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8 de maio de 2019

Não dá para implodir Olavo ou os militares e poupar Bolsonaro por Érico Firmo


Jair Bolsonaro (PSL) trabalha para administrar a troca de insultos pública entre o professor Olavo de Carvalho e os generais. Tenta arbitrar a confusão. Ontem, o presidente fez elogio eloquente a Olavo. Disse que, no começo da década de 1990, ele foi dos raros que defenderam as Forças Armadas. Ressalta que se tornou "verdadeiro ídolo para muitos" e reconhece o trabalho do escritor "contra a ideologia insana". Bolsonaro acrescenta: "Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse no Governo, sem a qual o PT teria retornado ao Poder". E completa: "Sempre o terei nesse conceito, continuo admirando o Olavo". O presidente também afaga os militares, de forma um tanto mais sucinta. Diz que a eles "devo minha formação e admiração". E afirmou esperar que os desentendimentos públicos sejam página virada.

Há de se salientar que Olavo não está no governo. Porém, indicou bastante gente, para alguns dos ministérios que mais têm sido assunto. Além disso, recebe mesuras públicas e demonstrações de prestígio. Ele influencia o presidente e mais ainda os filhos de Bolsonaro que, por sua vez, influenciam o pai. Olavo é politicamente relevante pela ascendência sobre quem governa.

Sobre um dos ministros mais próximos do presidente, Olavo escreveu que o general Santos Cruz é "grosseiríssimo ingrato e difamador", "politicamente analfabeto", sobre quem "não para de aparecer merda". Aliás, um dos insultos menos elaborados ao general ministro foi simplesmente: "Seu merda". Bem quinta série. Sobre a cúpula militar em geral, afirma o seguinte: "Tento me imaginar discutindo filosofia política com um desses generais. É mais fácil treinar artes marciais com um bicho-preguiça".

Da parte dos militares, Santos Cruz se referiu a Olavo como "desocupado esquizofrênico". Já o general Villas Boas afirmou que o professor "desconhece normas elementares de educação", presta "enorme desserviço" ao País e o chamou de "Trotski de direita", em referência ao revolucionário comunista russo.

Os generais estão no governo. Olavo, por sua vez, derrama-se em elogios a Bolsonaro: "Raramente vi um homem tão bem intencionado como o nosso presidente". "Estou com o Bolsonaro até à morte. Espero que seja a morte de terceiros, mas se for a minha também estará OK". E ainda: "Qualquer filho da puta que, dentro do governo, seja desleal ao presidente Bolsonaro é desleal à nação brasileira".

Ocorre que as posições são difíceis de conciliar. Não dá para dizer que o ministro Santos Cruz é alguém sobre quem "não para de aparecer merda" e poupar quem o colocou e quem o mantém dentro do Palácio do Planalto. Não dá para desancar a cúpula militar e não responsabilizar quem levou esse pessoal para o governo. Da mesma maneira, não dá para dizer que Olavo presta desserviço ao País, é um "desocupado esquizofrênico", ao mesmo tempo em que se estar no mesmo governo no qual um monte de gente foi nomeada por indicação dessa mesma pessoa.

É verdade que as ideias de Olavo estão no alicerce da candidatura de Bolsonaro. Assim como é fato que a história do presidente é atrelada às Forças Armadas, tal qual seu governo. O olavismo e os militarismo são dois pilares do atual governo. Na guerra entre os dois segmentos, pode ser que um deles saia vitorioso. Bolsonaro, porém, sairá ferido seja qual for dos lados que prevaleça.

Direito de falar e insultar
Bolsonaro disse que Olavo tem o direito de dar as opiniões dele. E é a mais pura verdade. O professor não tem cargo no governo e pode dizer o que bem entende sem precisar dar satisfação a ninguém.

O problema político surge na medida em que esse cidadão comum livre para opinar é o ideólogo mais influente dentro do núcleo governante, ao mesmo tempo em que ataca furiosamente auxiliares próximos do presidente.

Na briga pública, Olavo tem sido muito mais agressivo com os militares do que os generais em relação ao professor. Nem se compara. Por outro lado, Bolsonaro é mais enfático nos elogios a Olavo que na defesa dos seus auxiliares. Para bom entendedor… é bom o general Santos Cruz ficar com as barbas de molho.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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