Contingenciado,
descentralizado por decreto de março do ministro da Economia, Paulo Guedes, e
por fim, encerrado por reforma administrativa do Governo Bolsonaro. Este é o
atual cenário do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Em busca de dados
atualizados sobre as obras que, já iniciadas, seguiram em
curso, O POVO esbarrou em diversos desencontros de informações dentro dos
ministérios. Por fim, a assessoria de imprensa da Secretaria Especial de
Produtividade, Emprego e Competitividade, ligada ao Ministério da Economia,
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), confirmou encerramento do
programa.
Com
12 anos de existência e marca dos governos de Lula e Dilma, o programa tem
perdido investimento com a crise econômica do País, desde 2014, e acumula
cortes, cancelamentos e até mudança de nome, como ocorreu na gestão de Michel
Temer.
"O PAC acabou, o que estava em andamento foi descentralizado e cada
pasta trata de um grupo de obras (saúde, educação, infra...).", informou,
indicando o Painel de Obras como fonte atualizada dos dados do programa. O site
mostra que a atualização mais recente do PAC foi feita em 30 de junho de 2018.
E foi isso que serviu de base para o levantamento do O POVO.
A
falta de informações mais recentes é criticada por Heitor Studart, presidente
Câmara Setorial de Logística e do Conselho Temático de Infraestrutura (Coinfra)
da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e creditada a
inexistência pública de um plano nacional de logística, que aponte, em cada
modal, as obras prioritárias. Ainda assim, ele vê com bons olhos a
descentralização. Opinião compartilhada com Carlos
Eduardo
Lima Jorge, presidente da Comissão de Infraestrutura da Câmara Brasileira da
Indústria da Construção (Cbic). "Assim (descentralizado) cada ministério,
conhecendo seu próprio orçamento, pode ter mais objetividade e resultados mais
práticos", observa.
Estando no sétimo mês do
governo de Jair Bolsonaro, os especialistas do setor produtivo apontam que
falta celeridade no anúncio do projeto que irá substituir o PAC - o que
corrobora para estagnação da economia e manutenção das elevadas taxas de
desemprego.
"Como
o governo está sendo muito cobrado, porque depois de seis meses a economia não
deslanchou e nem muito menos a geração de emprego, eu acho que eles estão tendo
a percepção que têm na mão uma oportunidade, com esse conjunto de pequenas
obras, de gerar emprego e movimentar a economia regional com muito mais
rapidez. A nossa grande expectativa é que o governo tome o programa, certamente
com outro nome, como bandeira de curto prazo pra geração de emprego", diz
o representante da Cbic.
Em
tratativas com o Governo Federal, Heitor Studart indica que a reformulação do
projeto contará com o setor privado para bancar investimentos. Chamando de
"Programa de Parceria de Investimento", Studart indica que aprovações
de reformas de base, como a recente anuição da reforma da Previdência pela
Câmara dos Deputados, é que criarão o ambiente propício aos investimento do capital
privado.
"No
nosso entender, a capacidade do Estado de investimento esgotou-se. Isso em
âmbito federal, estadual e municipal. Não tem mais capacidade de proporcionar a
demanda de infraestrutura que o País precisa. É preciso atrair o capital
privado, os investimento dos fundos internacionais. E eles só virão com a
estruturação jurídica, econômica e com previsibilidade. Sem isso, nós vamos
ficar como estamos, estagnados". O novo modelo daria abertura para
concessões públicas, como as já feitas em aeroportos e rodovias, e possíveis
privatizações.
Enquanto
a reformulação segue sem ser anunciada, 21% das obras do PAC em todo o País
estão paralisadas, como aponta relatório de maio do Tribunal de Contas da União
(TCU). O órgão classifica as obras como relevantes para o Brasil e indica que
dos "R$ 663 bilhões inicialmente previstos para serem investidos no PAC,
R$ 127 bilhões estão atrelados a obras paralisadas". São 2.914 do PAC
nessa situação, sendo seis delas com indicação de paralisação pelo TCU.
Descaminhos
Por
13 dias, até que fosse informado sobre o fim do programa, O POVO procurou o
Governo Federal. Inicialmente, como nos governos anteriores o programa ficava
sob o escopo do Ministério do Planejamento, o Ministério da Economia foi o
primeiro a ser contactado, no dia 27 de junho. Foi informado por e-mail que o
detalhamento de estágio de obras, solicitado pelo O POVO, "deve ser
tratado com o Ministério do desenvolvimento Regional (MDR), a quem o PAC ficou
vinculado após a reforma administrativa". O ministério foi então
procurado.
