No
dia em que se comemora a importância de quem faz a economia girar por meio do
trabalho, o cenário não é de festa, mas de aumento da economia dos bicos,
aquelas atividades temporárias que aliviam muitos orçamentos familiares pelo
País.
São 13,4 milhões de brasileiros, atualmente, desempregados, de acordo com
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad - C), divulgada
ontem (30/04) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O
número representa um crescimento de 10,2% (mais 1,2 milhão de pessoas) frente
ao último trimestre de 2018 (12,2 milhões). A população ocupada, hoje em 91,9
milhões, também caiu -0,9% (menos 873 mil de pessoas) em relação a igual
período.
Quando
se verificam os dados mais atualizados do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), o cenário continua desanimador. Os números do sistema
revelam que o mês de março apresentou 43.196 empregos com carteira assinada a
menos em todo o Brasil. Pela primeira vez neste ano, o número de demissões
(1.304.373) foi maior que o de contratações (1.261.177).
Na
prática, são menos pessoas recebendo uma renda fixa e garantindo a circulação
de dinheiro em uma economia que dá sinais cada vez mais sombrios, em direção a
um Produto Interno Bruto (PIB) de pouca relevância. Menos postos de trabalho
com carteira assinada significam menos contribuições para a Previdência e mais
adesão a atividades por conta própria. Essa fatia, segundo o IBGE, está na casa
dos 23,8 milhões e apresentou estabilidade em relação ao trimestre anterior,
crescendo 3,8% em relação a igual trimestre de 2018 (mais 879 mil pessoas).
"O
mercado de trabalho está rumo a uma estagnação, em um nível bastante
ruim". A análise é feita por Daniel Duque, pesquisador do Instituto
Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com
ele, havia expectativa de melhora do emprego formal, uma repetição de 2018, que
teve uma performance mais favorável.
"O
primeiro trimestre de 2019 foi pior que o de 2018, e olha que esse mesmo
período de 2018 não foi o mais maravilhoso", analisa. Somada à estagnação
do mercado de trabalho, o pesquisador acrescenta o problema do baixo
crescimento da renda dos brasileiros. "Menos de 1% ao ano. Tá tudo muito
mais ou menos".
O
problema se agrava quando são avaliados os pormenores do Caged. De acordo com
Erle Mesquita, coordenador de Estudos e Análises de Mercado do Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (IDT), apesar da sazonalidade comum ao primeiro
trimestre, o mercado está mais favorável para as oportunidades que pagam até
1,5 salário mínimo. "A análise é que estão sendo fechados postos em faixas
mais altas".
Independentemente
do tipo de contração, seja a tradicional, de carteira assinada, ou a
intermitente (que apresentou alta no mês de março), o que tem sido visto,
segundo Mesquita, é uma abertura mais acentuada para oportunidades de baixo
padrão. "São empregos com baixo padrão de remuneração, limitado ao piso ou
salário mínimo", destaca.
Ele acrescenta que o
atual cenário aponta para um processo de desassalariamento, com perda da
participação relativa do emprego com carteira assinada perante o total de
postos ocupados. "O que vem crescendo é a economia de bicos, trabalhadores
por conta própria, como os de aplicativos, que atuam por demanda, e ambulantes.
Todos eles autônomos que não contribuem com a Previdência e atuam em formas
precarizadas de trabalho, sem proteção social".
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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