Os principais auxiliares de Bolsonaro mais produziram bagunças administrativas e despautérios verbais que apresentaram projetos (Foto: Reprodução) |
Desde
que o governo Bolsonaro começou, toda semana o ministro da Educação, Ricardo
Vélez Rodriguez, demite alguém. Em 14 semanas, Vélez já trocou pelo menos 13
pessoas nos cargos de alto escalão. Em um país que se esforça para reduzir
gastos, a alta rotatividade na Educação já gerou um custo de R$ 180 mil em
pagamentos para secretários que se deslocam a Brasília para serem defenestrados
logo em seguida. Vélez é a mais vistosa ave da ala de ministros exóticos do
governo Bolsonaro. Uma equipe que tem se esmerado em provocar constrangimentos
e trapalhadas.
No
discurso anterior à posse, a promessa de Bolsonaro era formar um ministério
enxuto, com apenas 15 pastas, eficiente e eminentemente técnico. De saída,
quebrou-se a regra de austeridade: o governo chegou a 22 ministérios. Em alguns
casos, porém, o perfil foi atingido. O ministro da Economia, Paulo Guedes, é o
melhor exemplo, assim como o da Justiça, Sergio Moro. Também é assim com o
ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas. Mas, em outras áreas,
especialmente aquelas em que prevaleceu a indicação do astrólogo Olavo de
Carvalho, os escolhidos beiram o bufo. Além de Vélez, há Ernesto Araújo, nas
Relações Exteriores, versando a constrangedora defesa de que o nazismo de Adolf
Hitler foi um movimento de esquerda, apenas porque o partido do déspota se
chamava Nacional Socialista. E tem também Damares Alves, que assumiu o
Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, emitindo várias opiniões
desvairadas, como aquela em que “meninos vestem azul e meninas vestem rosa”.
No
final da semana passada, havia informações concretas de que Vélez se tornaria o
segundo ministro demitido por Bolsonaro, depois da saída de Gustavo Bebianno da
Secretaria de Governo. Há quem diga que a demissão só não se concretizou porque
vazou para a imprensa, e Bolsonaro, então, desistiu para não passar a ideia de
que estava sendo pautado pelos jornalistas. Desde a primeira semana, Vélez
coleciona problemas. Um dia depois de tomar posse, ele fez mudanças no Programa
Nacional do Livro Didático autorizando no decreto que os livros tivessem
publicidade. Diante da repercussão, disse que a portaria tinha sido publicada
por engano e a anulou. Depois, determinou às escolas que exigissem que as
crianças cantassem o Hino Nacional e que elas fossem filmadas na ação
patriótica. Novo recuo de Vélez. Mais tarde, suspendeu a determinação de
mudanças no Sistema de Avaliação da Educação Básica. O problema é que as
decisões de retroceder não provocavam apenas constrangimentos. Até hoje o
Ministério não definiu a compra de livros didáticos.
Não
foi ditadura?
E
Vélez insiste no exotismo ao querer, agora, fazer nova alteração para que os
livros reescrevam a História e digam que em 1964 não houve golpe militar no
Brasil, nem ditadura. Um esforço patético de alterar os fatos que parecem uma
tradução mal feita do Ministério da Verdade – que só propagava mentiras – do
romance 1984 de George Orwell. Até os ministros militares, como o secretário de
Governo, general Santos Cruz, admitem que o regime militar foi uma ditadura.
De
saída, a regra de austeridade foi quebrada: a promessa era ficar com 15
ministérios. Chegou a 22 pastas
Outro
exemplo constrangedor vem do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Sua orientação extremamente ideológica para o ministério provoca arrepios não
somente no Itamaraty, como em outros órgãos. ISTOÉ apurou que setores do
governo ligados à área econômica já trabalham fortemente nos bastidores contra
ele, diante dos riscos que sua atuação representa para os negócios brasileiros.
Araújo tem desestimulado o prosseguimento de relações com países não alinhados
com o presidente dos EUA, Donald Trump.
No
dia 13 de maio, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, irá à China. A
viagem também terá entre outros objetivos a tarefa de consertar danos da
condução ideológica de Araújo. A China é o principal parceiro comercial do
Brasil e está preocupada ao ver a possibilidade da condução de política externa
preterir seus interesses. A ministra tentará preservar os negócios chineses no
setor agropecuário.
Menos
danosa e mais folclórica é a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos,
Damares Alves. Para muitos, ela cumpre o papel de falar para os setores mais
radicais do bolsonarismo. Assim, investe, entre outras coisas, na cor da roupa
de meninos e meninas. Quando atuava como pastora, Damares chegou a criticar a
teoria da evolução e a insinuar a existência de hoteis fazendas onde as pessoas
iriam para fazer sexo com animais. No ministério, Damares faz a polêmica defesa
do ensino domiciliar, no qual as crianças não precisam ir à escola e são
educadas pelos pais. Ao defender o projeto, ela não poderia a essa altura ter
escolhido exemplo pior. Disse que Vélez Rodrigues, seu parceiro na ala
folclórica, teve educação domiciliar. E se notabilizou ao dizer que educar uma
filha no Brasil era difícil, recomendando aos pais que fugissem do país para
criar as meninas.
Já
ministros como Marcelo Álvaro Antônio, do Turismo, não só colocaram o governo
em maus lençóis, como também arranharam a imagem de honestidade da nova gestão.
No começo de fevereiro, foi acusado de patrocinar campanhas de quatro mulheres
a deputadas federais em Minas Gerais, que não tinham condições de se eleger, só
para desviar os R$ 279 mil que o PSL mineiro lhes destinou do fundo público
eleitoral. O ministro, que pediu para ter foro privilegiado, continua sendo
investigado pela Justiça de Minas. Assim, Bolsonaro mostrou ter dois pesos e
duas medidas. Demitiu o ministro Gustavo Bebianno da Secretaria de Governo por
suspeitas no laranjal de Pernambuco e manteve Álvaro Antonio no laranjal
mineiro.
Outro
ministro, Ricardo Salles, do Meio Ambiente, também se destacou negativamente.
Além de ter sido condenado em dezembro por improbidade administrativa quando
foi secretário do Meio Ambiente de São Paulo, o ministro cometeu uma heresia ao
menosprezar o líder ambientalista Chico Mendes, assassinado na Amazônia por sua
luta em defesa da floresta. “Quem é Chico Mendes? É irrelevante”. Na verdade,
foi o ministro quem não mostrou ter importância para o meio ambiente. Salles é
o suprassumo dos ministros trapalhões que, em apenas 100 dias, mais provocaram
confusões do que apresentaram projetos que mudassem a realidade do país.
O
causador de confusões
O
filósofo Olavo de Carvalho não é ministro, mas é o homem mais influente do
governo. Nomeou ministros, como Ricardo Vélez Rodriguez, da Educação, e Ernesto
Araújo, das Relações Exteriores, além do fato de que inúmeros técnicos
instalados no MEC, por exemplo, são alunos de seus cursos, dados pela Internet.
A especialidade de Olavo, inclusive, é navegar pelas mídias sociais. Ele não
abandona o Twitter por nada. Diariamente posta dezenas de comentários, a
maioria criticando a esquerda e xingando jornalistas brasileiros, ao mesmo
tempo em que aponta caminhos para a direita trilhar. Seus posts expõem
mensagens ofensivas, com palavras de baixo calão. Em 100 dias, criou crises
desnecessárias.
Publicado
originalmente no portal da Revista IstoÉ
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