Conforme
a assessoria de imprensa, apenas parte das obras estariam a cargo da pasta e
seria necessário procurar o Ministério da Infraestrutura. O contato feito por
telefone e e-mail também no dia 27, e nunca respondido. No dia 28, em nova ligação
ao Ministério da Economia, O POVO foi orientado a solicitar dados da Casa
Civil. A ligação foi realizada e e-mail com solicitação enviado no mesmo dia e
também não respondido.
Sem
retorno, no dia 8 de julho, O POVO procurou a Casa Civil. Foi informado, então,
que o Ministério da Economia seria, após entendimento posto na semana anterior,
o responsável pelo programa - o que foi desconfirmado em ligação, logo em
seguida, pela assessoria da pasta. O número da assessoria da Secretaria
Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade foi repassado, e, por fim,
foi este órgão que informou sobre o fim do PAC.
"Desde
os contingenciamentos do Governo Temer, o PAC foi diminuindo seu percentual de
investimentos. Até a reforma administrativa deste ano, que decidiu
encerrá-lo", informou o e-mail do dia 8. Já no dia 9, um novo e-mail
reforçou a informação sobre o encerramento, mas adiantou que "em caráter
extraordinário, haverá um balanço em agosto". Por enquanto, sem balanço
atualizado e sem indicação de que órgão reúne informações, as perguntas sobre
os serviços que continuaram e sobre o novo programa de obras seguiram sem
repostas.
Sem
repasse de dados mais recente pelo Governo Federal, o Ceará registrava, em
junho de 2018, 1.868 obras do PAC. Dessas, 643 - pouco mais de um terço -
estavam em atraso. De acordo com o levantamento, 190 obras atrasadas estavam
com 0% a 1% de execução. A maioria (84,7%) das obras em atraso com recursos do
PAC são de gestões municipais, ou seja, de prefeituras, muitas sem nem mesmo
recurso designado pela União. Na época, 59 obras atrasadas eram de execução do
Governo do Estado.
"O
impacto econômico é a não geração de empregos e renda, e não resolução de
problemas de infraestrutura do município. Isso sem contar os efeitos sociais e
prejuízos políticos, porque muitas obras têm a expectativa do povo de que a
obra seja realizada e o tempo passa e não aparece o dinheiro para que haja uma
conclusão ou mesmo o início", indica o economista e consultor da
Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Irineu Carvalho. Ele
aponta que as receitas das cidades do Interior são dependentes do repasse de
recursos federais para realização de obras.
Em
Fortaleza, com 94 obras em atraso de execução, 80 empreendimentos são creches,
entre elas, 73 nem mesmo tiveram investimento designado pelo balanço da União.
Conforme Dalila Saldanha, titular da Secretaria Municipal da Educação (SME), os
serviços com 0% de execução foram dados como cancelados, em 2018, pelo Governo
Federal. Segundo a secretária, cinco creches com recursos do PAC serão
entregues até o fim deste ano. A gestão tenta agora reverter o cancelamento de
19 obras, sendo oito delas já em execução e 11 em etapa de chamamento de
construtoras. As creches estão sendo feitas com recursos do Município.
"A
gente tem sido recebido pelo (Ministério da Educação), conversado com áreas
técnicas, mas têm obras que nós comprovamos que está iniciadas, e eles não
reverteram os cancelamento. Eles justificam que foi uma decisão do comitê
gestor do PAC simplesmente", afirma Dalila.
A secretaria classifica como
um "prejuízo incalculável para Educação". "O sucesso da criança
na escolarização tem uma forte relação com a etapa da primeira infância",
indica. Ela informa ainda que outras 12 creches que foram canceladas, que a
Prefeitura não está recorrendo dos cancelamento, deverão ser custeadas também
pelo Município.
Por
meio de nota, a assessoria da Superintendência de Obras Públicas do Estado do
Ceará (SOP-CE), que o número de junho de 2018 de 59 obras atrasadas do PAC é
agora de 40 obras em atraso. "Os atrasos na entrega da maioria delas se
devem a problemas de repasse de verba da União. O Governo do Estado do Ceará
tem trabalhado no sentido de solucionar essas questões que resultam na demora
da conclusão desses projetos", afirma.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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