Há
duas estratégias em choque neste momento de que é exemplo a votação da última
semana na Câmara. Enquanto parlamentares do centrão se uniam para tirar o
Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) das mãos do ministro
Sergio Moro (Justiça), impondo mais uma derrota ao Governo, um grupo de
deputados do PSL comemorava a aprovação da Medida Provisória 870, que
reorganiza a estrutura da Esplanada.
Com celulares em punho, falavam a uma
plateia virtual, prestando contas online e registrando tudo ao vivo como forma
de pressionar os colegas de Legislativo. Longe da estridência da "nova
política", no entanto, a política (velha ou não) é que dá as cartas.
Ali
perto, no Senado, um grupo influente reuniu-se para tratar de uma agenda
própria da Casa, coisa que a própria Câmara já cuidou em fazer. Sob a batuta de
Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, ambos do DEM, o Congresso articula uma frente
de propostas no campo econômico. A mensagem é clara: se o presidente não
consegue se organizar sozinho (e isso vai ficando mais evidente à medida que o
tempo passa), a gente toca o barco.
Não há "lives" nem
"stories" como registro desses encontros, mas alguém duvida de que
eles tenham acontecido e no que possam resultar? E nem me refiro aqui à
viabilidade do parlamentarismo, hipótese levantada nessas horas. Mas de, na
prática, o chefe do Executivo se converter numa espécie de rainha da Inglaterra
- governa, mas não manda -, enquanto os seus auxiliares se entretêm com os
smartphones.
Antes do impeachment, a então presidente Dilma Rousseff (PT)
chegou a dizer algo que fez pensar: "Nem quem ganhar nem quem perder vão
ganhar ou perder. Vai todo mundo perder". À época, o raciocínio tortuoso
pareceu cifrado e caiu na conta de mais uma das pérolas da petista.
À luz dos
acontecimentos de agora, contudo, talvez Dilma tivesse razão. Os protestos
deste domingo estão aí para provar. Se forem grandes, Jair Bolsonaro perde
porque a relação com Câmara e Senado se esgarça ainda mais, colocando em risco
a plataforma do Planalto.
Por outro lado, se forem inexpressivos, é a
capacidade de mobilização do presidente que estará em xeque num momento em que
sua popularidade derrete. Para o capitão reformado, as duas hipóteses - o
fracasso ou o sucesso da manifestação - o colocam numa sinuca de bico da qual
será difícil sair.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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