisão sacrifica ainda mais estados e municípios, que têm
dificuldades gigantescas porque têm poucas competências arrecadatórias. A União
arrecada muito mais, porque a Constituição deu essa possibilidade",
analisa.
As capitais, conforme o professor, principalmente as nordestinas, hoje apresentam certa estabilidade fiscal.
As capitais, conforme o professor, principalmente as nordestinas, hoje apresentam certa estabilidade fiscal.
Nos
pequenos municípios a realidade é outra. Sem capacidade estatal para arrecadar,
fiscalizar ou taxar, eles tendem a ficar ainda mais dependentes de decisões
discricionárias por parte do Governo Federal.
"STF tomou uma decisão que constrange ainda mais os entes federativos. E ajuda a potencializar as chantagens políticas em cima de governadores e prefeitos. Além de não atacar o problema de concentração de renda na União", afirma.
"STF tomou uma decisão que constrange ainda mais os entes federativos. E ajuda a potencializar as chantagens políticas em cima de governadores e prefeitos. Além de não atacar o problema de concentração de renda na União", afirma.
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