Jair
Bolsonaro (PSL) trabalha para administrar a troca de insultos pública entre o
professor Olavo de Carvalho e os generais. Tenta arbitrar a confusão. Ontem, o
presidente fez elogio eloquente a Olavo. Disse que, no começo da década de
1990, ele foi dos raros que defenderam as Forças Armadas. Ressalta que se
tornou "verdadeiro ídolo para muitos" e reconhece o trabalho do
escritor "contra a ideologia insana". Bolsonaro acrescenta: "Sua
obra em muito contribuiu para que eu chegasse no Governo, sem a qual o PT teria
retornado ao Poder". E completa: "Sempre o terei nesse conceito,
continuo admirando o Olavo". O presidente também afaga os militares, de
forma um tanto mais sucinta. Diz que a eles "devo minha formação e
admiração". E afirmou esperar que os desentendimentos públicos sejam
página virada.
Há
de se salientar que Olavo não está no governo. Porém, indicou bastante gente,
para alguns dos ministérios que mais têm sido assunto. Além disso, recebe
mesuras públicas e demonstrações de prestígio. Ele influencia o presidente e
mais ainda os filhos de Bolsonaro que, por sua vez, influenciam o pai. Olavo é
politicamente relevante pela ascendência sobre quem governa.
Sobre
um dos ministros mais próximos do presidente, Olavo escreveu que o general
Santos Cruz é "grosseiríssimo ingrato e difamador",
"politicamente analfabeto", sobre quem "não para de aparecer
merda". Aliás, um dos insultos menos elaborados ao general ministro foi
simplesmente: "Seu merda". Bem quinta série. Sobre a cúpula militar
em geral, afirma o seguinte: "Tento me imaginar discutindo filosofia política
com um desses generais. É mais fácil treinar artes marciais com um
bicho-preguiça".
Da
parte dos militares, Santos Cruz se referiu a Olavo como "desocupado
esquizofrênico". Já o general Villas Boas afirmou que o professor
"desconhece normas elementares de educação", presta "enorme
desserviço" ao País e o chamou de "Trotski de direita", em
referência ao revolucionário comunista russo.
Os
generais estão no governo. Olavo, por sua vez, derrama-se em elogios a
Bolsonaro: "Raramente vi um homem tão bem intencionado como o nosso
presidente". "Estou com o Bolsonaro até à morte. Espero que seja a
morte de terceiros, mas se for a minha também estará OK". E ainda:
"Qualquer filho da puta que, dentro do governo, seja desleal ao presidente
Bolsonaro é desleal à nação brasileira".
Ocorre
que as posições são difíceis de conciliar. Não dá para dizer que o ministro
Santos Cruz é alguém sobre quem "não para de aparecer merda" e poupar
quem o colocou e quem o mantém dentro do Palácio do Planalto. Não dá para
desancar a cúpula militar e não responsabilizar quem levou esse pessoal para o
governo. Da mesma maneira, não dá para dizer que Olavo presta desserviço ao
País, é um "desocupado esquizofrênico", ao mesmo tempo em que se
estar no mesmo governo no qual um monte de gente foi nomeada por indicação
dessa mesma pessoa.
É
verdade que as ideias de Olavo estão no alicerce da candidatura de Bolsonaro.
Assim como é fato que a história do presidente é atrelada às Forças Armadas,
tal qual seu governo. O olavismo e os militarismo são dois pilares do atual
governo. Na guerra entre os dois segmentos, pode ser que um deles saia
vitorioso. Bolsonaro, porém, sairá ferido seja qual for dos lados que
prevaleça.
Direito
de falar e insultar
Bolsonaro
disse que Olavo tem o direito de dar as opiniões dele. E é a mais pura verdade.
O professor não tem cargo no governo e pode dizer o que bem entende sem
precisar dar satisfação a ninguém.
O
problema político surge na medida em que esse cidadão comum livre para opinar é
o ideólogo mais influente dentro do núcleo governante, ao mesmo tempo em que
ataca furiosamente auxiliares próximos do presidente.
Na
briga pública, Olavo tem sido muito mais agressivo com os militares do que os
generais em relação ao professor. Nem se compara. Por outro lado, Bolsonaro é
mais enfático nos elogios a Olavo que na defesa dos seus auxiliares. Para bom
entendedor… é bom o general Santos Cruz ficar com as barbas de molho.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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