A
revista Veja, em parceria com o site The Intercept, revelou ontem (05/07) novas mensagens
entre procuradores da Lava-Jato e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Segundo a revista, para essa reportagem, foram analisadas
mais de 649 mil mensagens no Telegram.
Por
meio de nota, o Ministério da Justiça reitera que não reconhece a autenticidade
de supostas mensagens "obtidas por meios criminosos e que podem ter sido
adulteradas total ou parcialmente".
A
pasta também lamenta que a Veja tenha se recusado a encaminhar a cópia das
mensagens antes da publicação da matéria.
Na nota, publicada no site da pasta, o Ministério rebate às acusações
sobre Bumlai, Musa, Cunha, e interferências de Moro nas operações.
"O
ministro da Justiça e da Segurança Publica sempre foi e será um defensor da
liberdade de imprensa. Entretanto, repudia-se com veemência a invasão criminosa
dos aparelhos celulares de agentes públicos com o objetivo de invalidar
condenações por corrupção ou para impedir a continuidade das
investigações", diz o texto.
Desde
9 de junho, o Intercept divulga mensagens do ministro com os procuradores da
Lava-Jato feitas pelo Telegram, entregues por uma fonte que não teve a
identidade revelada.
A
veracidade das mensagens é questionada por Moro, que chegou a ir à Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania a da Câmara dos Deputados responder alguns
dos questionamentos a respeito do caso. O jornalista Gleen Greenwald, fundador
do The Intercept, também foi convidado à Casa.
Ao portal Correio Brasiliense, um procurador que não quis se identificar confirmou a autenticidade
dos diálogos dos quais ele participa.
Confira os principais pontos do vazamento
publicados na Revista Veja:
Não
ter pressa
Um
dos principais pontos das conversas reveladas nesta sexta é referente a um
pedido de Moro a uma delegada da Polícia Federal em Curitiba, identificada como
Érika Marena. De acordo com a publicação, o ex-juiz retardou a inclusão de uma
prova no processo de Flávio Barra — executivo da Andrade Gutierrez preso na
operação — para manter o processo na capital paranaense e não ser julgado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF).
Documentos
apreendidos com um suspeito indicavam que havia parlamentares envolvidos no
esquema de corrupção. Uma planilha com diversos pagamentos envolvendo políticos
teria sido encontrada. Como parlamentares têm direito a foro privilegiado, as
investigações sairiam da vara de Curitiba e seguiriam para o então ministro
relator da Lava-Jato na Corte, Teori Zavascki.
Entretanto,
Moro pediu à Marena que não tivesse "pressa" em acrescentar esses
documentos aos autos, e o STF não recebeu a informação de que políticos estavam
envolvidos no esquema.
Em
uma conversa em 23 de outubro de 2015, o procurador Athayde Costa pergunta em
um dos grupos da força-tarefa quem sabe onde está um documento apreendido com
Flávio Barra. Marena responde que "o russo (Moro) tinha dito pra não ter
pressa" para incluir os documentos aos autos e que, portanto, tinha
esquecido de fazê-lo. "Vou fazer isso logo", completou Marena.
Sobre
esse caso específico, o Ministério da Justiça garante que não "há qualquer
elemento que ateste a autencidade das suspostas mensagens ou no sentido de que
o então juiz tivesse conhecimento da referida planilha mais de 30 dias
antes".
Faustão
As
mensagens revelam que o apresentador Fausto Silva, da TV Globo, forneceu uma
espécie de assessoria de comunicação a Moro e à força-tarefa da Lava-Jato.
Faustão sugeriu que o agora ministro usasse uma "linguagem mais simples,
do povão" durante as entrevistas ou coletivas.
Segundo
a revista, no dia 7 de maio de 2016, Moro comentou a recomendação do
apresentador do Domingão do Faustão com o procurador Deltan Dallagnol pelo
Telegram. "Ele disse que vocês, nas entrevistas ou nas coletivas, precisam
usar uma linguagem mais simples. Para todo mundo entender. Para o povão. Disse
que transmitiria o recado. Conselho de quem está a (sic) 28 anos na TV. Pensem
nisso", relatou Moro ao procurador. O apresentador confirmou a conversa
com Sérgio Moro à reportagem.
Eduardo
Cunha
No
dia 5 de julho de 2017, Moro questionou Deltan Dallagnol sobre rumores de uma
possível delação premiada do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (MDB-RJ). Na conversa, o então juiz mostrou-se contrário a um possível
acordo. "Espero que não procedam", escreveu Moro às 23h11. "Só
rumores. Não procedem", respondeu Dallagnol três minuto depois.
"Acompanharemos tudo. Sempre que quiser, vou te colocando a par",
finalizou. "Agradeço se me mantiver informado. Sou contra, como
sabe", opinou Moro.
Cunha
teria prometido falar sobre sobre Temer e pelo menos mais 50 deputados,
senadores e ministros, entre outros políticos. A proposta de delação do
ex-presidente da Câmara foi rejeitada pela Lava-Jato um mês depois da conversa
entre Dallagnol e Moro no Telegram.
"Aha
uhu o Fachin é nosso"
Em
13 de julho de 2015, Dallagnol comenta com os colegas do MPF que conversou 45
minutos com o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF). "Aha uhu o Fachin é nosso", diz Dallagnol aos colegas.
Seis
dias antes, a preocupação dos procuradores era que, como a proposta de delação
de Eduardo Cunha atingia políticos com foro privilegiado, a palavra final para
assinar um acordo passava para a Procuradoria-Geral da República (PGR), e a homologação
deveria ser assinada pelo Fachin.
"Faltou
uma prova"
Em
uma conversa de 28 de abril de 2016, Moro avisou Deltan Dallagnol de que havia
faltado uma prova na denúncia de Zwi Skornicki — empresário e lobista acusado
de intermediar propinas no esquema de corrupção da Petrobras. A informação é
dada por Dallagnol à procuradora Laura Tessler, que
foi afastada depois por sugestão do Dallagnol.
Skornicki
tornou-se delator da Lava-Jato e confessou que pagou propinas a funcionários da
estatal, entre eles, Eduardo Musa, também mencionado por Dallagnol em conversa.
"Laura, no caso do Zwi, Moro disse que tem um depósito em favor do Musa e
se for por lapso que não foi incluído ele disse que vai receber amanhã e da
tempo. Só é bom avisar ele", fala Dallagnol. "Ih, vou ver",
responde.
No
dia seguinte, segundo a Veja, o Ministério Público Federal (MPF) incluiu um
comprovante de depósito de US$ 80 mil feito por Skornicki a Musa.
Bumlai
Em
17 de dezembro de 2015, Moro cobrou manifestação do MPF no pedido que revogava
a prisão preventiva do pecuarista João Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Preciso
manifestação MPF no pedido de revogação da preventiva do bmlai ate amanhã meio
dia", sugere Moro. "Ok, será feito" responde Dallagnol.
"Seguem algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender
alguém... pena que parece que quem emitiu a decisão anda meio estranho",
completa.
Com
informações portal Correio Brasiliense
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