A
Confederação Nacional dos Municípios, CNM, e a organização não governamental
Todos Pela Educação vão apresentar conjuntamente uma proposta de emenda à
Constituição para rever as regras do Fundeb, Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação. A
proposta terá três pontos principais: mudar a forma de distribuição dos
recursos, retirar do texto o cálculo de reajuste do piso nacional dos
professores e elevar a complementação feita pela União de 10% para 15% do valor
aplicado pelos Estados.
O
Fundo é responsável por redistribuir receitas entre estados e municípios com
objetivo de reduzir as desigualdades educacionais regionais e garantir
segurança financeira para a educação básica.
A
lei atual que estabelece como o dinheiro do fundo deve ser distribuído vence em
dezembro de 2020 e desde 2017 a Câmara discute a proposta de inserir o
mecanismo do Fundeb na Constituição, por meio de uma emenda constitucional. No
ano passado, a comissão especial que analisava a PEC 15/15 encerrou os
trabalhos sem votar um relatório, por isso a proposta foi arquivada.
A
pedido da deputada Dorinha (DEM-TO), que relatava o texto, ele foi desarquivado
esse ano. A CNM e a Todos Pela Educação pretendem apresentar sua proposta de
texto substitutivo à PEC assim que a nova comissão for instalada. A proposta
diverge da que será apresentada pela deputada e retira do texto a previsão de
como o reajuste anual do piso salarial dos professores deve ser calculado.
“Nas
discussões gerais, todos concordaram que o Fundeb é um programa de
financiamento excelente que ajudou muito a educação a ampliar a quantidade de
alunos nas escolas. Agora nós estamos pecando na qualidade e um dos pontos que
atrapalhou muito é a questão do piso, a gente concorda com o piso, mas o
indexador levou ao aumento [dos salários dos professores] quase três veses
maior do que a inflação”, argumenta Eduardo Tabosa, secretário-geral da CNM.
Ele defende o fim do cálculo, com o reajuste passando a ser feito apenas de
acordo com a inflação.
Segundo
pesquisa da própria ONG Todos pela Educação, desde que o piso passou a vigorar,
o reajuste foi de 88%, já descontada a inflação do período. Quando o cálculo do
piso foi criado, um dos objetivos era igualar a renda média dos professores a
dos demais profissionais com o mesmo nível de escolaridade. Dados de 2014,
também da ONG Todos pela Educação, apontam que os professores ainda recebem
cerca de 51% a menos.
O
cálculo do piso leva em conta o valor mínimo a ser investido por aluno na
educação básica e também o valor do Fundeb e está previsto tanto na Lei da
Magistratura que, em 2009, regulamentou o piso, quanto na Lei do Fundeb. De
acordo com Caio Callegari, que representa a Todos pela Educação, a ONG não tem
ainda posição sobre como o cálculo do piso deve ser pensado.
“Isso
não é algo que a gente tem previsto para o Fundeb. Na minuta de PEC, a gente
menciona que o piso deve ser alvo de uma legislação específica, o que deixa
muito mais fácil a realização de ajustes, porque hoje o piso está previsto na
Lei do Fundeb e em uma lei adicional, que é a lei de 2009”, confirma Caio.
Ele
ressalta que ONG entende que a existência de um salário base para os
professores da educação básica é fundamental.
Viabilidade
A
proposta pode ter mais apelo junto ao governo. O ministro da Economia, Paulo
Guedes, já declarou publicamente algumas vezes a necessidade de desindexar
salários de indicadores passados, como o que foi recentemente proposto para o
salário mínimo, que deve ser reajustado apenas pela inflação em 2020, sem ganho
real.
A
elevação da complementação feita pela União de 10% para 15% também deve ser
mais palatável para o começo das negociações com o governo. Desde 2017, o
Executivo defende na Câmara que o problema do Fundeb gira em torno da gestão
dos recursos e não da falta de receita.
A
assessoria de imprensa da deputada Dorinha não confirma a informação, mas em
seu relatório ela pretende não apenas manter o cálculo do piso em sua proposta,
tornando a regra de reajuste uma política constitucional, como estabelecer a
complementação da União em 30%.
“Nossa
perspectiva é que 15% é uma linha de base, a partir daí a gente discute. É
importante que tenha uma proposta que seja com esse teor, porque o governo
federal pode chegar e falar que 30% é muito e não consegue nem com dez anos de
transição, e portanto não defender nenhum aumento, mas se tiver um consenso
básico de todas as partes de que pelos menos 15% é necessário, e é necessário
porque é aquilo que vai nos levar a garantir para todos os municípios pelo
menos um IDEB 6, a partir da daí a gente conversa”, argumenta Caio.
No
último dia 15, a deputada Dorinha esteve em reunião com e equipe do Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação, o FNDE, autarquia do Ministério da
Educação que faz a gestão do Fundeb. No encontro, o órgão comentou algumas
medidas que estão sendo tomadas para mudar a forma como o dinheiro é
distribuído.
O
FNDE vai investir no desenvolvimento de algoritmos em parceria com o Instituto
de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e a Escola Nacional de Ciências
Estatísticas (ENCE) para criar um novo sistema de distribuição dos recursos,
com o objetivo de tornar o combate às desigualdades regionais mais eficaz. A
coordenadora de Operacionalização do Fundeb,
Sylvia
Gouveia, afirma que alguns municípios com alto rendimento recebem a
complementação da União apenas por fazerem parte de estados que não alcançaram
com a própria arrecadação o valor mínimo nacional por aluno estabelecido a cada
ano.
Este
também é o argumento da Todos pela Educação e da CNM para rever a forma como os
recursos são distribuídos. Caio Callegari aponta como positiva a iniciativa de
usar simuladores com base em algoritmos.
“Isso
é muito favorável que o FNDE faça parceria com centros estatísticos para
construir os melhores simuladores e estes simuladores devem ser públicos,
permitindo que ente envolvido possa entender qual o efeito do Fundeb para ele”,
destaca.
Prefeitos
e a ONG Todos pela Educação trabalham para que a proposta de emenda à
Constituição do Fundeb seja aprovada no Congresso ainda neste ano. Ela precisa
passar por dois turnos de votação no plenário da Câmara e no plenário do
Senado, e só deve ser considerada prioritária depois das votações da reforma da
previdência e de uma possível reforma tributária. Para
2020, sobraria a regulamentação de vários mecanismos da emenda constitucional.
Com
informações portal Congresso em Foco
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