O
Lula disse que o Brasil está sendo governado por um bando de malucos. Exagero,
claro. É difícil associar o que acontece no Brasil hoje com qualquer atividade
que lembre o verbo “governar”. A mesma coisa com o termo “bando”, que, bem ou
mal, evoca algum tipo de organização.
Lula
também exagerou ao chamar de “malucos” os que se aproveitam da confusão para
promover seus projetos políticos pessoais, e que de loucos não têm nada. No
mais, o Lula tem razão.
A
alusão mais precisa que Lula, talvez, procurasse para nossa situação seria a do
manicômio dominado pelos pacientes. Este sentimento de um país à deriva, sem
entender seu governo e sem entender a si mesmo, é — imagina-se — quase total,
mesmo entre os que bolsonaram e esperavam em vão que o “mito” começasse a
atuar, nem que fosse só na escolha de um ministério menos exótico.
Um
bando de malucos se apossando da administração deixa o país tremebundo, mas
institucionalmente de pé. Maluco se revoltando contra a instituição é outra
coisa, mais grave. Não fica nem uma caneca de pé.
Os
generais que ganharam uma nação de graça, sem necessidade de disfarçar farda
com terno ou tanque com discurso, estão achando difícil a convivência com
civis, chame-se Olavo ou não.
Descobrem
como eram melhores as revoluções clássicas, com tropas nas ruas. Mas os
militares não podem se queixar muito. Se a eleição do Bolsonaro provou alguma
coisa — e provou várias — é que boa parte de 60 milhões de eleitores do país
não deu a menor bola para o passado e os crimes das Forças Armadas brasileiras
nos 20 anos da ditadura que o candidato vencedor diz que nunca aconteceu.
Publicado
originalmente no portal O Globo
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