26 de maio de 2019

O teste do bolsonarismo por Henrique Araújo


Há duas estratégias em choque neste momento de que é exemplo a votação da última semana na Câmara. Enquanto parlamentares do centrão se uniam para tirar o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) das mãos do ministro Sergio Moro (Justiça), impondo mais uma derrota ao Governo, um grupo de deputados do PSL comemorava a aprovação da Medida Provisória 870, que reorganiza a estrutura da Esplanada. 

Com celulares em punho, falavam a uma plateia virtual, prestando contas online e registrando tudo ao vivo como forma de pressionar os colegas de Legislativo. Longe da estridência da "nova política", no entanto, a política (velha ou não) é que dá as cartas. 

Ali perto, no Senado, um grupo influente reuniu-se para tratar de uma agenda própria da Casa, coisa que a própria Câmara já cuidou em fazer. Sob a batuta de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do DEM, o Congresso articula uma frente de propostas no campo econômico. A mensagem é clara: se o presidente não consegue se organizar sozinho (e isso vai ficando mais evidente à medida que o tempo passa), a gente toca o barco. 

Não há "lives" nem "stories" como registro desses encontros, mas alguém duvida de que eles tenham acontecido e no que possam resultar? E nem me refiro aqui à viabilidade do parlamentarismo, hipótese levantada nessas horas. Mas de, na prática, o chefe do Executivo se converter numa espécie de rainha da Inglaterra - governa, mas não manda -, enquanto os seus auxiliares se entretêm com os smartphones. 

Antes do impeachment, a então presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a dizer algo que fez pensar: "Nem quem ganhar nem quem perder vão ganhar ou perder. Vai todo mundo perder". À época, o raciocínio tortuoso pareceu cifrado e caiu na conta de mais uma das pérolas da petista. 

À luz dos acontecimentos de agora, contudo, talvez Dilma tivesse razão. Os protestos deste domingo estão aí para provar. Se forem grandes, Jair Bolsonaro perde porque a relação com Câmara e Senado se esgarça ainda mais, colocando em risco a plataforma do Planalto. 

Por outro lado, se forem inexpressivos, é a capacidade de mobilização do presidente que estará em xeque num momento em que sua popularidade derrete. Para o capitão reformado, as duas hipóteses - o fracasso ou o sucesso da manifestação - o colocam numa sinuca de bico da qual será difícil sair.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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