Sergio
Moro vai mergulhando, cada vez mais fundo, em um torvelinho de toscas
justificativas, surreais tergiversações e grotescas incoerências.
Quando
os “hackers” suspeitos de terem invadido os celulares de Sergio Moro, Deltan
Dallagnol e outras figuras públicas foram presos pela PF, na quarta-feira (24),
Moro correu a twittar que eram “pessoas com antecedentes criminais, envolvidas
em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que
divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime.”
Eis
um argumento positivamente ridículo. Se pessoas com antecedentes criminais não
podem ser fontes, o que dizer de Alberto Youssef, o delator que deu início à
Lava Jato, cujas informações foram aceitas por Moro mesmo após este descumprir
um acordo de delação premiada em outro processo, o do Banestado? Detalhe: a
primeira delação de Youssef foi, assim como a da Lava Jato, homologada pelo
próprio Moro.
Glenn
Grrenwald sepultou o argumento com uma sequência de posts no Twitter que não
deixa margem para qualquer discussão. Na cobertura do WikiLeaks, em 2013, a
Globo usou e abusou de informações sabidamente roubadas da NSA por Edward Snowden,
inclusive comemorando prêmios jornalísticos conquistados pela cobertura do
caso. Assim como Moro, a Globo muda radicalmente seus padrões éticos de acordo
com seus interesses políticos.
A
narrativa que Moro, Globo e mais uns tantos tresloucados tentam impor ao país –
a de que a ação dos tais “hackers” é o que importa no escândalo da Vaza Jato, e
não o conteúdo estarrecedor das mensagens reveladas – ficou ainda mais
prejudicada com o depoimento de um dos presos pela PF. Walter Delgatti Neto
afirmou que encaminhou as mensagens a Glenn Greenwald “de forma anônima,
voluntária e sem cobrança financeira“. Delgatti afirmou ainda que os ataques
aos celulares se deram antes do contato com Grennwald. O depoimento confirma o
que o The Intercept Brasil vem afirmando desde o início da operação e
desacredita a estapafúrdia tese de Moro de uma conspiração contra a Lava Jato.
Até porque, conforme informado pelo próprio Moro, celulares de diversas figuras
públicas foram invadidos, não só de integrantes da famigerada operação.
Após
o depoimento que não lhe ajudou em nada, Moro simplesmente anunciou, em ligação
para o presidente do STJ, que o material obtido com os hackers será “descartado
para não devassar a intimidade de ninguém“.
Sim,
Moro quer nos convencer que está preocupado com a intimidade dos hackeados e
não com sua própria sobrevivência ao defender que o material que poderia
atestar a veracidade (ou não) das suas conversas ilegais seja destruído. Se as
mensagens foram mesmo alteradas, a última pessoa a querer destruir as
evidências disso seria Moro, não é mesmo? Falar em destruição das provas é uma
evidente admissão da veracidade das conversas divulgadas pelo Intercept.
O
detalhe é que o ex-juiz nem tem atribuição para determinar destruição de
provas, como já declararam, de forma indireta, o ministro do STF Marco Aurélio
Mello e até a Polícia Federal. Muito embora o país tenha se acostumado com essa
estranha competência absoluta de Moro, ela não pode durar para sempre.
O
fato é que se havia algum resquício de racionalidade nas ações do ainda
ministro da Justiça e da Segurança Pública, com essa história da destruição das
provas ele acabou de chutá-lo, o resquício, para o espaço.
Mesmo
que Moro imponha, mais uma vez e sabe-se lá como, suas tendências ditatoriais e
as provas sejam destruídas, as evidências da veracidade dos diálogos revelados
só fazem acumular, conforme demonstra outra sequência de twittadas de
Greenwald.
O
destemido jornalista disse que a resposta para o diversionismo dos hackers será
mais revelações. Ele anunciou também que novos parceiros entrarão na cobertura,
no mesmo tweet em que compartilhou uma crítica do Estadão a Moro e aos
procuradores, o que parece um indício de que o conservador jornal paulista
também terá acesso aos arquivos. Tal jogada isolaria ainda mais a Globo na
defesa do seu pupilo – o Estadão também não vinha dando muito destaque às
revelações da Vaza Jato.
Moro
está, definitivamente, encurralado.
Ocorre
que um autoritário com poder, perigoso por natureza, incrementa seu potencial
de dano à sociedade ao se ver em situação de desespero. Se, durante a Lava
Jato, empresários e políticos foram coagidos até mesmo a mudarem seus
depoimentos, o que um ministro megalomaníaco e desesperado poderia fazer com
presos muito menos poderosos?
Moro
já ultrapassou o limite do absurdo em sua insana estratégia de defesa. Ainda
assim, deve seguir com esta louca cavalgada até que fique completamente
insustentável. O espetáculo da sua cada vez mais provável queda será um dos
mais dantescos da história política brasileira.
Publicado
originalmente no blog O Cafezinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.