É
bem cruel com o governo Bolsonaro a matemática da política, que hoje mantém
reduzidas as chances de ir adiante no Congresso a matéria que a voz oficial,
especialmente a que tem origem na área econômica, coloca na linha de prioridade
zero: a reforma da Previdência.
Usar a bancada cearense na Câmara Federal dá
uma ideia do tamanho do desafio colocado para quem está com a tarefa de
articular politicamente o avanço da proposta, porque dos 22 deputados que o
eleitor enviou para Brasília apenas um diz hoje, de peito aberto e sem exigir
mudanças, que votará pelo texto que o Executivo apresentou.
O nome dele é
Heitor Freire, do PSL, que deve o mandato, quase em 100 por cento do peso, ao
presidente Jair Bolsonaro, autorizado que foi a se apresentar como candidato
dele na campanha do ano passado, no auge de uma onda que varreu o País.
Pois
bem, à exceção do Heitor Freire já citado, nenhum outro deputado cearense se
diz claramente disposto, hoje, a dizer "sim" ao texto da reforma da
Previdência. Um problema que se justifica, em parte, pelo que o tema tem de
delicado politicamente, ao atingir interesses e expectativas de milhões de
pessoas, mas, de outra parte, a situação é atribuível a uma desarticulação no
governo federal que há tempos não se via acontecer.
A própria postura do presidente Bolsonaro ajuda na confusão, visto que ninguém consegue enxergá-lo como um entusiasta absoluto da proposta. No máximo, há manifestações soltas dele em favor da aprovação do texto pelo Congresso, a partir de uma argumentação bem rasa e pouco entusiasmada.
A própria postura do presidente Bolsonaro ajuda na confusão, visto que ninguém consegue enxergá-lo como um entusiasta absoluto da proposta. No máximo, há manifestações soltas dele em favor da aprovação do texto pelo Congresso, a partir de uma argumentação bem rasa e pouco entusiasmada.
A
verdade é que o novo governo chegou anunciando-se diferente na política,
disposto a ignorar práticas históricas que pareciam envelhecidas, sem, ao mesmo
tempo, desenvolver uma ideia nova para substituir o que havia antes. Este vácuo
determina as dificuldades enfrentadas já na Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) da Câmara, onde o mérito do que é proposto quase nunca vai à discussão e,
num cenário de normalidade, mesmo projetos polêmicos costumam passar à fase
seguinte sem maiores dificuldades. Especialmente considerando-se o fato de o
atual governo estar apenas começando e ainda deter um altíssimo crédito com a
sociedade.
A
"inexperiência" de que falou outro dia o ministro Paulo Guedes, da
Economia, como justificativa para a caminhada lenta da matéria no Congresso, é
o preço a pagar pelas escolhas do próprio governo.
Foi em nome da tal necessidade de enfrentar o "velho" na política que o governo alçou à posição de principais líderes na Câmara dois parlamentares de primeiro mandato - os deputados Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Joice Hasselmann (PSL-SP) -, que estão sendo massacrados, em termos de estratégia política, pela experiente e esperta turma do Centrão. Bolsonaro resiste a fazer política e erra, como demonstra o moroso ritmo do percurso que experimenta o projeto que seu governo encaminhou ao Congresso.
A realidade impõe a ele que, desmontado o esquema instalado há anos e que realmente apontava sinais de estar apodrecido, algo deve ser construído em seu lugar para que o diálogo político aconteça. Não poderia mais ser na base do tomá-lá-dá-cá e outras formas espúrias de lidar com o poder e distribui-lo, é verdade, mas um novo modelo precisa surgir para restabelecer o fluxo de uma conversa que precisa existir para que as coisas aconteçam.
Foi em nome da tal necessidade de enfrentar o "velho" na política que o governo alçou à posição de principais líderes na Câmara dois parlamentares de primeiro mandato - os deputados Major Vitor Hugo (PSL-GO) e Joice Hasselmann (PSL-SP) -, que estão sendo massacrados, em termos de estratégia política, pela experiente e esperta turma do Centrão. Bolsonaro resiste a fazer política e erra, como demonstra o moroso ritmo do percurso que experimenta o projeto que seu governo encaminhou ao Congresso.
A realidade impõe a ele que, desmontado o esquema instalado há anos e que realmente apontava sinais de estar apodrecido, algo deve ser construído em seu lugar para que o diálogo político aconteça. Não poderia mais ser na base do tomá-lá-dá-cá e outras formas espúrias de lidar com o poder e distribui-lo, é verdade, mas um novo modelo precisa surgir para restabelecer o fluxo de uma conversa que precisa existir para que as coisas aconteçam.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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