Manifestantes se deslocaram pelas ruas do bairro Benfica antes de seguirem para evento n Concha Acústica da UFC (Foto: Alex Gomes) |
Professores
e estudantes cearenses voltaram ontem (30/05) às ruas em protesto contra o
congelamento de recursos da educação, levado a cabo pelo Governo Federal. Houve
manifestações em várias cidades do Ceará.
Em
Fortaleza, o ato se concentrou na Praça da Gentilândia, no bairro Benfica, de
onde os estudantes saíram em caminhada pelas avenidas 13 de Maio, da
Universidade e Carapinima. Em seguida, encerraram o evento na Concha Acústica
da Universidade Federal do Ceará (UFC), com apresentação de grupos musicais.
De
acordo com a organização, capitaneada pela União Nacional dos Estudantes (UNE),
foram contabilizadas 100 mil pessoas, o mesmo público estimado no ato do dia 15
passado, o primeiro realizado contra o contingenciamento na verba de manutenção
de instituições de ensino federal. O POVO não localizou policiais militares no
decorrer da passeata — a PM costuma realizar a contagem de participantes em
eventos de massa.
No
mesmo dia em que estudantes ocuparam as cidades pela segunda vez em maio, o
Ministério da Educação (MEC) divulgou nota na qual afirma que "nenhuma
instituição de ensino pública tem prerrogativa legal para incentivar movimentos
político-partidários e promover a participação de alunos em
manifestações".
Ainda no texto, a pasta,
comandada por Abraham Weintraub, assinalou que "professores, servidores,
funcionários, alunos, pais e responsáveis não são autorizados a divulgar e
estimular protestos durante o horário escolar". O ministério acrescentou
que, "caso a população identifique a promoção de eventos desse cunho,
basta fazer a denúncia pela ouvidoria do MEC".
Um
dia antes, Weintraub já havia dito nas redes sociais que professores estavam
coagindo alunos a integrarem a programação de atos pelo Brasil. Ele então pediu
que as famílias de estudantes enviassem provas dessa coação para que o governo
pudesse tomar medidas cabíveis.
Em
transmissão ao vivo ontem, porém, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) resolveu
ignorar as manifestações contra a sua gestão. Durante a "live" que
faz toda quinta-feira, o pesselista chegou a citar o ministro, mas apenas para
dizer que o MEC será beneficiado com recursos recuperados pela Operação Lava
Jato.
A
postura do presidente difere da adotada no dia 15, quando chamou os
manifestantes de "idiotas úteis", inflamando os protestos, que podem
se repetir no dia 14 de junho, data prevista para outra movimentação de
estudantes.
Professor
de Geografia da rede estadual do Ceará, Otacílio Bessa diz que apenas essa
mobilização permanente de todos poderá fazer o Planalto retroceder no corte de
verba para educação — em todo o País, o Executivo congelou cerca de R$ 7
bilhões.
"Acredito
que isto aqui só tem algum efeito se o povo estiver na rua mostrando a
pressão", receitou o docente. Para ele, as manifestações "não são
apenas contra os cortes, mas contra os ataques e desrespeitos contra entidades
estudantis".
Bessa
explica que se refere ao contra-ataque do MEC, expresso em nota. "Não tem
como fazer uma nação crescer colocando estudantes contra professores e
professores contra as famílias", criticou. "Se o governo quer
mudanças, que se chamem as comunidades pra discutir, mas ele não tem feito
isso."
Paraibana
moradora de Fortaleza, a irmã Maria de Fátima Ferreira, 30, foi à passeata
vestindo o hábito. "A dor do povo atinge a igreja, e não estou aqui
sozinha", constatou. "Estou aqui pela igreja, que deve estar onde o
povo sofre. E aqui o povo pede justiça e está com voz". Ao lado de outros
amigos da igreja, irmã Fátima pregava que a "educação é fundamental para a
família e para o jovem".
Ao
lado da filha de 11 anos, que havia se empoleirado num dos pilares da grade da
reitoria da UFC portando um cartaz com críticas a Bolsonaro, a artesã Alice
Farias Tavares incluiu a reforma da Previdência entre os pontos de
descontentamento dos presentes. "Todo mundo tem que se mobilizar",
convidou. "Hoje estou aqui, e virei em todos que houver. Educação não é
dever, é direito".
Aos
81 anos, Maria Marlene Oliveira de Andrade conta que, mesmo aposentada, está
"sempre metida no meio disso". Depois de chegar sozinha ao protesto,
ela aponta os jovens que a cercam na avenida 13 de Maio. "Eu me fortaleço
aqui".
Professora
de Sociologia e Filosofia, disciplinas no meio do fogo cruzado ideológico
atual, Marlene avalia que o contingenciamento de recursos "é uma
aberração" e que, "sem educação, todo mundo fica no cabresto". E
promete não se abater. "Filósofo não se abate nem se deixa levar pelo
cabresto. Sempre fui professora e tenho orgulho disso", conclui.
Políticos
evitam atos de estudantes contra cortes
Parlamentares
evitaram participar do protesto de ontem contra o contingenciamento
orçamentário da educação organizado por estudantes. Em Fortaleza, poucos
políticos com mandato estiveram presentes no trajeto da manifestação, que
começou na Praça da Gentilândia, no Benfica.
Entre
eles, estão o vereador petista Guilherme Sampaio e o deputado estadual do PSL
André Fernandes. Pelas redes sociais, o pesselista chegou a divulgar vídeo no
qual aparecem dois jovens. Vestindo blusas vermelhas, elas picham a lateral de
um ônibus com a frase "Lula livre".
Do
partido de Bolsonaro, Fernandes relatou no Twitter que foi até a UFC "pra
ver de perto a manifestação 'pela educação'". O parlamentar então
escreveu: "Resumindo pra vocês: muito 'Lula livre', muita bebida, homem de
vestido, mulher seminua, muito cheiro de maconha e muita putaria!".
Com
informações portal O Povo Online
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