Jair Bolsonaro e seu filho Carlos nas redes sociais (Foto: Divulgação) |
O
Congresso desistiu de Jair Bolsonaro. O movimento deus sinais logo na
quarta-feira, diante da constrangedora visita do ministro Abraham Weintraub
(Educação) à Câmara, e ficou escancarado já na sexta-feira, quando líderes do
Centrão começaram a falar abertamente em uma agenda paralela de reformas no
Legislativo. Para além das muitas trapalhadas e crises internas que acompanham
o governo desde o berço, pesou na "virada de chave" a volta dos
protestos e o perigoso avanço da investigação contra Flávio Bolsonaro sobre o
pai.
Mais
do que bravatas sobre combate ao comunismo ou pitacos sobre a eleição da
Argentina, lideranças se preocupam com prognósticos negativos da economia, hoje
em risco de uma nova recessão muito em função da inércia do Planalto. Diante do
"fundo do poço" (como classificou o próprio Paulo Guedes), o que se
esperava era que o presidente gastasse menos tempo com guerrilhas ideológicas
via Twitter e se empenhasse na conciliação com o Congresso para a aprovação das
reformas. Na última sexta-feira, Bolsonaro atropelou qualquer esperança disso.
Sem
assinatura e com título escandaloso em caixa alta, "textão do zap"
compartilhado pela maior autoridade do País sepultou qualquer possibilidade de
diálogo. Ao compartilhar o texto, Bolsonaro assinou embaixo visão
conspiracionista de que o País existe "para atender aos interesses de
corporações". De uma só vez, a peça ataca o Congresso, o STF, servidores
públicos e até "ana(lfabe)listas políticos".
Sobre questionamentos do Congresso à reforma administrativa, diz: "Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos".
Sobre questionamentos do Congresso à reforma administrativa, diz: "Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos".
No
final do texto, o autor ainda deixa a recomendação "sell" (vendam, do
inglês), como se orientasse investidores a apostar contra a economia do Brasil.
Convido, então, o leitor a abandonar qualquer ideologia e se questionar apenas
racionalmente: Com esse tipo de avaliação do presidente, por que cargas d'água
algum congressista não convertido ao governo mudaria de ideia agora? Sem uma
reestruturação total de toda a articulação política, é praticamente impensável
hoje que o governo consiga aprovar qualquer projeto de seu interesse. Uma
situação que muito lembra a reta final do governo Dilma Rousseff (PT).
Se
há alguém satisfeito com a nova crise criada pelo Planalto, talvez só a massa
mais radicalizada de seus seguidores, que nem de longe oferece suporte para a
manutenção da gestão. Apelando para o popular, Bolsonaro quis ser Jânio. E pode
acabar que nem ele, caso manifestações convocadas em defesa do presidente não
vinguem.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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