Às
vésperas de completar 100 dias de governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL)
mexeu novamente no time palaciano: sai Ricardo Vélez Rodríguez, 75 anos,
filósofo colombiano inábil que se notabilizou por caneladas à frente do
Ministério da Educação (MEC), pasta cujo orçamento anual supera a casa dos R$
100 bilhões.
Em
seu lugar, entra o brasileiro Abraham Weintraub, economista especializado em
seguridade social e lotado até então na Secretaria-Executiva da Casa Civil,
onde ajudou a formular a reforma da Previdência, mas inexperiente no campo da
educação - área que estará sob sua batuta a partir de agora.
Anunciada
por Bolsonaro na sexta-feira passada em meio às sucessivas brigas e
interrupções de programas no MEC, a dança das cadeiras tem duas consequências
diretas, segundo especialistas ouvidos pelo O POVO: o fortalecimento do núcleo
ligado ao ideólogo Olavo de Carvalho e a ampliação dos atritos com a ala
militar, que hoje controla uma boa fatia da Esplanada.
Professor
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o cientista social Rodrigo Prando
avalia que o fim das disputas entre os dois grupos no ministério depende da
agenda que Weintraub efetivamente estabelecer como prioritária: ideológica ou
técnica.
"Se
o novo ministro insistir nessa bobagem de marxismo cultural, questão de gênero
e tudo o mais", afirma o estudioso, "aí ele vai derrapar na mesma
lama em que derrapou o outro".
Para
o pesquisador, os desafios do sucessor de Vélez estão relacionados sobretudo às
"provas que avaliam os alunos brasileiros", entre as quais está o
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Além
disso, Prando cita os mecanismos de financiamento estudantil e a
"classificação do Brasil" por entidades internacionais que aferem a
qualidade do ensino. "Se ele pensar isso, talvez seja um bom
ministro", afirma.
Questionado
sobre as chances de que o substituto seja bem-sucedido ante esses obstáculos, o
analista brinca: "Ser pior do que o Vélez é difícil, mas o Brasil é
insuperável em conseguir superar o que já é ruim. São três meses em que o MEC
está praticamente parado".
Também
cientista social, Uribam Xavier admite que esperava "um perfil técnico
para o MEC" e que a opção por Weintraub mostra que "a velha política
permanece" no Governo, apenas com nova roupagem. "O que estamos vendo
é o ministério paralisado, trazendo prejuízos imensos para a população",
disse.
Sobre
a permanência dos desentendimentos entre olavistas e militares, que travam uma
queda de braço no Executivo desde o início da gestão Bolsonaro, Xavier acredita
que "os militares podem se acalmar se o ministro conseguir dar um mínimo
de comando à pasta".
O
professor adverte, porém, que os fardados constituem hoje grupo muito
organizado no Planalto e que, caso se repitam os erros de Vélez na condução da
pasta (o ex-ministro demitiu aliados de Olavo e causou polêmicas com
declarações infelizes), devem criar dificuldades para Weintraub.
Pesquisador
da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas diz que a entrada de
mais um nome ligado ao olavismo "reforça a condução do Governo" pelo
guru dos Bolsonaro. "Eu não sei se essa troca de Vélez por Weintraub foi
seis por meia dúzia", calcula. "O novo ministro me parece um nome com
afinco ideológico maior que o Vélez."
De
acordo com Freitas, porém, é impossível antecipar o cenário. "Há vários
cargos no MEC em aberto, e esses cargos vagos foram fruto da passagem do Vélez.
Há um longo trabalho a ser feito."
Deputado
federal pelo Ceará e presidente do PSL no Estado, Heitor Freire defende a
escolha do novo titular do MEC. "Com a entrada do professor Abraham
Weintraub, muito conhecido no meio universitário, a minha expectativa é que a
pasta ganhe novo fôlego para trazer de volta o formato tradicional de educação,
priorizando o conhecimento científico nas escolas brasileiras", projetou.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.