Jovens do Treinamento de Liderança Cristã foram confundidos com apoiadores de Bolsonaro (Foto: Divulgação) |
É
o esforço de atender compromissos assumidos em campanha, sim, que levou o
presidente Jair Bolsonaro na semana passada à assinatura de um decreto que
estabelece uma espécie de liberou geral em termos da compra e do porte de armas
no Brasil. Portanto, quem votou nele e agora se queixa da situação está jogando
para plateia ou se insere naquele grupo que apoiou o então candidato
acreditando que ele não seria capaz de fazer aquilo que prometia em palanque,
especialmente nos pontos mais agressivos da parte bélica de seu discurso.
Gente
"ingênua", com todas as aspas que esta qualificação exige no caso. A
única coisa que ninguém pode dizer é que não sabia que poderia acontecer o que
está se materializando a cada ocasião em que Bolsonaro aciona a simpática
caneta Bic que carrega consigo para apor sua assinatura em algum papel timbrado.
No
mundo político local, quem mais chama atenção nesse aspecto, do silêncio, é o
senador Luis Eduardo Girão, do Podemos. Um pacifista convicto, um inimigo das
armas, um defensor da vida em qualquer perspectiva, ao ponto de ter ganho
notoriedade pública, antes mesmo de obter o mandato eletivo que hoje exerce,
como líder de organizado e articulado movimento que se vinculava a grandes
ações contra o aborto e pelo desarmamento, falando-se apenas das duas faixas
nas quais assumiu maior protagonismo.
Um propagador notório e entusiasmado da
paz e da não violência que opta por se manter distante do debate, abrindo mão
de um papel que a posição que hoje ocupa lhe garante. Em alguns aspectos, até
exige.
Senador
da República, com uma tribuna à disposição para fazer sua defesa enfática da
distância das armas como a melhor estratégia de combate à violência que grassa
entre nós, Girão nada disse até agora. De público, pelo menos.
Enquanto a
oposição se manifesta contra e vai à justiça, nomes importantes da bancada
evangélica (base importante de apoio ao governo Bolsonaro) já disseram que não
apoiam e se movimentam para desfazer a ação, especialistas apontam todas as
inconveniências do caminho que se tenta adotar, o cearense Luis Eduardo Girão,
com todo o envolvimento que tem com o tema, histórico, permanece silente.
Na
última sexta-feira, dia em que Brasília esvazia e a tribuna do Senado costuma
ficar à disposição dos poucos parlamentares que permanecem na cidade e na Casa,
o representante cearense do Podemos foi ao espaço e o ocupou por longo tempo.
A
discussão sobre o tal decreto já no mundo com grande destaque, com as
assessorias jurídicas das duas Casas do Congresso apontando sérios problemas
técnicos, ministra da STF dando cinco dias para o governo explicar a história,
tudo isso acontecendo e Girão lá, firme e indignado nos seus ataques
ao...Supremo Tribunal Federal.
Até cabem as críticas dele, centradas na
escandalosa licitação para compra de lagostas, vinhos e uísques para as
recepções que acontecerem na mais alta Corte do País, mas, naquele dia? Naquele
momento?
O
debate do decreto das armas, que está na ordem do dia da política, pede que
todas as vozes aptas a contribuir se envolvam nele com toda a disposição e a
força de que dispuserem.
O ativista Luis Eduardo Girão teria razões para estar
decepcionado com o senador Luis Eduardo Girão, fossem eles duas pessoas
diferentes, caso o visse calado diante do que está acontecendo. Especialmente
por saber que ele teria muito a contribuir, até pelo estilo pessoal, na construção
de uma discussão mais serena, coisa muito difícil no Brasil de hoje e quase
impossível diante da temática específica.
A coluna até buscou a assessoria de
Girão para saber de sua opinião e de sua movimentação (caso exista) no sentido
de marcar posicionamento no debate. Até o momento em que este texto caminha
para o ponto final, sem resposta.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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