Na cerimônia, presidente Bolsonaro fez defesa emocionada de seu governo (Foto: Ed Alves) |
O
governo se preparou para anunciar na cerimônia alusiva aos 200 dias de gestão,
um robusto pacote envolvendo injeção de dinheiro na economia e aquecimento da
demanda via liberação de saques de contas do Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) e do PIS-Pasep. No entanto, brecado pela Caixa Econômica Federal
— que justificou não ter havido tempo hábil de preparação para os anúncios — e
pelo setor da construção civil, contrário à medida, sobrou para o presidente
Jair Bolsonaro fazer a defesa pessoal de seu governo e sinalizar interesse na
reeleição.
“Nós
temos um desafio pela frente. Entregar em 2023 ou em 2027 um Brasil melhor para
quem nos suceder. Mas isso requer sacrifícios de todos nós, sem exceção. Nós
podemos mudar o futuro do Brasil. Nós podemos sair da teoria para a prática”,
sustentou em seu discurso.
Antes
de Bolsonaro, quem falou no evento foi o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
(DEM-AP), com declarações consideradas como uma sacolejada no chefe do
Planalto. O parlamentar pregou o fortalecimento das instituições e dos Três
Poderes.
“Só
com essas instituições fortes nós poderemos, de fato, dizer que vivemos numa
democracia consolidada”, frisou.
Ele
ressaltou que o Congresso teve a maior produção legislativa dos últimos 25
anos, e manifestou que todos buscam “acertar mais do que errar, todos os dias”.
“Muitas vezes, cometemos equívocos. Que tenhamos possibilidade de acertar,
errar e corrigir, e não errar mais.”
A
resposta não tardou. Emocionado, Bolsonaro citou que a cadeira presidencial é
de “kriptonita”, em referência à disputa de poder no país, que, para ele,
ocorre “até dentro de casa”. Ele ressaltou que o governo busca fazer o melhor.
“É
difícil? É. Estamos vencendo paradigmas. São seis meses sem uma acusação de
corrupção no governo. Para os críticos, não basta. É obrigação? É obrigação,
sim. E nós temos que buscar atingir esses objetivos. Coisas simples, mas que
interessam a todos”, declarou.
A
partir daí, o presidente engatou um forte discurso sobre os feitos do
Executivo. Mencionou o projeto de lei que ampliou o prazo de validade da
Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de cinco anos para 10 e enalteceu o selo
agrícola — pauta principal anunciada na ausência do pacote econômico —, que
regulamenta a comercialização de produtos artesanais nos mercados externo e
interno. Ali, abriu brecha para a defesa que ocupou mais espaço no discurso: a
da indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) à embaixada brasileira em
Washington.
A
análise feita por parlamentares ouvidos pelo Correio após o evento, no Salão
Nobre do Palácio do Planalto, é que os discursos são mais profundos do que
deixam transparecer. Um deputado aliado aponta para muitos desafios no
pós-Previdência. Na Câmara, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), ausente na
cerimônia de ontem, deve se articular para não deixar o governo impor sua
agenda e negociará ponto a ponto as prioridades futuras.
No
Senado, com a Previdência em pauta no segundo semestre, além da sabatina a Eduardo
Bolsonaro, as batalhas vão se avolumar. “O que prevejo para os próximos 200
dias é algo não muito diferente do que foram esses primeiros meses. O Executivo
precisará de muita ajuda para evitar que o Congresso o escanteie ou continue
cobrando um custo político elevado para que tenha seu espaço no Parlamento”,
ponderou um parlamentar.
Os
desafios se acentuam sobretudo em vista do decreto editado ontem pelo governo,
que amplia critérios gerais para que indicados a cargos em comissão cumpram
exigências específicas, como formação acadêmica compatível com a função.
Especificar demais é algo malvisto no Congresso. Além disso, novas promessas
foram feitas, como a de um governo “100% digital” até o fim do mandato, segundo
sinalizou o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
O
problema é que, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE),
pouco mais de metade dos brasileiros (62%) tem acesso à internet. O Ministério
da Economia, responsável pelo projeto, estima que, em dois anos, a ideia esteja
completamente implementada.
Com
informações portal Correio Brasiliense
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