Em
uma gravação de áudio, revelada pelo site The Intercept Brasil nesta
terça-feira (09/07), o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa
da Lava-Jato em Curitiba, aparece comemorando e informando os colegas de
Ministério Público sobre a decisão do ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal
Federal (STF), que proibiu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de dar
entrevista ao jornal Folha de S. Paulo pouco antes do primeiro turno das
eleições presidenciais de 2018.
De
acordo com o site, o áudio foi enviado ao colegas pelo procurador por meio do
aplicativo de mensagens Telegram em 28 de setembro de 2018. Naquela data, pela manhã, o ministro do Supremo Ricardo
Lewandowski havia autorizado que Lula concedesse uma entrevista à jornalista
Mônica Bergamo. Mais tarde, uma liminar de Fux suspendeu essa decisão.
O
Intercept diz, então, que Dallagnol enviou uma mensagem de texto seguida de um
áudio. "Urgente. E segredo. Sobre a entrevista. Quem quer saber ouça o
áudio", escreveu Dallagnol. No arquivo sonoro, o procurador avisou da
decisão de Fux e celebrou, pedindo ainda que ninguém comentasse a novidade,
para não dar tempo de "o outro lado" entrar com recursos.
Dallagnol
disse: "Caros, o Fux deu uma liminar suspendendo a decisão do Lewandowski
que autorizava a entrevista [de Lula] dizendo que vai ter que esperar a decisão
do plenário. Agora, não, não... Não vamos alardear isso aí. Não vamos falar pra
ninguém. Vamos manter, ficar quieto, para evitar a divulgação o quanto for
possível. Porque quanto antes divulgar isso, anters vai ter recurso do outro
lado, antes isso aí vai para o plenário. Então o quanto assim, é, o pessoal
pediu pra gente não comentar aí publicamente, e deixar que a notícia surja por
outros canais para evitar precipar recurso de quem, é... tem uma posição
contrária a nossa. Mas a notícia é boa pra começar, começar, terminar bem a
semana depois de tantas coisas ruins. E começar bem o fim de semana. Abraços,
falou".
A
entrevista pedida pela Folha foi pivô de uma verdadeira batalha judicial.
Inicialmente, foi proibida pela 12ª Vara Federal em Curitiba, depois foi
autorizada pelo ministro Ricardo Lewandowski e, em seguida, vetada por Fux.
Lula só foi entrevistado em abril deste ano.
Mais
cedo, naquele 28 de setembro, segundo o Intercept, por volta das 11h24, os
procuradores da Lava-Jato já haviam se mostrado preocupados e indignados. Nas
mensagens, a procuradora Laura Tessler teria chamado a decisão de Lewandowski
de "piada, "revoltante" e "um verdadeiro circo".
Isabel Groba, também procuradora, teria respondido: "Mafiosos!".
O
áudio de Deltan, confirmando que Fux vetou a entrevista, só chegou 12 horas
depois da manifestação dos procuradores no grupo do Telegram.
O
outro lado
Ao
site, a Força-Tarefa enviou uma nota em que acusa o portal de prejudicar o
direito de resposta e de análise do material, assim como reforça que as
mensagens são oriundas de crime cibernético. Veja nota na íntegra:
"O
site se recusou a enviar o material usado na reportagem para avaliação da
força-tarefa, prejudicando o direito de resposta e de análise do material. As
mensagens que têm circulado como se fossem de integrantes da força-tarefa são
oriundas de crime cibernético e não puderam ter seu contexto e veracidade
verificados. Diversas dessas supostas mensagens têm sido usadas, de modo
fraudado ou descontextualizado, para embasar falsas acusações que contrastam
com a realidade dos fatos.”
Primeiro
áudio
Desde
que o The Intercept começou a publicar mensagens atribuídas ao ministro da
Justiça, Sérgio Moro, e procuradores da Lava-Jato, o site estava sendo cobrado
pela publicação de áudios que comprovassem a veracidade das mensagens.
Um
dos argumentos do procurador Deltan Dallagnol é que as mensagens, até aqui,
além de terem sido obtidas por meios criminosos, também teriam sido
adulteradas. Com a publicação de áudios, o The Intercept quer reforçar o
discurso de autenticidade.
Glenn
Greenwald, um dos fundadores do portal, chegou a ser desafiado pela deputada
federal Carla Zambelli (PSL-SP) durante uma audiência na Comissão de Direitos
Humanos e Minorias em 25 de junho, para mostrar provas sobre a autenticidade do
material. "Desafio o Glenn a tocar o áudio agora. Porque falar do Moro,
pedir renúncia, cara de pau vir aqui falar isso", disse a deputada.
Em
resposta, o jornalista disse que iria soltar o áudio quando o material
estivesse publicado e que a parlamentar "vai se arrepender muito de
pedir".
Em
29 de junho, ao Correio, um procurador confirmou a veracidade das mensagens
publicadas.
Moro
Em
entrevista ao Correio no último domingo (7/7), o ministro Sérgio Moro admitiu
que parte das mensagens poderia ser verdadeira, mas reforçou que elas
"foram obtidas por hackers criminosos" e que "podem ter sido
adulteradas total ou parcialmente e não foram publicadas a partir do contexto
delas", disse.
"Podem
ter mensagens que tenham ocorrido. Aquela mensagem 'Confio no ministro do
Supremo'. Qual é o problema em falar nisso? Nenhum", considerou. "Mas
pode ter uma mexida numa palavra, na própria identificação e na atribuição
dessas mensagens. Eu não tenho esse material", afirmou.
Dallagnol
Na
segunda-feira (8/7), o procurador Deltan Dallagnol recusou o convite do
Congresso Nacional para prestar esclarecimentos sobre as mensagens divulgadas
pelo The Intercept. Moro e Glenn já tinham sido convidados e aceitaram o
convite.
Dallagnol
foi chamado para comparecer à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da
Câmara, e à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Segundo o
procurador as manifestações a respeito do diálogo devem ocorrer "na esfera
técnica".
'Quem
é esse pessoal?'
Pelo
Twitter, um dos editores do The Intercept Leandro Demori comenta o material
divulgado nesta terça-feira. "Deltan manda um áudio falando sobre a
decisão de Fux de barrar entrevista de Lula à Monica Bérgamo. Para ele, naquele
momento, a decisão ainda não é pública. Tanto que pede segredo. E diz 'o
pessoal pediu pra gente não comentar publicamente'. Que pessoal?",
questiona Demori.
Logo
em seguida, o editor comenta a frase "In Fux We Trust", fazendo
referência a uma frase do ministro Sérgio Moro, em uma das conversas com
Deltan, após o procurador dizer que ""Fux disse para contarmos com
ele para o que precisarmos". Esta é a segunda vez que o ministro do STF
aparece nas mensagens vazadas.
Com
informações portal Correio Brasiliense
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