Em Fortaleza os organizadores estimam que mais de 50 mil foram as ruas protestar contra o Governo (Foto: Fábio Lima) |
Milhares
de pessoas ocuparam as ruas em todo o Brasil durante o dia de ontem contra o
contingenciamento orçamentário determinado pelo Governo para as instituições
federais de ensino superior. Com expressiva adesão, os protestos mostraram
lacunas de diálogo com os setores sociais, além de um agravamento político
interno na base do Governo Federal. Para pesquisadores, tanto contrários quanto
favoráveis à medida, há completa inabilidade por parte de Jair Bolsonaro ao
executá-la.
"O
ensino superior tem muita relevância para a sociedade. As pessoas estudam muito
para ingressar num curso, inclusive a classe média que vê a educação superior
como instrumento de mudança no caso de áreas como Direito e Medicina. É
inequívoco o peso da ciência que é produzida na instituição pública",
explica Monalisa Soares Lopes, professora de Ciências Sociais da Universidade
Estadual do Ceará (Uece) e integrante do Laboratório de Estudos em Política,
Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (Lepem/UFC). Conforme ela,
esse é um dos fatores que explica a grande adesão que os protestos ganharam ao
longo do dia.
Avenida Paulista concentrou ato com representantes de várias universidades (Foto: Nelson Almeida) |
A
postura de polarização de Jair Bolsonaro não é recente. Em outras ocasiões o
presidente já havia feito críticas às universidades públicas. Na tarde de
ontem, durante entrevista concedida nos Estados Unidos sobre os protestos, ele
esquentou ainda mais a situação ao chamar manifestantes de "idiotas
úteis" e "massa de manobra". "A maioria ali é militante. É
militante. Não tem nada na cabeça. Se perguntar 7x8 não sabe", disse. Num
governo em que antes, o ministro Abraham Weintraub falara de
"balbúrdia" nas instituições.
Para
Rui Martinho, articulista do O POVO e professor de Ciências Políticas, não há
uma boa comunicação por parte do governo e a situação econômica desfavorável
dificulta a articulação política.
Brasília
teve os protestos realizados logo cedo, pela manhã (Foto: Sergio Lima)
|
"O ministro da Educação começou usando a
palavra corte em vez de contingenciamento, disse que iria cortar onde tem
balbúrdia, e de fato não é isso, é onde o dinheiro não dá. Ele começou
totalmente errado e não surpreende que haja uma mobilização grande",
avalia.
Segundo ele, a inabilidade aliada às manifestações repercutem no
Congresso. "Ele se colocou numa situação difícil, porque se recuar pode
violar o teto constitucional das despesas, e se não recuar, enfrentará uma
situação politica delicada".
Tudo
isso, porque independentemente da necessidade ou não de corte, a educação é uma
pauta que supera as esquerdas e as críticas de cunho ideológico em torno dos
cortes têm causado desconforto no parlamento. "No geral, os governos
quando precisaram fazer isso o fizeram de formas mais subliminares e não se
utilizam de um ato político ou discurso ideológico porque entendem que essa é
uma pauta sensível", explica Monalisa.
O Rio de Janeiro registrou uma das maiores manifestação de sua história (Foto: Mauro Pimentel) |
Helcimara
Telles, professora do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal
de Minas Gerais, diz que o Governo coloca sua base aliada em situação
"constrangedora". "Ele têm sido derrotado o sucessivamente no
Congresso e essa declaração atiçou ainda mais os ânimos dentro da Câmara dos
Deputados porque um ataque à Educação é algo que não foi feito por nenhum
presidente de forma tão clara,mesmo aquele que reduziram recursos",
considera. E completa: "ele obriga a sua própria base a fazer a defesa do
indefensável. Com esse tipo de comportamento ele constrange seus próprios
aliados a chamar manifestantes de burros, que são professores universitários, a
massa intelectual do País".
Ela
fala ainda que a base mais próxima de Bolsonaro não terá forças para articular
com a base aliada de políticos experientes "que certamente pretendem se
reeleger".
Questionados
sobre a possibilidade de as manifestações impactarem alguma mudança nas
decisões do Governo, os pesquisadores afirmaram que, devido às instabilidades,
não há como prever um passo seguinte.
O
governo foi alvo, ontem, dos primeiros grandes protestos de rua. Manifestações
foram registradas em cerca de 240 cidades do País contra bloqueio de recursos
no orçamento da Educação ganharam um contorno mais amplo de críticas à atual
gestão. O movimento preocupou o Palácio do Planalto, pela avaliação de que as
passeatas, em princípio convocadas contra o ministro da Educação, se
transformaram em atos de peso contra o governo.
Os
maiores eventos aconteceram na Avenida Paulista, em São Paulo, e na região
central do Rio. Centrais sindicais deram suporte para as manifestações. O
presidente da República em exercício, Hamilton Mourão, avaliou que houve
"exploração política" das manifestações.
Com
informações portal O Povo Online
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