Desde
quando apresentou o Projeto de Lei 882, ainda no dia 4 de fevereiro, o ministro
da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, empreende esforços para que a
matéria não emperre na Câmara dos Deputados. Contudo, trabalhar em prol do
Pacote Anticrime, como ele próprio intitulou, tem sido tarefa dificultosa.
Além
da polêmica que recai sobre a consistência ou não do texto, a reforma da
Previdência, hoje tramitando na Comissão Especial da Câmara dos Deputados,
domina a pauta política do País, tirando os holofotes da matéria de segurança
pública.
De
lá para cá, no esforço de levar adiante a proposta, Moro tem investido em
várias frentes. Para facilitar a tramitação e garantir a aprovação de parte da
ideia - caso o sucesso não seja inteiro -, ele a repartiu em três.
Nesta
separação, inclusive, isolou o crime de caixa 2 dos demais textos, já visando
agradar classe política. No dia 19 de fevereiro, sustentou que a prática não
tem a mesma gravidade que corrupção, contrariando afirmação anterior dele próprio,
proferida dois anos antes, na Universidade Harvard. "Corrupção para
financiamento de campanha é pior que para o enriquecimento ilícito",
disse, na época, aos universitários.
Há,
ainda, o problema relacionado à contestação de juristas, especialistas em
segurança pública e opositores de Jair Bolsonaro (PSL). Para fazer frente, o
ministro tem se mexido. Criou conta no Twitter para defender publicamente seu
pacote, por exemplo. "Medidas simples, mas eficazes", costuma
escrever.
Também
tem ido na direção de deputados ressaltar a constitucionalidade da proposta.
Última quarta-feira, inclusive, durante audiência pública na Comissão de
Segurança da Câmara, submeteu-se a sabatina. "Claramente ele é um pacote
hegemonicamente penal. Não é um pacote com a amplitude e profundidade de debate
sobre segurança pública", ouviu Moro de Marcelo Freixo (Psol-RJ), um dos
mais enfáticos na audiência.
"Tem
medidas ali que são eficazes em relação a toda criminalidade. O próprio Banco
Nacional de Perfis Genéticos, para saber quem esteve aonde. (...) É um projeto
consistente, inclusive, quanto a milícias. Eu gostaria de contar, realmente,
com seu apoio", ouviu Freixo de Moro.
No
dia seguinte, em movimento articulado entre a oposição e o centrão, durante
votação na comissão mista do Congresso, o Ministério da Justiça e Segurança
Pública perdeu o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para a
pasta da Economia, sob alçada de outro "superministro" de Bolsonaro,
Paulo Guedes.
Moro
minimizou a própria derrota. "Nunca fiz da permanência dele (Coaf) no MJSP
(sua pasta) uma questão pessoal", escreveu no Twitter. E também lamentou:
"defendi a medida (permanência) para fortalecer o combate à corrupção, a
lavagem de dinheiro, ao crime organizado e ao financiamento ao terrorismo. Já
expliquei antes a relevância da permanência". A decisão ainda pode ser
revertida em plenário.
Moro
deixou oficialmente a magistratura em 16 de novembro do ano passado. O ex-juiz
federal, que se tornou conhecido no País e no mundo na operação Lava Jato,
então, caminhou em direção à Esplanada dos Ministérios com a imagem de ícone
consolidada para parte expressiva dos brasileiros, sobretudo para o eleitorado
do presidente Bolsonaro.
Contudo,
a promessa de autonomia integral para tocar o Ministério ainda não se
materializou em sua rotina. Acostumado à frieza e ao tecnicismo expressos nas
sentenças judiciais, Moro ainda vai se moldando às inconstâncias da vida
política.
"Tenho
refletido que Moro, alçado à condição de superministro, nada mais foi do que um
lastro simbólico para Bolsonaro", avalia o cientista político da
Universidade de Mackenzie (SP), Rodrigo Prando. Ele entende que, se Moro não
conhece os melindres da política partidária, deveria ser protegido por
governistas que os conhecem. Mas tem se virado como pode, diz o estudioso.
"É difícil a classe política engolir (Moro), principalmente porque ele
colocou poderosos na cadeia. No fundo, imagino que a aceitação ao ministério
pode ter sido pedágio para entrar no STF", conclui.
Publicado originalmente no portal O Povo Online com foto de Marcelo Camargo/Agência Brasil
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