Jair Bolsonaro passeando em Osaka: irritação com jornalistas e resposta ríspida para chanceler da Alemanha (foto: Alan Santos) |
Sob uma temperatura de 28°C em Osaka, no Japão, o presidente Jair
Bolsonaro iniciou em clima quente a primeira participação dele na cúpula do
G20, integrada pelos países de maior economia do mundo. As políticas públicas
do governo brasileiro para o meio ambiente provocaram mal-estar entre o chefe
do Planalto e a chanceler alemã Angela Merkel e fizeram com que o país também fosse
duramente criticado pelo presidente da França, Emmanuel Macron. O dirigente
europeu afirmou que não assinaria um acordo com o Mercosul se Bolsonaro
concretizasse a intenção de retirar o Brasil do Acordo de Paris sobre o clima.
Como resultado da saia justa, a reunião do chefe do Planalto com Macron,
prevista para esta sexta-feira (28/6), acabou cancelada.
O
primeiro dia de Bolsonaro em solo asiático foi marcado por irritação e por uma
resposta incisiva a Merkel. A primeira-ministra disse desejar ter uma conversa
clara com o brasileiro, na reunião em Osaka, sobre desmatamento. O presidente
rebateu: “Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre o meio ambiente.
A
indústria deles continua sendo de carvão, e a nossa, não. Eles têm muito a
aprender conosco”, afirmou o capitão reformado ao chegar ao hotel St. Regis, no
centro de Osaka, onde ficará hospedado pelos próximos três dias. “O presidente
do Brasil que está aqui não é como os anteriores, que vieram aqui (G20) para serem
advertidos. A situação aqui é de respeito para com o Brasil”, frisou. Ele não
se referiu a uma situação específica de advertências anteriores.
Bolsonaro,
entretanto, disse que é preciso avaliar o que Merkel falou e aproveitou para
criticar a imprensa. “Eu vi o que está escrito, mas, lamentavelmente, o que a
imprensa escreve não é aquilo…” Nesse momento, um dos jornalistas disse que a
declaração da chanceler foi publicada pela imprensa alemã. “Não interessa se é
alemã, e deixa completar o raciocínio, faz favor. Então, tem de fazer a
filtragem para não deixar se contaminar pela mídia escrita.”
Heleno
A
declaração de Merkel teria sido uma resposta a ONGs e parlamentares alemães
ligados às causas ambientais sobre acordos de livre comércio entre a União Europeia
e o Mercosul, mesmo com decisões controversas do governo brasileiro sobre o
tema. Ela disse que não poderia frear as negociações, mas que falaria com o
presidente do Brasil sobre a questão.
Logo
depois de Bolsonaro, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
general Augusto Heleno, afirmou que o Brasil não se mete em assuntos de outros
países e, assim, não é razoável que outras nações se envolvam em temas internos
brasileiros. “O Brasil é um dos países que mais respeitam o meio ambiente. Ninguém
tem moral para falar da política de meio ambiente no Brasil”, destacou.
“Temos
de ter uma política que nos interesse, o famoso desenvolvimento sustentável.
Ninguém pode dar palpite. Quais as florestas que o europeu preservou? Por trás
tem uma estratégia de preservar o meio ambiente para depois eles explorarem, e
hoje estão cheios de ONGs por trás deles.”
Durante
a rápida coletiva, Bolsonaro não deu detalhes sobre o encontro bilateral que
terá com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, previsto para ocorrer
na tarde desta sexta-feira (madrugada no Brasil). “Espero ter uma reunião
reservada. E se é reservada é reservada.”
Como pano de fundo da cúpula do G20,
que ocorre nesta sexta-feira (28/6) e sábado (29/6), está a disputa comercial
entre chineses e norte-americanos, com denúncias de espionagem e “terrorismo
econômico”. “O Brasil não tem lado na questão comercial, a gente não quer que
haja briga para a gente se aproveitar. Nós queremos a paz.”
O
deputado Eduardo Bolsonaro, que está na comitiva e é presidente da Comissão de
Relações Exteriores, ressaltou que o Brasil tem um governo democrático. “É um
governo aberto. Assim, os debates realmente ocorrem, mas a decisão final é do
presidente.” Segundo ele, existem vários argumentos para todos os lados.
“A
China é o nosso maior parceiro internacional, não podemos virar as costas, mas,
ao mesmo tempo, não podemos vender tudo para eles, porque poderíamos ficar na
mão de outros países, isso não é bom. No final das contas, o governo tem uma
voz só, que é a do presidente Bolsonaro.”
Drogas
Bolsonaro
encerrou a entrevista sem comentar a apreensão de cocaína com um segundo
sargento no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) de apoio à comitiva
presidencial. O militar foi preso em Sevilha — uma das paradas previstas
inicialmente — pela polícia espanhola. O porta-voz da Presidência, Otávio do
Rêgo Barros, disse que o governo está tomando todas as medidas com o objetivo
de fornecer dados para que as autoridades tomem as providências legais.
“O
presidente, o Ministério da Defesa e o Comando da Força Aérea não admitem, em
hipótese nenhuma, procedimentos desse tipo em relação aos seus recursos
humanos”, frisou Rêgo Barros. “Isso deve ser rapidamente apurado, e a pessoa,
punida dentro dos trâmites legais.” As falhas na segurança, segundo o
porta-voz, estão sendo verificadas a partir de inquérito policial militar sob
responsabilidade da FAB.
“Todas as malas são fiscalizadas. Esse sargento era da
comissaria, ele entra muito antes. Mas espera-se que esses eventos não
ocorram”, emendou Heleno, que considerou “uma falta de sorte” o episódio ter
ocorrido no momento do G20.
Com
informações portal Correio Brasiliense
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